15 de abril de 2022
Janelson Ferreira
Editado por Solange Engelmann
Página do MST
Na manhã desta quinta-feira (14), o Acampamento Terra Livre (ATL), que ocorre em Brasília, no Distrito Federal, organizou a Plenária “Aliança dos Movimentos Populares para Fortalecer a Luta Indígena”. A atividade buscou destacar a aliança entre as diversas organizações presentes para enfrentar, entre outros temas, o retrocesso de direitos provocado pelo governo federal.
“É um grande orgulho para nós estarmos aqui participando e construindo este Acampamento”, afirmou Alexandre Conceição, da direção nacional do Movimento Sem Terra.
O ATL, que se encerra nesta quinta-feira (14), começou no dia 4 de abril e levou até Brasília cerca de 8 mil indígenas para lutarem contra projetos que violam os direitos dos povos originários, como o Projeto de Lei 191/2020, que abre as terras indígenas para a mineração. Ao longo dos dez dias, os povos originários usaram suas tradições, cantos e palavras de ordem para denunciar a política anti-indígena do atual governo, que atenta, desde o começo do mandato – em 2019 -, contra a vida e os territórios dos indígenas de todo o país.
Alexandre Conceição também lembrou da importância dos povos do campo, das águas e das florestas na defesa do meio ambiente. “Se hoje tem mata em pé e rios com peixe é por causa dos povos indígenas, camponeses e quilombolas, que estão nos seus territórios, em defesa da natureza e da vida”, afirmou o dirigente nacional do MST.
Conceição também destacou a existência de um inimigo em comum a ser enfrentado por todos estes povos. “Não estamos separados, mas unidos pela destruição que o capital tenta fazer na nossa natureza, nos nossos alimentos, na saúde e na nossa cultura”, lembrou.
Neste mesmo sentido, Sara Oliveira, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), explicou que o avanço sobre os povos tradicionais não é um fenômeno local. “Este projeto de destruição compõe uma estratégia maior, pensada a partir do capital internacional em se apropriar de tudo o que for possível”, disse Oliveira.
“As consequências deste modelo a gente sente todo dia, com o aumento da perseguição às nossas lideranças e a construção de grandes empreendimentos”, afirmou a militante da MAB. No último ano, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), houve um aumento de 75% dos assassinatos em decorrência de conflitos no campo. Como forma de tornar público os dados acerca da violência no campo, a Pastoral da Terra lançará na próxima segunda-feira (18) o relatório Conflitos no Campo Brasil 2021.
Participaram da Plenária, além da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), representantes do MST, MAB, CPT, Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), CNS, FASE/Carta de Belém, e CENTCOOP.
Este ano, o Acampamento Terra Livre trouxe como lema a palavra de ordem “Retomando o Brasil: demarcar territórios e aldear a política”. O lema se alinha à definição política tomada pelas organizações indígenas de lançarem candidaturas nas próximas eleições. A definição busca levar para sociedade o debate em torno da questão indígena, além de engrossar as fileiras de parlamentares que defendem a pauta dos povos indígenas no Congresso Federal e nas Assembléias Legislativas dos estados.
Sônia Guajajara, da Coordenação da APIB, refletiu sobre os desafios deste ano de 2022. “Temos a missão de aldear a política e vamos resistir entrando pela porta da frente daquele Congresso Federal. Em 2023 teremos a bancada do cocar”, destacou.
Alexandre Conceição também salientou a necessidade de se derrotar Bolsonaro nas próximas eleições. “Nossa maior responsabilidade este ano será a organização dos Comitês Populares para derrotar Bolsonaro e o Centrão”, afirmou Conceição.
“Os povos indígenas têm que eleger seus candidatos sim, para que tenhamos parlamentares empenhados em defender a terra e a natureza”, finalizou o dirigente.
Durante os dez dias de ATL, o Movimento Sem Terra recebeu a tarefa de assegurar a alimentação de todos os 8 mil indígenas presentes na mobilização. Para isto, mais 400 quilos de carne, duas toneladas de arroz e cerca de duas toneladas de feijão foram servidos diariamente nesta cozinha, preparados pelas mãos de 31 Sem Terra, com a orientação de três nutricionistas.
A produção usada nas refeições veio direto das áreas de Reforma Agrária do MST no Distrito Federal e entorno, como os assentamentos Oziel Alves, Pequeno Wiliam, Roseli Nunes e dos estados do Goiás, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
“Está mais do que provado que o agronegócio não alimenta o país”, afirmou Sônia Guajajara. “Quem alimenta o Brasil somos nós, por isso precisamos dos nossos territórios para produzirmos a nossa agricultura, do nosso jeito”, explicou.
Guajajara ainda reafirmou a aliança entre os povos indígenas e o Movimento Sem Terra. “O MST está provando, com esta cozinha, alimentando todo o Acampamento, que é possível produzir e alimentar o Brasil de forma orgânica, saudável, sem destruir o meio ambiente”, finalizou.
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