1 de setembro de 2023
Nara Lacerda
Brasil de Fato | São Paulo (SP)
O uso da terra para atividades agropecuárias foi o que mais cresceu nos últimos 37 anos no Brasil. Entre 1985 e 2022, as áreas de pastagem aumentaram 60% e as de agricultura, 219%, segundo dados do MapBiomas. As plantações de soja, por exemplo, ocupam 10 vezes mais território do que toda a área urbanizada do Brasil.
Enquanto mais de um terço do solo nacional é destinado a pastos e plantações, a área de vegetação nativa diminui. Em 1985, o Brasil era 75% coberto por florestas e formações naturais. No ano passado, o índice ficou em 64%. Mais de 600 municípios deixaram de ter predomínio de áreas naturais. O país perdeu 96 milhões de hectares de flora original, o que equivale a 2,5 vezes o tamanho da Alemanha.
O Cerrado e o Pampa foram os biomas que mais perderam área nativa no período analisado, respectivamente 25% e 24%. No primeiro caso, as atividades agropecuárias ocupam 50% do território. Já no Pampa, elas aumentaram de 29% em 1985 para 44% no ano passado.
Outro dado que chama atenção diz respeito a perda de superfícies de água no Pantanal. Há 37 anos, 47% do bioma era composto por água e campos alagados. Em 2018, esse índice caiu para 36% e, no ano passado, para 12%.
Entre as 27 unidades da federação, 25 tiveram perdas nesse período. São Paulo manteve estabilidade e Rio de Janeiro conseguiu aumentar a vegetação nativa de 31% para 32%.
Apesar de ser o segundo estado com maior desmatamento do Brasil, o Amazonas ainda está na lista dos que contam com maior proporção de vegetação nativa (95%), junto com Amapá (95%) e Roraima (93%). Na outra ponta estão Sergipe (16%), Alagoas (20%) e São Paulo (21%).
O levantamento do MapBiomas indica também que as Terras Indígenas (TIs) estão entre as áreas mais preservadas do país. De 1985 a 2022 as TIs perderam menos de 1% da flora nativa. Em terras particulares a perda foi de 17%.
“As Terras Indígenas ocupam 13% do território nacional e 19% da cobertura de vegetação nativa está nessas áreas. O que, muitas vezes, aconteceu antes mesmo da criação das unidades de conservação”, ressalta Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas.
Ainda de acordo com os dados apresentados o crescimento das áreas de garimpo no Brasil foi considerável no período. Elas ocupavam 22 mil hectares em 1985 e hoje chegam a 263 mil hectares. Somente no ano passado, a expansão foi de 35 mil hectares, uma alta “avassaladora” nas palavras de Tasso Azevedo.
“Por volta de 2019 para 2020, a área de garimpo no Brasil ficou maior que toda a área de mineração industrial. Só no ano passado, cresceu uma Curitiba. Não é tão importante em termos de área, mas o impacto é muito grande.”
No período analisado pelo MapBiomas, a dinâmica de ocupação do solo foi fortemente influenciada pela agricultura e pela pecuária. Mais de 55% das áreas de pastagem ocuparam regiões que anteriormente tinham mata nativa.
No caso das lavouras, o índice é de 27,3%, porque a maior parte delas têm origem em solo que já era utilizado para pasto e já havia passado por mudanças impostas pelo ser humano. Exceções foram observadas nas regiões Amazônica, do Cerrado e no Matopiba, onde as atividades do agronegócio ocupam e desmatam áreas de flora original.
As lavouras temporárias, que incluem commodities como soja, milho, cana e algodão, cresceram mais de três vezes entre 1985 e 2022. A soja foi a cultura que mais cresceu e hoje é nove vezes maior do que há 37 anos. Cultura predominante no Brasil, ela ocupa quase 40 milhões de hectares, área maior que França.
A transformação do território é predominante em áreas privadas. Elas respondem pela maior parte da perda de vegetação observada nas últimas décadas no Brasil. Há 37 anos, essas terras mantinham 67% da vegetação nativa, índice que hoje baixou para 49%. Em terras públicas a queda foi mais sútil, de 79% para 72%.
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