Nesta sexta-feira (6), a artista Valéria Pinheiro abre sua nova vernissage em Frederico Westphalen (RS), intitulada “Nostalgia”. Nas telas sobressaem-se cenários do êxodo rural, realidade muitas vezes cruel que demarca populações no território onde a artista está sediada e de onde irradia suas ações. Valéria, que faz parte do coletivo Artes Sem Fronteiras, já ressignificou com sua arte diferentes instâncias de êxodos mundo afora, pela primeira vez se volta para uma realidade que lhe é particularmente próxima, até mesmo familiar.
Todo êxodo é resultado de uma violência. Direta ou indiretamente, todo êxodo é forçado, induzido ou conduzido por um ato que de alguma forma viola vontades, desejos, vínculos, naturezas. Assim acontece com as populações obrigadas a caminhar em fuga por sobrevivência, fugindo dos conflitos, das guerras, das opressões, das perseguições, da fome. As pessoas podem se movimentar por receio, medo, desespero.
Assim é com as mulheres retidas no sistema prisional com que a artista trabalha em ações socioeducativas; ou com os povos indígenas que são diariamente desafiados a ressignificar seus territórios e suas próprias existências com as quais também podemos ver Valéria circulando em diferentes espaços e situações; ou ainda no continente africano, pintando esperanças novas em meio a comunidades abraçadas por este coletivo de artistas que se recusa a reconhecer as limitações territoriais da geopolítica.
A arte ressignifica as violências cotidianas de nossos dias. Não suaviza. Ao contrário. Eterniza. Fixa. Mantém ao alcance do vidro dos olhos através de uma nova narrativa visual as histórias que precisamos nos lembrar e se possível não repetir, as dores sentidas que precisam ser curadas, as cicatrizes que podem até ser sensivelmente tatuadas mas que permanecerão ali escrevendo as nuances de nossas histórias.
O olhar sensível, profundamente humano, de uma artista que está em pleno florescer do senso crítico a respeito do tema que está retratando pode ser observado nas imagens divulgadas previamente à abertura da vernissage.
Ali está a sensação de vínculo entre aqueles e aquelas que ao longo de gerações aprendem a manter uma relação de integração com a terra e a natureza ao ponto de muitas vezes ter a primeira como Mãe e a segunda como Irmã, em um nível que transcende a relação social e beira a espiritualidade.
Ali está também o choque do rompimento quando essa relação é desfeita de forma abrupta, quando o camponês e a camponesa deixam a terra violada pelos gigantes invasores que subvertem a lógica dos tempos com suas práticas de devastação, destroem a vida dos solos com seus monocultivos, violam a Mãe Terra com seus venenos, estupram a Irmã Natureza com suas lâminas.
Valéria nos fala com sua arte sobre a nostalgia de tempos atrás. Mas nos traz alerta para tempos atuais. Fala de amor para quem quiser ouvir. Grita denúncias importantes para quem tiver ouvidos.
“Nostalgia” é mais uma contribuição necessária desta mulher do mundo, artista reconhecida internacionalmente, e que preserva o brilho no olhar ao se apresentar como “filha de pequenos agricultores”, que junto de sua companheira está desde os últimos dois anos percorrendo o caminho de volta ao campo, como legítima representante de uma necessária nova geração camponesa. O trabalho de Valeria Pinheiro está nas redes sociais: @valeriapinheiroart ou @artesemfronteirasvp.
Serviço:
– O que? Vernissage “Nostalgia”, de Valéria Pinheiro
– Onde? Rua Vicente Dutra, 43, Frederico Westphalen – RS
– Quanto? Acesso gratuito
– Hora? 19h