4 de março de 2021
Assessoria de Comunicação
MLB | Rio de Janeiro (RJ)
A rede de supermercados Mundial, uma das maiores do Rio de Janeiro, registrou boletim de ocorrência na 5ª Delegacia Policial, no centro da cidade, contra quatro manifestantes que participaram de protesto contra a fome e o aumento no preço dos alimentos em uma de suas lojas, na Rua Riachuelo, no último dia 17 de dezembro.
O ato foi organizado pelo MLB – Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas, que há mais de 15 anos promove ações semelhantes em todo o país às vésperas do natal para denunciar a existência de milhões de famílias famintas, enquanto as grandes empresas e meios de comunicação celebram hipocritamente o espírito natalino de fraternidade e solidariedade.
Os denunciados pelo Mundial por extorsão e associação criminosa são Juliete Pantoja, coordenadora do MLB no Rio de Janeiro, Giovanna Almeida, militante da UJR e do Movimento Negro Perifa Zumbi, Heron Barroso, que cobria a manifestação pelo jornal A Verdade, e Raphael Almeida, diretor da UEE-RJ. Todos estão sendo acompanhados pela Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ. O inquérito policial, que já foi concluído pelo delegado responsável sem nem ouvir os acusados, aguarda parecer do Ministério Público (MP-RJ).
Segundo os representantes do supermercado, os manifestantes entraram na loja “todos vestidos de camisas na cor vermelha, faixas e megafone ‘exigindo’ a entrega de 150 cestas básicas”. Omitiram, contudo, que, semanas antes, o próprio MLB havia entregue ao Mundial ofício solicitando a doação de cestas básicas para famílias sem-teto organizadas no movimento e que estavam em situação de extrema pobreza devido à crise e ao desemprego, aprofundados pela pandemia de Covid-19.
“A fome mata mais pessoas do que AIDS, malária e tuberculose juntas! No Brasil, segundo o IBGE, mais de 65 milhões de pessoas não se alimentam o suficiente para viver com saúde e qualidade. Por isso, o MLB promove todos os anos esses protestos. São ações pacíficas de repúdio à desigualdade social e à pobreza, que ficam mais escancaradas durante as festas de fim de ano. Mas, o Mundial está preferindo tratar a questão como um caso de polícia”, afirma Juliete, uma das acusadas.
Para o MLB, o objetivo do Supermercado Mundial com essa denúncia não é outro senão intimidar o movimento e criminalizar uma manifestação justa e necessária contra a escandalosa escalada no preço dos alimentos de primeira necessidade para as famílias mais pobres.
As acusações contra os quatro manifestantes são graves, apesar de mentirosas. Segundo o Código Penal brasileiro (art. 158), extorsão “é o ato de obrigar alguém a tomar um determinado comportamento, por meio de ameaça ou violência, com a intenção de obter vantagem econômica”. A pena é de quatro a dez anos de prisão, além de multa. Já associação criminosa (art. 288) consiste no fato de “associarem-se três ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes”, e tem pena de um a três anos de prisão.
Entretanto, os vídeos do protesto disponíveis nas redes sociais mostram claramente que nem os quatro acusados nem o MLB em momento algum obrigaram o Mundial, “por meio de ameaças ou violência”, a atender a reivindicação das cestas. “Ao contrário. Após duas horas de manifestação, a própria coordenação do movimento decidiu deixar o local da mesma forma que entrou, ou seja, pacificamente. Prova disso é que a polícia militar estava presente e não precisou intervir. É um absurdo caracterizar isso como um ato de extorsão”, protesta Juliete.
“A acusação de associação criminosa contra um movimento social como o MLB é tão absurda que só pode ser fruto da vontade dos representantes das elites econômicas que dominam a economia brasileira de intimidar, sufocar e criminalizar toda e qualquer manifestação de inconformismo ou protesto da classe trabalhadora e do povo pobre”, diz.
O Mundial é uma das maiores redes de supermercados do Rio de Janeiro. Possui 19 lojas espalhadas por toda a capital e uma em Niterói. Seus lucros bateram recordes com a pandemia devido ao aumento descontrolado dos preços dos alimentos.
Apesar disso, a rede é uma das investigadas na operação “Armadeira 2”, realizada no dia 18 de novembro do ano passado, pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal, para apurar a existência de um esquema que blindava os supermercados Mundial e Guanabara de fiscalizações pela Receita Federal. A Justiça Federal Criminal do Rio de Janeiro determinou o bloqueio de bens dos investigados em quase R$ 520 milhões.
Um verdadeiro escândalo, que deveria ocupar a primeira página dos jornais e repercutir nacionalmente, mas que vem sendo ocultado pela grande mídia, pois Mundial e Guanabara estão entre os dois maiores anunciantes comerciais dos jornais e TVs cariocas.
Enquanto gastam verdadeiras fortunas comprando o silêncio da imprensa com propagandas de suas “promoções”, os donos do Mundial se mostram assustadoramente avarentos quando o assunto é doar cestas básicas para famílias necessitadas ou oferecer melhores salários e condições de trabalho para seus funcionários.
Segundo o Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, o Mundial foi uma das primeiras empresas a pôr em prática as novas leis aprovadas com a Reforma Trabalhista. A rede cortou o pagamento adicional de 100% sobre as horas trabalhadas aos domingos e feriados, reduziu as horas-extras a que os funcionários tinham direito de duas para uma e reduziu, assim, o salário de muitos trabalhadores pela metade. Quem protestou foi demitido. Apenas depois de muita pressão da categoria e da ameaça de greve é que a empresa decidiu voltar a pagar o adicional para quem trabalhar aos domingos, mas manteve a suspensão do pagamento em feriados.
No início da pandemia, o Mundial chegou a se negar a fornecer álcool gel, máscaras e luvas aos funcionários que continuavam trabalhando e se expondo ao coronavírus. Foi preciso uma decisão da Justiça para que a rede disponibilizasse esses equipamentos de proteção e garantisse também a higienização das lojas e o controle de acesso de entrada e saída dos clientes.
Em resposta à tentativa de intimidação e criminalização do movimento, o MLB já está montando uma grande rede de solidariedade com outros movimentos sociais, sindicatos, entidades estudantis e de direitos humanos, parlamentares e com as comissões de Direitos Humanos da Câmara do Rio e da Assembleia Legislativa.
Segundo Juliete, é preciso fazer uma ampla denúncia desse absurdo que é qualificar a ação de um movimento social como crime. “Queremos não apenas que essa denúncia seja arquivada pelo MP-RJ, mas que se ponha fim de uma vez por todas em nosso país à criminalização da luta popular”, afirma a coordenadora do MLB no Rio de Janeiro.
Ajude a amplificar essa denúncia! Envie essa mensagem para seus contatos pelo WhatsApp, Facebook e outras redes, marque os Supermercados Mundial nas postagens (@supermercadosmundial) e vamos impedir que criminalizem a luta dos movimentos sociais em nosso país.
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |