18 de janeiro de 2022
Katia Marko
Brasil de Fato | Seberi (RS)
“Amor aqui está distante ou não existe. Diante da desgraça do homem sertanejo exilado do mundo social, alimentado por desejos e não sonho, ele deixa de ser. Não é possível sonhar onde a miséria não permite isso.”
O clássico romance Vidas Secas traz o olhar de Graciliano Ramos do sertão, no ano de 1938. O escritor narra as desgraças do sertanejo em meio à seca. Mais de oito décadas depois, o cenário é outro, mas o problema é o mesmo: a falta de água e a fome num horizonte pouco distante.
O Rio Grande do Sul vive a pior seca dos últimos 17 anos. Dados obtidos a partir de informações dos extensionistas rurais das 12 regiões administrativas da Emater/RS-Ascar, apontam que já são mais de oito mil localidades e mais de 207 mil propriedades atingidas pelos efeitos da estiagem no estado, além de cerca de 10,5 mil famílias com dificuldades ao acesso à água.
Sirlei Beatriz da Silva, José Eli da Silva e seus filhos são uma dessas famílias. Com 57 anos, Sirlei nasceu e se criou em Seberi. “Somos agricultores desde que nascemos. Moramos há 30 anos nessa propriedade na linha Progresso. Nós perdemos tudo. Estamos desesperados.”
Brasil de Fato RS – Segundo a Emater/RS essa é a pior seca do estado nos últimos 17 anos. Mais de cinco mil famílias de agricultores estão sem acesso à água até para uso nas casas. O município de Seberi decretou situação de emergência ainda no final de 2021. Qual a situação das chuvas na região?
Sirlei Beatriz da Silva – Foi muito pouca chuva que não foi suficiente para as coisas darem a volta por cima, tipo a pastagem. Foi bem abaixo na média.
BdFRS – Como a seca afetou a produção? Houve muitas perdas?
Sirlei – Houve muitas perdas… Perda total, como na horta, eu não tenho mais nada. A gente planta, coloca um pouco de água, não tem muita água para colocar. Mas o sol é muito forte, os dias muito grandes e acaba morrendo tudo. A gente sobrevivia da horta porque a gente vendia verdura todas as semanas e agora não tem nada. O que tem está murcho.
BdFRS – A produção foi toda atingida?
Sirlei – Toda a produção foi atingida, como eu mostrei no vídeo (abaixo). Você viu o milho, você viu as árvores, você viu a pastagem que secou, foi toda atingida.
O milho chega a estar como uma cebola, não tem mais o que fazer, porque para fazer uma silagem não dá, vai fazer uma silagem só da palha? Que silagem vai dar? Vai dar uma silagem muito pobre, não tem grão para sustentar o animal. Não tem o que fazer…
A seca foi prolongada e acabou com a nossa produção. Se chovesse agora em seguida daria tempo de plantar mais milho, alguma coisa para ter, porque não sei o que o gado vai comer no inverno. A gente já está se preocupando até para o inverno porque aí não vai ter nada que o gado coma.
BdFRS – Além de prejuízos na produção, há escassez de água para consumo da família?
Sirlei – Há sim, a gente tem água de poço artesiano, é um monte de família, então a gente tem que trazer a água meio racionada só para o necessário para não ficar sem a água, para não deixar as outras famílias sem e sofrer sem a água.
BdFRS – Nesta segunda-feira (10), o governador recebeu a Frente Parlamentar da Agropecuária Gaúcha, que lhe apresentou uma pauta de reivindicações. Eduardo Leite se comprometeu em atender parte das demandas. Entre elas a anistia dos programas Troca-Troca Milho para agricultores de municípios com decreto de emergência homologado e a priorização de liberação de recursos do Programa Avançar Desenvolvimento Rural. Também aceitou a proposta de criação de um comitê permanente para acompanhar a questão da estiagem e de ser o intermediário com o governo federal. Essas medidas bastam para amenizar os problemas da seca?
Sirlei – A gente acha que o governo deveria auxiliar os agricultores com dinheiro para poder os pequenos agricultores se manter na lavoura. Porque se não vier dinheiro do fundo perdido para os agricultores se manter na roça, não tem como sobreviver na lavoura do jeito que está, porque está tudo seco, não tem nada verde.
BdFRS – A seca deve elevar o preço dos alimentos ao consumidor? Pode ser um fator de aumento da fome?
Sirlei – Acho que por causa da seca vai sim aumentar o preço dos alimentos e vai ser um fator que vai agravar a fome das pessoas. Porque o preço das coisas já tá caro e se subir mais aí ninguém mais vai poder sobreviver. Então por isso nós necessitamos uma ajuda do governo, porque não tem como, a agricultura não tem como sobreviver mais, faz anos que ela vem sofrendo e agora foi horrível, está horrível. Precisamos imediatamente de uma ajuda, uma ajuda para os colonos, agricultores, para eles sobreviverem e se manterem na roça. A situação é precária, os agricultores estão desesperados.
* Colaboração de Fabiana Reinholz
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