5 de agosto de 2016
Um misto de aprendizado e ensinamento, de organização e construção coletiva, assim foi a realização da V Festa Camponesa da Via Campesina em Rondônia. A festa foi ocorreu entre os dias 29, 30 e 31 do mês de julho, na cidade de Ouro Preto do Oeste – RO, com o tema “Soberania Alimentar e Direito dos Camponeses”.
Mais de 300 pessoas de todos as regiões do Estado se fizeram presentes. A diversidade não ficou apenas nos produtos da feira, mas também na participação dos sujeitos, com a presença de atingidos por barragens, sem terras, camponeses, professores, estudantes e parceiros da Via Campesina.
Organizada de dois em dois anos, nesta edição a festa somou os esforços do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Comissão Pastoral da Terra (CPT), organizações que compõe a Via Campesina no estado.
Além da feira com alimentos saudáveis, artesanato, muitas histórias contadas de forma oral ou escritas, a programação do evento também contemplou o Seminário que trouxe para o debate a discussão do atual Modelo de Produção de Alimentos, a Agroecologia, a Agricultura Camponesa e a Reforma Agrária na Amazônia, além da discussão dos direitos dos camponeses na atual conjuntura política e econômica, traçando as possíveis saídas para os retrocessos que estão sendo efetivados, tendo na luta e organização do campo e da cidade uma de suas saídas.
A programação da festa ainda contemplou uma Exposição de Semente e a Feira no qual foram catalogadas mais de 200 variedades de sementes e mudas. No Café Camponês, que foi no dia 31 pela manhã e aberto ao público, “chegamos a ter mais de 56 variedades de comidas e bebidas, isso é resultado do trabalho que a gente faz de resistência, e que as famílias camponesas continuam cultivando hábitos alimentares e culinários, demostrando que estamos no caminho certo. Se temos essa diversidade toda exposta na festa e com certeza pode-se ter mais, só mostra que estamos no caminho certo e que nosso trabalho vale a pena”, afirma a camponesa e dirigente do MPA, Leila Meurer.
Teve ainda, “oficina de agitação e propaganda, teatro e peixe orgânico. Na noite de sábado um grande Forro Pé de Serra e no domingo, o grande dia com Café Camponês e muita variedade de alimentos, mais de 56”, desta o jovem camponês, referindo a feira que foi aberta ao público em geral. “Tive uma bela cozinha camponesa, onde grande parte da comida veio dos participantes da festa”, lembra Leila.
“A programação também contemplou a problemática que estamos enfrentando com relação a Educação e contraponto isso, nós tivemos durante o seminário e a festa, o espaço da Ciranda Infantil da Via Campesina, com a participação de mais de 40 crianças e pré-adolescentes onde foi desenvolvido várias atividades de diversão, mas também de formação, como algumas danças típicas, oficina de capoeira, oficina de colagem e artesanato a partir da natureza, enfim, jogos e brincadeiras que valorizem a vida no campo”, afirma a dirigente do MPA.
Está edição também foi marcada pela participação da juventude contribuindo desde a infraestrutura, animação e debates. Para a juventude a festa serviu de incentivo, de “estopim para que continuamos na luta e a permanecer no campo”, como descreve jovem camponês do MPA, Leomi Carmo. “Nós da juventude percebemos que não tem como deixar para amanhã esta luta contra o agronegócio e sim, agora é a hora, temos que aprende voando”, afirma Leomi.
A realização da V Festa Camponesa foi de suma uma importância para o Campesinato, pois nesta edição conseguiu-se dialogar com a sociedade e mostrar que o camponês é quem produz alimento para o povo, assim como, mostrar a contradição do Modelo do Agronegócio que só produz Monocultura.
“Nós costumamos dizer que a festa é o resultado do antes, todo trabalho que a gente faz na recuperação das sementes, na produção, organização das vendas em feiras, do trabalho com a produção orgânica, na transição para a agroecologia, no ensino de biofertilizantes e tudo mais, esse resultado a gente vê na festa por isso é o resultado de todo trabalho realizado antes”, destaca Leila.
A V Festa Camponesa da Via Campesina em Rondônia também tem seu marco político, “que foi de mostrar para toda sociedade de que a proposta que nós sustentamos por meio do Plano Camponês, fortalecido pelo Programa Camponês que seria uma política de Estado, mostram que a nossa proposta também está correta. Que se der condições para as famílias camponesas continuarem vivendo no campo e produzindo no campo com dignidade, com saúde, educação, além do crédito e as formas de distribuir e comercializar essa produção, recuperar as terras e tudo mais, isso mostra que estamos no caminho certo”, afirma a dirigente do MPA.
Temas debatidos no Seminário
O Seminário foi realizado no dia 29 com a presença de mais de 300 pessoas da base das organizações da Via, estudantes do IFRO, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e de escolas locais do município de Ouro Preto, com mais de 6 turmas, fruto do trabalho realizado anteriormente, dos convites nas escolas, na comunidade, que recebeu bem o convite e veio ouvir.
No Seminário debateu os grandes projetos que o Capital tem previsto para a Região Amazônica, seja na área do Agronegócio, Hidronegócio e do Minerionegócio, temas trabalhados pela companheira do MST, Ayada, lembra Leila. Os participantes reagiram bem ao tema debatido, entenderam de fato qual é o tamanho do projeto e o problema de sua instalação, bem como, suas consequências.
Ayada trabalhou os temas por meio da perspectiva histórica, como foi o processo de ocupação da Região Norte com o propósito de “abrir as fronteiras agrícolas”. Com o deslocamento dos camponeses que estavam em disputas de terras em outras regiões, para amenizar um pouco esses conflitos foram enviados para a região pelo próprio Estado brasileiro no final da década de 60, início de 70.
Ayada também destacou todo o serviço, como diz o próprio Sistema Capitalista, de desbravar a região, mas com muitos conflitos com quem já morava aqui. Tinha os seringueiros que foi de um ciclo anterior do que estes que estamos vivendo, teve o ciclo da borracha e o ciclo de madeira que foi muito forte por conta da construção de ferrovia Madeireira Mamoré no período da colonização, mas se intensificou com o período da migração na década de 70.
Todos estes temas foram trabalhados dentro da perspectiva histórica, dos projetos que foram es estão sendo pensados a longo prazo para expropriar, tirar os recursos naturais, “hoje somos as meninas dos olhos, por ter uma diversidade enormes de minérios”, afirma a dirigente do MPA. Sem esquecer que hoje a Região Amazônica tem mais de 23 mil concessões de exploração de minério, mostrando o desafio que é para as organizações este próximo período na luta e resistência, com o problema da mineração.
Debateu-se ainda, sobre a Identidade do Sistema Camponês de Produção, as formas de reagir e organizar a produção, não só para continuar vivendo no campo, mas também para colocar em prática a nossa proposta que se opões ao Agronegócio tem que é o Monocultivo, de exploração dos recursos naturais e o acumulo de riquezas e terras, que foi trabalhada pelo companheiro do MPA, Luiz Carlos, lembra Leila.
Por sua vez, o professor Ricardo Gilson trouxe alguns dados da movimentação interna de Rondônia, com destaque para os últimos 10 anos, onde ouve uma migração muito intensa dentro do próprio Estado. Das pessoas que receberam terra do Estado na década de 70 e hoje estão migrando para novas regiões na fronteira com a Amazônia e a Bolívia. As consequências dessa migração dentro do estado de Rondônia, certamente poderão ser vistas nos próximos anos.
Por Comunicação MPA
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