21 de fevereiro de 2024
Bruna Távora
MPA Brasil
As sementes crioulas, cultivadas e selecionadas ao longo de gerações pelas famílias camponesas do Movimento dos Pequenos Agricultores, desempenham um papel muito importante na agroecologia. Adaptadas às condições específicas de cada território, as variedades tradicionais possuem características genéticas que permitem sua resiliência a diferentes ecossistemas.
Em meio aos desafios impostos pela expansão do agronegócio, a resistência local no Alto Sertão de Sergipe, na região semiárida do nordeste do Brasil, é um exemplo inspirador de como comunidades camponesas preservam a riqueza da diversidade agrícola em suas mãos.
Na perspectiva da agroecologia camponesa, que busca promover a produção de alimentos de forma ecológica, conservando os recursos naturais e valorizando as práticas dos povos, as sementes crioulas são fundamentais. Cada variedade carrega consigo a história e a memória de gerações camponesas que vêm contribuindo para a saúde dos ecossistemas agrícolas e da soberania alimentar no Brasil.
“Além disso, a guarda e multiplicação dessas sementes promovem a autonomia camponesa, permitindo que os agricultores decidam sobre suas práticas agrícolas sem depender do mercado, e diversificando a oferta e a biodiversidade de alimentos”, destacam Andressa Paiva e Thaís Santos, militantes do Movimento dos Pequenos Agricultores.
Na luta de classes do campo, o avanço do agronegócio impôs um processo de homogeneização genética e dependência das sementes comerciais. Lutando contra isso, o campesinato vem se apresentando com protagonista na preservação de variedades tradicionais adaptadas e resilientes às condições sertanejas.
Estratégias de Resistência: tecnologias sociais que conservam sementes
Entre os sujeitos políticos responsáveis pela salvaguarda das sementes, os Guardiões e Guardiãs de Sementes desempenham um papel fundamental. Eles promovem uma intensa troca de variedades e informações, o que possibilita a diversidade genética e a conservação da biodiversidade agrícola das sementes e dos alimentos.
Em razão do clima e da necessidade de convivência com a seca no sertão de Sergipe, uma das tecnologias sociais criadas para a preservação são as cisternas, que armazenam água das chuvas, e permitem a produção de alimentos e a salvaguarda das sementes.
“Associado à cultura do estoque e entendendo a necessidade de ter um espaço coletivo para armazenar as sementes, outra estratégia bastante disseminada são as casas comunitárias de sementes”, destacam Andressa e Thaís.
Também os Encontros de guardiãs e guardiões, realizados em parceria com outros movimentos sociais do campo e universidades, propiciam momentos de reflexão sobre desafios e estratégias do campesinato na promoção da biodiversidade e no enfrentamento ao agronegócio. As trocas na escala da comunidade se dão no campesinato a partir da relação de vizinhança, essa que é uma característica que evidencia a dimensão local da vida camponesa.
“Os Intercâmbios de sementes e saberes são fundamentais para fortalecer o patrimônio genético e a articulação comunitária do campesinato. Essas trocas, realizadas, contribuem não apenas para a diversidade de sementes, mas também para a disseminação do conhecimento entre os agricultores”, destacam.
O uso de tecnologias sociais, como cisternas, os intercâmbios, e Casas de Sementes são práticas tradicionais e, ao mesmo tempo, inovações camponesas. A apropriação dessas tecnologias favorece a preservação dos biomas e colabora com a construção de um futuro sustentável para a agroecologia em direção à soberania genética e alimentar dos povos. São contribuições fundamentais que o movimento camponês oferece ao enfrentamento das mudanças climáticas e à conservação da biodiversidade.
Troca de saberes no Congresso Brasileiro de Agroecologia: por uma ciência camponesa
Esse texto foi produzido a partir do resumo expandido técnico-científico apresentado no eixo temático Biodiversidade e Conhecimentos das/os Agricultoras/es, Povos e Comunidades Tradicionais no X Congresso Brasileiro de Agroecologia, que ocorreu em novembro de 2023 no Rio de Janeiro, e foi escrito pelas militantes e pesquisadoras Andressa de Paiva e Thais Moura dos Santos.
Acesse aqui o resumo completo publicado no X CBA.
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |