3 de outubro de 2025
Zé Camponês
O fascismo não é um fenômeno meramente político ou ideológico; ele é, antes de tudo, um projeto de poder que busca se enraizar na sociedade, encontrando terreno fértil em crises econômicas, medos sociais e na desesperança. Ele prospera na desigualdade, no controle da informação, na violência e na ruptura dos laços comunitários. Nesse contexto, a luta contra o fascismo não pode ser travada apenas nas urnas ou nas ruas, mas também no campo, na forma como nos relacionamos com a terra, com a comida e uns com os outros. É aqui que a agroecologia se ergue como um poderoso instrumento de resistência e construção de alternativas.
Para entender a resistência, é crucial entender o que se opõe. O projeto fascista moderno frequentemente encontra forte ressonância no modelo do agronegócio hegemônico, e essa aliança é baseada em pilares comuns:
Concentração de Poder e Riqueza: Ambos os modelos são centralizadores. O agronegócio concentra terra, sementes e cadeias de mercado nas mãos de poucos. O fascismo concentra poder político, militar e midiático. Um alimenta o outro.
Monocultura do Pensamento: A monocultura no campo (vastas áreas de uma única cultura, como soja ou milho) espelha a monocultura do pensamento exigida pelo fascismo: uma única narrativa, um único líder, a supressão da diversidade de ideias e críticas.
Violência e Destruição como Método: O agronegócio frequentemente avança com base em violência (grilagem de terras, conflitos com povos tradicionais) e destruição ambiental (desmatamento, envenenamento por agrotóxicos). O fascismo normaliza a violência como instrumento de controle político e social.
Negacionismo Científico: O lobby do agronegócio contra evidências científicas sobre os malefícios dos agrotóxicos e o impacto da devastação ambiental encontra eco no negacionismo fascista, que rejeita verdades inconvenientes, desde dados epidemiológicos até fatos históricos.
A transição agroecológica não é apenas uma mudança técnica (deixar de usar veneno); é uma transformação social, econômica e política. Seus princípios são diretamente opostos aos do fascismo:
Diversidade vs. Monocultura: A agroecologia celebra a diversidade: biodiversidade na roça (consórcios de plantas, agroflorestas), diversidade cultural (resgate de saberes tradicionais) e diversidade econômica (circuitos curtos de comercialização). Essa diversidade é um freio natural à homogeneização fascista.
Autonomia vs. Dependência: Ao valorizar sementes crioulas, insumos próprios e mercados locais, a agroecologia gera autonomia para comunidades e agricultores. O fascismo, por outro lado, depende da dependência da população a um Estado controlador e a cadeias globais de commodities que servem a poucos.
Cooperação vs. Hierarquia: A base da agroecologia é a cooperação: mutirões, associações, feiras cooperativas. Ela fortalece a sociedade civil e os laços comunitários. O fascismo se sustenta em hierarquias rígidas, obediência cega e na destruição de organizações populares autônomas.
Saúde e Vida vs. Morte e Veneno: A agroecologia produz comida saudável, cuida da água, do solo e da vida. É um projeto de saúde pública e ambiental. O fascismo, e o agronegócio que o apoia, florescem na lógica do veneno (literal e metafórico), da doença e da política de morte.
Portanto, cada horta comunitária, cada feira agroecológica, cada campanha contra os agrotóxicos, cada conquista de um mercado público para agricultores familiares é muito mais do que uma iniciativa econômica ou ambiental. É um ato político de construção de soberania.
Soberania Alimentar: É o direito de um povo definir suas próprias políticas agrícolas e alimentares. Um povo que controla sua comida é um povo menos vulnerável à manipulação e ao controle por oligopólios que frequentemente simpatizam com agendas autoritárias.
Educação Popular e Conscientização Política: A prática agroecológica é um processo educativo constante. Ela ensina sobre ecologia, justiça social e cidadania, formando indivíduos críticos e menos suscetíveis a discursos de ódio e simplificações perigosas.
Organização Popular: A luta pela terra e por modelos alternativos fortalece movimentos sociais, sindicatos e cooperativas, que são trincheiras essenciais da democracia e dos primeiros alvos de regimes fascistas.
O combate ao fascismo exige uma frente ampla, que vai da cultura à economia. A agroecologia oferece um caminho prático e tangível para construir uma sociedade mais resiliente, justa e democrática a partir da base. É uma resposta à fome, ao desemprego e à crise ecológica, problemas que o fascismo explora, mas nunca resolve.
Ao escolher apoiar um agricultor agroecológico, ao participar de uma comunidade que sustenta a agricultura, ao lutar por políticas públicas para a agricultura familiar e camponesa, estamos fazendo mais do que comprar comida. Estamos cultivando a democracia e colhendo liberdade. Estamos, ativamente, arrancando pelas raízes o terreno fértil no qual o fascismo pretende crescer. A transição agroecológica é, portanto, um dos mais urgentes e vitais projetos de resistência e reconstrução nacional.
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