16 de novembro de 2017
Grupo formado por jovens de Sergipe transformam luta em arte nos palcos.
“Cansei de ser domesticada, quero andar com os próprios pés. Organizar a rebeldia e assim deixar de ser refém”. Esses são os versos cantados pelas atrizes Clara Santos, de 12 anos, Leticia Rafael, 13, e Marcela Soares, 18, ao final da esquete “As Margaridas”, encenada por elas no “Encontro Mulheres do Semiárido”, realizado entre os dias 6 e 8 de novembro, em Natal (RN). No palco, com muita firmeza, as três meninas interpretaram doloridas histórias de mulheres e que sofrem diferentes tipos de violência, mas que organizadas e em luta superam as opressões.
“As Margaridas” é um dos textos do grupo teatral Raízes do Nordestinas, que reúne jovens das comunidades de Maranduba e Queimadas, da cidade de Poço Redondo, no Sertão de Sergipe. O grupo foi criado há 16 anos por jovens, filhos de camponeses e de agricultores e agricultoras familiares, como forma de denunciar as injustiças e violências.
“Nós do teatro temos o papel de quebrar essas correntes, essas barreiras e dar coragem para as mulheres denunciarem, de não sofrerem mais aquelas agressões, de que aquilo não é normal, nem apanhar todos os dias, nem sofrer nenhuma forma de violência. Temos sim que enfrentar todas elas e quebrar esse patriarcado, esse machismo que é imposto na nossa sociedade”, explica Marcela.
A esquete encenada no segundo dia do Encontro Mulheres do Semiárido tocou as 120 mulheres presentes, de vários estados da região, que se perceberam nas falas e cenas da apresentação. O encontro foi realizado pelo Centro Feminista 8 de Março e pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). “Esse encontro vai dar substância no sentido de caminharmos para a auto-organização enquanto mulheres do Semiárido brasileiro”, disse Glória Araújo, da coordenação da ASA.
O encontro se utilizou da arte como estratégia de mobilização em vários momentos, com música, poesia, cordel e teatro. “Para mim o teatro é vida. Nos dias de hoje, que temos um presidente como Temer, eu não desistiria da cultura, da luta. Temos que buscar nossos direitos e lutar sem perder a ternura. E o teatro é vida, é força e união”, afirmou Letícia Rafael.
O Grupo de Teatro Raízes Nordestinas integra uma das brigadas do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) de Sergipe, que utiliza o teatro como ferramenta pedagógica para a atuação política. “Faço parte do grupo de teatro há quatro anos. Eu tinha nove anos quando comecei. Era muito tímida, tinha vergonha de tudo e fui perdendo a timidez e interagindo. A experiência é muito acolhedora. Se um dia me dissessem que eu tinha que sair do teatro. Eu não iria querer”, conta Clara. Ela é uma das mais jovens atrizes do grupo, que conta também com uma sede e um teatro construído pelo grupo em Poço Redondo, o único teatro do Alto Sertão Sergipano.
O espaço é aberto para atividades da população da cidade, além dos cursos e formações oferecidas pelo Raízes Nordestinas. “Quando a gente fala da violência física, às vezes as pessoas não entendem o que é. Mas se eu chegar com as frases que o machismo e o patriarcado diz, talvez a pessoa entenda de que violência eu estou falando. Então ‘As Margaridas’ tenta um mostrar como no dia a dia existem diversos tipos de violência e de que você é capaz de superar. Então é inquietar, provocar e refletir sobre isso”, explica Euziane Rafael, integrante da coordenação pedagógica do grupo e uma das fundadoras do Raízes Nordestinas.
O encontro aconteceu durante três dias e reuniu mulheres de todos os estados do Semiárido brasileiro para promover a troca de conhecimentos e práticas das mulheres da região. Na noite do segundo dia foi realizada uma Feira Feminista, mostrando a diversidade de produção das mulheres. Produtos beneficiados com doces, pães, bolos, geleias, artesanatos, sementes e licores foi partilhada entre as participantes.
Por Catarina de Angola – Brasil de Fato
Edição: Monyse Ravena – Brasil de Fato
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