15 de julho de 2024
Por Paulo Miranda
Na terça, dia 9 de julho, a entrevista do jornalista Mateus Quevedo com o professor rendeu 40 minutos e 18 blocos de informações sobre agroecologia, alimentação, saúde e mudanças climáticas.
Quem é Sebastião Pinheiro – técnico agrícola pela Unesp – Jaboticabal/SP formado em 1967. Engenheiro agrônomo pela Universidad Nacional de La Plata (UNLP) graduado em 1973. Pós-graduado em Engenharia Florestal pela Escola Superior de Bosques pela UNLP, na Argentina, em 1975. Foi delegado brasileiro no Codex Alimentarius das Nações Unidas em Haia, na Holanda. Pós-graduado em Toxicologia, Poluição Alimentar e Meio Ambiente na Bundesanstalt für Getreide-, Kartoffel- und Fettforschung (BAGKF), Alemanha, em 1983. Investigou em Tucuruí o uso clandestino de herbicidas (Agente Blanco e Agente Laranja), em 1985. É autor e coautor de diversas publicações: “Agente Laranja em uma República de Banana”, “Biotecnologia: muito além da revolução verde” (por Henk Hobbleink, tradução e contribuição), “Agricultura Orgânica e Máfia dos Agrotóxicos no Brasil” (em parceria com Dioclecius Luz e Nasser Youssef Nasr); “Ladrões de natureza”; “Saúde no solo versus Agronegócios”. Traduziu de “Panes de Piedra” de Julius Hensel e “Húmus” de Selman Waksman. Em 1990, iniciou os trabalhos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na Pró-Reitoria de Extensão Universitária e posteriormente no Núcleo de Economia Alternativa da Faculdade de Ciências Econômicas. Ativista científico em agricultura saudável, cromatografia de Pfeiffer e agroecologia camponesa.
Acompanhe os principais blocos da entrevista:
BLOCO 1
Falando um pouco mais sobre o biopoder que as pessoas têm na mão e que transforma a energia do sol em alimentos saudáveis, a partir da nossa participação, da nossa participação com a natureza, então gostaria de saudar Mestre Tião, carinhosamente apelidado assim, que está aqui e aceitou o convite de estar conosco nessa tarde. Tudo bem com o Senhor. Como é que está! Muito bem! É uma alegria imensa estar de novo aqui com vocês e poder conversar com o público através de ti e contigo. Agradecer também à TV comunitária aqui do Distrito Federal de Brasília que tem sido uma grande parceira, uma grande parceira nessa construção da comunicação popular democrática e dando voz aos camponeses e camponesas que sempre foram muito relegados de qualquer oportunidade aqui no nosso país, infelizmente, assim como os povos camponeses os povos tradicionais, comunidades e povos indígenas originários. Mas hoje a gente vai falar sobre algo muito importante que é a produção de alimentos a produção de saúde. E existe um sistema agroalimentar podemos dizer assim que coloca os camponeses a exclusão que exclui os camponeses e camponesas desse modo de participação com maior protagonismo inclusivo.
BLOCO 2
No Pará os movimentos sociais têm uma necessidade gigantesca de levar ao mundo a realidade não só amazônica, não só do brasileiro, mas dos povos originários, das populações tradicionais. Isso é fácil. E a melhor maneira de levar isso é mostrar os exemplos dos sucessos e dos sucessos que estão alcançando. Se nós pegarmos uma planta, uma planta que é emblemática para o brasileiro, o que os indígenas do Xingu fazem com o Pequi é algo tão fantástico que você fica extasiado em conhecer
BLOCO 3
Para nós isso é revolucionário. É uma estratégia fantástica como água de vidro como biofertilizante como farinhas de rocha. O que acontece hoje! As pessoas não sabem mas o agronegócio na sua falência está buscando farinhas de rocha para, inclusive, dominar e hegemonizar para eles também nos preparados microbiológicos que se faz no campo e o MPA tem centrais fazendo isso há mais de 20 anos. E então eles querem se apropriar porque funciona, porque dá resultado. E aí então fica aquela pressão, mas o camponês tem uma vantagem. A vantagem dele é a qualidade na produção do alimento que ele produz.
BLOCO 4
A terra mais fértil do mundo hoje está na Amazônia e foi criada pela mão indígena. Um povo originário criou a terra mais fértil do mundo onde chove. Não é muito, mas chove acima de seis mil milímetros por ano. Como é que você criaria um solo fértil nessas condições. Só com muito engenho muita organização e muito amor pelo planeta.
BLOCO 5
A grande saída hoje para o planeta é o camponês, a forma como cultiva a terra, cultiva o solo, fixando os gases do efeito estufa numa proporção muitíssimo maior do que as fábricas. Produzem então uma agricultura camponesa. Hoje ela é obrigatória não são créditos de carbono para amenizar um poluente e ainda ganhar dinheiro sob uma lógica estranha de finanças internacionais. Quem faz a fixação dos gases é o manejo da matéria orgânica, é a organização e a forma de cultivo do solo, é a maior biodiversidade e tecnologias solicitadas a cada região. O clima produz o bioma. O bioma e a agricultura são interdependentes. Não se pode destruir o bioma. O que eu estou vendo no Brasil é destruição do Cerrado. Paulo Artacho diz que a Amazônia está savanizando, está ficando como um Cerrado.
BLOCO 6
Não existe saída. A grande vantagem que tivemos agora nessa jornada com os camponeses e camponesas do MPA foi encontrar uma receptividade tão grande que todos os cursos têm uma resposta durante o curso. É muito difícil se conseguir essa resposta durante o curso.
BLOCO 7
Às vezes as pessoas não se dão conta no dia a dia e eu falo isso porque eu só consegui compreender isso quando me encontrei com os pequenos agricultores que viam a margem do caminho que tem a ver sobre a domesticação das espécies. Os alimentos que a gente tem hoje na verdade são de um processo de domesticação muito longo, assim quando a gente olha para o passado, não lá longe. A gente enxerga a primeira pessoa que foi organizar esse processo, não é uma primeira comunidade porque nada nenhuma experiência é individual como diz os meus amigos na internet. Nós estamos muito preocupados por exemplo com o que aconteceu lá no Rio Grande do Sul porque foi uma devastação muito grande e para além da destruição das plantações, dos lares, das casas, mas também existe essa questão muito forte das doenças mentais. E realmente os movimentos sociais têm um papel fundamental nisso, não só nessa situação, mas como bombeiros, e o Senhor tem uma expressão dos bombeiros agroecológicos, tem uma relação muito grande e muito forte
BLOCO 8
Os camponeses têm nas mãos 40 anos de experiência para dizer para eles olharem. Vamos sim continuar o nosso caminho. Nosso caminhar. E eu acho que a organização social tem um papel fundamental nisso, mas também eu acho que existe uma organização diante da natureza, de uma relação com a natureza, e hoje é muito difícil para as pessoas serem convencidas de que os jovens camponeses ou as jovens camponesas são portadoras do futuro, de dizer que elas podem nos ajudar nesse processo.
BLOCO 9
A grande satisfação que temos em nossa gira pelo país e pela América Latina é que as tecnologias que levamos são tecnologias tão antigas, mas tão antigas, e tão desconhecidas, que o camponês quando a conhece, e a aplica na segunda vez, vão às lágrimas de tanta alegria.
BLOCO 10
E nós vamos ter a COP-30 agora aqui no Brasil em que há um esforço bastante grande, inclusive dos movimentos populares daqui, de construir uma assembleia popular, uma cúpula popular, vai ser assim também em Belém. Como que o senhor tem assistido a essa realidade que se achega!
BLOCO 11
É muito bom que aconteça uma COP no coração da Amazônia, na capital maior da Amazônia, que é Belém do Pará. Tradicionalmente é uma cidade, um estado bastante aguerrido. A história do Pará é algo maravilhoso, tive a oportunidade de conviver bastante com eles, para aprender um pouco dessa história, porque nós somos tão regionalistas que a gente não tem a visão do todo.
BLOCO 12
Pequi de bom tamanho plantado por indígenas, não agora há mais de 20 anos, e que agora não são poucos pés, não é um terreninho todo, é um bioma. Onde aquele alimento é uma garantia para a sobrevivência e para a qualidade de vida em pleno Cerrado em todo o Xingu. E isso para mim eu quando conheci esse material eu disse meu Deus que coisa fantástica, e isso ninguém conhece, e nós temos que levar isso para o mundo, para que o mundo conheça porque isso não sai nos grandes meios, na grande mídia. E isso levou os exemplos de agricultura.
BLOCO 13
Estamos fazendo hoje coisa que daqui a 40 anos eles vão ver E estamos felizes contentes dizendo por aqui há caminho. Venham aproveitar. Assim como agora conheça as farinhas de rochas e pensam que ela é tudo. Não é tudo. Os camponeses têm nas mãos 40 anos de experiência para dizer para eles olharem. Vamos, sim, continuar o nosso caminho. Nosso caminhar. E eu acho que a organização social tem um papel fundamental nisso.
BLOCO 14
Porque com a Mata Atlântica devastada e o Pantanal queimando, devastado, o que sobra do país! Nada! Então nós temos que começar a perceber que a força está em uma agricultura com o clima e essa agricultura com o clima é COP-30, voltamos a ela e então a terra ou sociedade e a nação têm uma só solução. E essa solução fundamental de todos nós passa pela família camponesa.
BLOCO 15
A cada 100 anos em todas as regiões em qualquer canto do mundo existe uma crescida gigante de enchente. Nós tivemos uma há 83 anos atrás chamada a enchente de 1941. De lá para cá pouquíssimas coisas foram feitas para resolver o problema e esperar uma nova enchente. Não se esperou e não se aplicou os recursos necessários. O pior não é isso, o pior que é aquela capacidade que aquele solo tinha em 1941 de absorver uma grande chuva. O que aconteceu! Choveu durante 15 dias e só chegou a água a Porto Alegre 15 a 20 dias depois. Agora essa chuva chegou 3 a 4 dias depois.
BLOCO 16
E eu gostaria muito que o senhor pudesse comentar um pouco sobre essa relação que existe entre essa ordem mundial do comércio que é inclusiva feita por grandes corporações e CEOs, como eles chamam agora né, que estão na bolsa de valores pelo mundo afora e afetam a nossa produção aqui no Brasil, inclusive porque a soja só tem esse poder todo porque ela está lastreada na Bolsa de Valores de Chicago. Por exemplo mas eu gostaria que o senhor comentasse um pouco sobre isso. A grande dor do camponês latino-americano se fundamenta em que ele é uma pessoa considerada anacrônica à realidade atual, à política atual. Ela visa, principalmente, empoderar o agronegócio, e empoderar o agronegócio significa concentrar cada vez mais a terra, mais dependência de tecnologia, controle total dos créditos para a produção. Com esses 3 elementos. Não há população tradicional. não há populações originárias. Não há legislação. não há ordem legal em nenhum país. seja latino-americano. Asiático. pobre ou africano. Essa realidade nos deixa muito fragilizados e vulneráveis. Desde a rodada do Uruguai, isso nos traz aquilo que é a perda de autonomia do Estado. O Estado fica dependente da ordem internacional. Então não se pode mais questionar um herbicida um fungicida ou um agrotóxico em si. A saúde está subordinada ao mercado. E onde a saúde está subordinada ao mercado, a cidadania tem preço, não tem valor. Se nós entendemos isso nós temos que trabalhar no caminho contrário. Empoderar o camponês a camponesas todas as populações tradicionais e os povos originários para aí construir, desde a base, você usou a expressão raiz, desde uma raiz, com força emergindo uma nova necessidade. E temos condições de fazer isso.
BLOCO 17
O que aconteceu foi isso É bom que os jovens do MPA estejam lá para conhecer isso. Porque lá a destruição começou antes em função da Revolução Verde. E foi muito. muito pecuniária. Se destruiu muito. só se destruiu muitas coisas em função da ganância. Nós temos que transportar isso para a realidade de outros locais brasileiros e entender a necessidade de evitar isso porque senão nós vamos ter prejuízos gigantescos. Não adianta o governo investir dinheiro para recuperar uma economia. O modelo está totalmente errado. E esse modelo que está errado tem que ser mudado
BLOCO 18
Ela pode dizer o que é matéria orgânica, o que é Humus – essência da vida. De húmus, diz a palavra: humilde. Isso é a palavra humanidade. Isso é a palavra humana Humus. É aquilo que é a essência do trabalho do camponês na terra.
Você pode conferir a íntegra da entrevista no link abaixo:
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