20 de outubro de 2021
UNEP
Tradução Juli Anna
Desde a Revolução Verde dos anos 1950, algumas inovações na agricultura, como fertilizantes sintéticos, pesticidas químicos e cultivos de alto rendimento de cereais, criaram uma abundância de alimentos a baixo custo. Esse cenário ajudou a alimentar um mundo em rápido crescimento e, em poucos lugares, incentivou uma era de prosperidade econômica.
Mas os sistemas alimentares da humanidade comumente priorizam a quantidade no lugar da qualidade, dando origem a uma série de problemas de saúde e de preocupações ambientais, conforme dizem especialistas. Aproveitando o marco histórico da Cúpula dos Sistemas Alimentares das Nações Unidas, ocorrido no fim de setembro, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) listou 9 coisas que você precisa saber sobre o sistema alimentar global.
Os preços baixíssimos das comidas industrializadas de varejos podem mascarar os altos custos ambientais embutidos na etiqueta. De acordo com estimativas, a agricultura convencional – que produz gases de efeito estufa, polui ar e água e ainda destrói a vida silvestre – custa ao meio-ambiente aproximadamente 3 trilhões de dólares a cada ano. Custos externos, como os recursos necessários para purificar a água potável que foi contaminada ou para tratar doenças relacionadas à má alimentação, não entram na conta da indústria, fazendo com que comunidades e basicamente todos que pagam impostos acabem pagando essa conta sem nem perceber.
Enquanto a diversidade genética garante resistência de animais a doenças naturais, o cultivo intensivo de carne pode produzir similaridades genéticas dentro dos rebanhos. Isso faz com que os animais estejam mais suscetíveis a patógenos e, por eles serem mantidos em proximidade, os vírus podem se espalhar facilmente entre eles. O cultivo pecuário intensivo também serve como ponte para patógenos, permitindo que eles saltem de animais silvestres para animais domésticos e deles para humanos.
Desmatar florestas para abrir espaço para a agricultura e aproximar propriedades agrícolas dos centros urbanos pode destruir as barreiras que protegem humanos de vírus que circulam na vida silvestre. De acordo com uma avaliação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a mudança climática e o crescente aumento na demanda por proteína animal também podem estar afetando a emergência do que conhecemos como doenças zoonóticas – patógenos que podem ser transmitidos de animais para pessoas e vice-versa.
Além do uso como prevenção e tratamento de doenças, os antibióticos são comumente utilizados para acelerar o crescimento do gado. Ao longo do tempo, microorganismos desenvolvem resistência, fazendo com que antibióticos tenham sua eficácia reduzida enquanto remédio. Aproximadamente 700.000 pessoas morrem vítimas de bactérias resistentes por ano. Até 2050, essas doenças poderão causar mais mortes do que câncer. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a resistência antimicrobial “ameaça as conquistas da medicina moderna” e pode precipitar uma “era pós-antibiótico, na qual infecções comuns e pequenos ferimentos poderão ser letais”.
Grandes volumes de fertilizantes químicos e pesticidas são utilizados para aumentar a produtividade agrícola e os seres humanos podem estar sendo expostos a esses pesticidas potencialmente tóxicos através dos alimentos que consomem, resultando em efeitos adversos para a saúde. Foi comprovado que alguns pesticidas atuam como desreguladores endócrinos, potencialmente afetando funções reprodutivas, aumentando as chances de câncer de mama, causando padrões anormais de crescimento e atrasos de desenvolvimento em crianças, e alterando funções imunológicas.
A agricultura ocupa um papel enorme na poluição, despejando grandes volumes de esterco, químicos, antibióticos e hormônios de crescimento em recursos aquáticos. Isso põe em risco tanto os ecossistemas aquáticos quanto a saúde humana. Inclusive, um dos químicos contaminantes de uso mais comum na agricultura, o nitrato, pode causar “síndrome do bebe azul”, que pode matar crianças e bebês.
A agricultura industrial produz principalmente culturas de base, que são utilizadas numa grande variedade de alimentos de baixo custo, densos em calorias e amplamente disponíveis. Consequentemente, 60 por cento de toda a energia dietética é derivada de apenas três culturas de cereais – arroz, milho e trigo.
Embora tenha efetivamente diminuído a proporção de pessoas que sofrem de fome, esta abordagem baseada em calorias falha em satisfazer recomendações nutricionais como o consumo de frutas, vegetais e leguminosas. A popularidade de alimentos processados, embalados e preparados aumentou em praticamente todas as comunidades. Mundialmente, a obesidade também está crescendo e muitos sofrem de doenças evitáveis comumente associadas a dieta, como doenças cardíacas, infartos, diabetes e alguns tipos de câncer.
Apesar de uma oferta mundial insuficiente de leguminosas, frutas e legumes, a pecuária é cada vez mais omnipresente, perpetuando um ciclo auto-sustentável de oferta e procura. Entre 1970 e 2011, a produção pecuária aumentou de 7.3 bilhões para 24.2 bilhões de unidades mundialmente, com aproximadamente 60% de toda a terra agrícola disponível sendo usada para pastagem. Ao mesmo tempo, ainda que possa haver menos pessoas no mundo com problemas de fome, o número de pessoas com problemas de subnutrição aumentou.
Ainda que as pequenas propriedades agrícolas representem 72% da totalidade, elas ocupam apenas 8% de toda a terra disponível para agricultura. Em contraste a isso, as grandes fazendas – que contabilizam apenas 1% das propriedades mundiais – ocupam 65% da terra agrícola. Isso dá às grandes fazendas um controle desproporcional. Há pouco incentivo para desenvolver tecnologias que poderiam beneficiar os pequenos agricultores com menos recursos, especialmente aqueles em países em desenvolvimento.
Na outra ponta da cadeia de alimentos, a comida que é acessível aos menos favorecidos pode ser rica em calorias mas comumente é pobre em termos nutricionais. A deficiência de micronutrientes pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo, diminuir a resistência a doenças, aumentar os riscos durante o parto e, consequentemente, pode afetar a produtividade econômica. Os mais pobres são efetivamente mais desfavorecidos tanto como produtores quanto consumidores.
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