MPA
Movimento dos Pequenos Agricultores
Movimento dos
Pequenos Agricultores
23 de agosto de 2023
O combate à fome depende de políticas públicas voltadas à permanência da juventude no campo; Mais de 1 milhão de jovens deixaram o campo na última década;
Mateus Quevedo
MPA Brasil | Brasília (DF)
O esvaziamento e o envelhecimento no campo é uma preocupação constante dos movimentos sociais camponeses. A falta de oportunidades para os jovens da agricultura camponesa familiar é um tema constante em debates sobre sucessão rural e a construção de uma nova geração camponesa.
É nítido o papel que a agricultura camponesa familiar tem para a garantia de produção de alimentos diversificados e que podem ajudar na construção de mais segurança alimentar para as famílias camponesas. Uma vez que no período em que as políticas públicas voltadas à produção de alimentos saudáveis desde as famílias camponesas foram enfraquecidas, mais da metade da população brasileira passou a ter algum tipo de insegurança alimentar.
E a juventude sente tudo isto. Para Daniel Souza, da coordenação do Coletivo Nacional de Juventude do Movimento dos Pequenos Agricultores, “para a juventude permanecer no campo precisamos elencar algumas coisas fundamentais, primeiro as condições para produzir na terra isso envolve acesso a crédito para a produção com possibilidade da Juventude das condições real de ter acesso a essas políticas públicas. Segundo garantia de compra dos produtos da agricultura camponesa”.
Para o jovem, as condições não param por aí, ele elenca uma diversidade de questões importantes para a permanência dos jovens, como acessibilidade aos territórios, estradas, tecnologias voltadas para a produção desde internet de qualidade até equipamentos agrícolas adaptados para pequenas propriedades.
“Também envolve outros fatores como habitação, precisa ter uma casa com as condições necessárias para Bem no campo, com acesso ao esporte, lazer, educação, trazer a universidade mais para perto da realidade camponesa, são coisas fundamentais”, acrescenta o jovem.
Os desafios da sucessão rural
Jovens de diversos movimentos sindicais e populares participaram de uma oficina de atualização do Plano Nacional de Sucessão Rural, plano que foi extinto por Bolsonaro, entre os dias 11 e 13 de agosto. Segundo o Ministério de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, que organizou a oficina, o objetivo foi de iniciar um “processo de construção de ações e políticas específicas para garantir a continuidade da produção familiar e, consequentemente, da oferta de alimentos saudáveis para a população brasileira”.
Para Daniel, que participou da oficina, “precisamos pensar numa política de uma bolsa permanência no campo, isso já é realidade na Europa por exemplo, essa bolsa permanência no campo vai possibilitando, também as condições para produzir”. Daniel também coloca a necessidade do acesso à terra por parte dos jovens, “uma Reforma Agrária Popular para ter acesso à terra com as condições para produzir e também os meios necessários para comercializar essa produção”.
“Precisamos desmentir essa retórica que um campo é um lugar de sofrimento, que é ruim, isso não é realidade, temos tecnologia de pequeno porte para produção camponesa então a juventude precisa, não só juventude, mas todos os camponeses precisam ter acesso a essa tecnologia para poder mexer com essas máquinas de pequeno porte e melhorar a produção, uma visão sistêmica agroecológica camponesa”, completa o jovem.
Durante a Marcha das Margaridas, o presidente Lula anunciou a redução na taxa de juros de 5% para 4% ao ano e aumento no limite de financiamento de R$ 20 mil para R$ 25 mil na Linha Pronaf Jovem e uma nova linha de crédito no Programa Nacional de Crédito Fundiário. Mas para o MPA, segundo Daniel, essas medidas são interessantes, mas ainda não resolvem ou conseguem chegar até mais quem precisa, os jovens das famílias camponesas ou até mesmo os jovens que já saíram do campo.