2 de junho de 2019
Participantes reforçaram o sistema agroecológico como alternativa para produção de alimentos, preservação do meio ambiente e manutenção da vida no planeta
A tarefa não é simples, ainda mais por se tratar de uma das regiões onde mais se aplicam venenos e outros insumos químicos tóxicos na agricultura no mundo. Mas as vozes que se somam propondo uma nova postura e adotando a agroecologia como alternativa para a produção de alimentos saudáveis para todos – independente de classe social – puderam mais uma vez se notar reforçadas no norte/noroeste do RS na última sexta-feira, 31/06.
Integrando a programação dos 60 anos do município de Seberi, a Cooperbio – cooperativa camponesa composta por agricultores e agricultoras da base do Movimento dos Pequenos Agricultores/MPA -, em parceria com o MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – promoveram o I Seminário Regional de Agricultura e Alimentação Orgânica. A atividade ainda esteve integrada às ações da 15ª edição da campanha nacional “Produto Orgânico – melhor para a vida”, realizada anualmente na última semana de maio e que trouxe em 2019 o tema “Qualidade e saúde: do plantio ao prato”.
Autoridades reconhecem a importância do tema
Contando com a participação de aproximadamente 60 pessoas, vindas de 15 municipios da região, bem como representantes de pelo menos quatro estados e dois países vizinhos recebeu também o reconhecimento institucional da prefeitura municipal de Seberi e da Assembléia Legislativa, respectivamente representados pelo prefeito Cleiton Bonadiman e pelo deputado estadual Edegar Pretto.
Bonadiman reconheceu a importância de iniciativas como o seminário, bem como o trabalho desenvolvido pela Cooperbio e pelas famílias que integram o MPA, por assumir o protagonismo quanto ao tema da agricultura e alimentação saudável. “É sempre uma satisfação voltar aqui, ver como esse experimento dá frutos ao município e à região, saber que aqui temos pessoas que se preocupam com a alimentação saudável, que trabalham e se dedicam para provar para a comunidade que este é o melhor caminho”. A estrutura do centro de formação da Cooperbio foi citada pelo prefeito, reconhecendo a importância dos experimentos ali viabilizados e das atividades de formação em agroecologia que atraem pessoas interessadas com o tema dos quatro cantos do estado, do país e até mesmo de países estrangeiros.
Pretto relembrou os desafios que já passaram pelo Parlamento gaúcho, demarcando que há entre os deputados alguns que empenham seu apoio à agricultura e alimentação saudável, mas que por outro lado seguem muito fortes os representantes dos setores que balizam suas atividades na agressão à natureza, na utilização indiscriminada dos venenos e no lucro acima de tudo e de todos. “Não é justo que em nome do lucro e da ganância de alguns, todos nós e a natureza estejamos sujeitos aos efeitos arrasadores desses produtos e desse modo de produção que não respeita a vida”. Entre as ações em destaque na Assembleia o deputado relembra duas pautas de luta precisam ser expostas à população e apoiadas desde cada localidade para que de fato sigam em frente: proibir o uso e venda do veneno 2,4-D e proibição da pulverização aérea no RS.
A agroecologia é uma alternativa viável e necessária
O primeiro painel do dia foi apresentado por Agda Ikuta, Engenheira Agrônoma da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, que atuou na coordenação da equipe de elaboração do Plano Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica do RS – o primeiro do país. Apresentou dados dobre o tema, destacando o forte protagonismo da agricultura familiar e camponesa na produção de alimentos saudáveis, tanto para a própria subsistência e comercialização local, quanto para a garantia da soberania alimentar de modo que se alcance também as populações urbanas com alimentação acessível e de qualidade. “A necessidade de mudar esse sistema de produção convencional, que é o hegemônico hoje, precisa ser provocado, precisamos mostrar o que estamos fazendo”, explicou ao fim de sua fala, trazendo citações de personalidades que foram desde a agrônoma pioneira da agroecologia Ana Primavesi, até o Papa Francisco e sua encíclica Laudato Si’ “sobre os cuidados com a casa comum”.
Segundo painelista do evento, o Engenheiro Agrônomo César Alexandre Bourscheid, de Três Passos, dedicou-se a apresentar um olhar para os desafios que são enfrentados diariamente pelos adeptos da Agroecologia na região, espaço geográfico onde se acredita que sejam dispersos a maior quantidade de agrotóxicos por habitante no mundo. “Porque discutir agroecologia? Porque estamos aqui debatendo a agricultura e a alimentação orgânica? Porque nós chegamos a um limite trágico na questão do alimento. A verdade é que hoje nós não sabemos, não temos ideia nenhuma do que estamos comendo”, alertou logo no início da sua fala. Além da questão dos venenos e da manipulação genética, Bourscheid chamou atenção para a falta de cuidados com o solo e com a água, a devastação do meio ambiente e o crescimento populacional. A opção pela monocultura, praticada pelo modelo hegemônico atual, onde não se faz nem rotação e muito menos diversificação de culturas também foi criticada pelo agrônomo, destacando que o modelo exige cada vez mais doses maiores de insumos químicos e venenos. “A agroecologia é a resposta, é a única saída para a manutenção da vida, para garantir a oferta de alimento saudável e consolidar a ideia de soberania alimentar”, alinhavou.
O desafio da soberania alimentar, da produção ao consumo
– A pauta da produção de alimentos saudáveis deve ser prioritária, mas um ponto estratégico que deve manter nossa atenção sempre presente é a questão do acesso a esse alimento bom produzido principalmente pelos camponeses e camponesas no contexto da soberania alimentar -, comentou Débora Varoli, integrante da direção nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). “Nossa avaliação enquanto movimento é de que a indústria do alimento foi criando mecanismos para se blindar da mudança necessária para virar a pauta da soberania”, alertou a dirigente, citando mecanismos como a restrição de acesso dos camponeses ao mercado formal, dificuldade de acesso à terra e recursos naturais para produzir, dificuldade de acesso a crédito (recursos financeiros) que viabilizem o investimento e a melhoria das condições de trabalho e produtividade, bem como a deformação da memória alimentar que faz com que se substitua no imaginário coletivo a ideia de alimento pelos produtos processados.
– Hoje o acesso ao alimento agroecológico produzido pelos camponeses por parte dos trabalhadores urbanos é o grande desafio para que de fato nos estruturemos para virada necessária à consolidação de um novo modelo de agricultura”, explicou Débora, relembrando que na atualidade o sistema é perverso, “viabilizando alimento orgânico para os ricos, alimentos transgênicos e contaminados por agrotóxicos para os pobres e a fome para os miseráveis”.
Sobre campanha nacional
A campanha nacional “Produto Orgânico – melhor para a vida” tem como uma de seus principais objetivos informar ao consumidor sobre como reconhecer o produto orgânico nos locais de comercialização e estimular que ele participe no controle da qualidade orgânica, melhorando a relação de confiança com os produtores. Além de estimular gestores municipais e estaduais a ampliarem a compra de alimentos da agricultura familiar e orgânicos para a merenda escolar, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Apoio ao CPOrg/RS
Ao final do seminário todos os presentes somaram-se para registrar em foto a manifestação de apoio ao Comissão de Produção Orgânica do RS que encontra-se ameaçada depois que o Governo Federal editou o Decreto 9759/2019, extinguindo conselhos, colegiados e comissões. A CPOrg/RS está estruturada e atuante desde 2006, contando com representação paritária da sociedade civil e do poder público, através de agricultores, ONGs, Universidades, Institutos Federais, Emater, Secretarias de Estado, Embrapa, órgãos do Governo Federal e outras instituições, todas com relevantes ações neste segmento.
Marcos Antonio Corbari
BDF/RS – MPA – ICPJ – Rede Soberania
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |