28 de setembro de 2023
Igor Carvalho
Brasil de Fato
O fim da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigava o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), confirmada nesta quarta-feira (27), confirmou, também, o fracasso da extrema direita bolsonarista na Câmara dos Deputados, em especial, do relator da comissão, Ricardo Salles (PL-SP).
Ex-ministro do Meio Ambiente durante a presidência de Jair Bolsonaro (PL), Salles encarou o espaço na comissão como uma extensão de seu gabinete na pasta. Durante os 130 dias da CPI, resgatou dados e informações de sua época à frente do Ministério e insistiu na criminalização do MST, movimento com quem sempre antagonizou.
Essa, que foi a quinta CPI organizada para investigar o MST, se tornou na grande aposta do bolsonarismo para o primeiro ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A linha de frente da extrema direita passou a compor a comissão. Para a presidência e relatoria, Zucco (Republicanos-RS) e Salles. Entre os integrantes, Zé Trovão (PL-SC), Evair de Mello (PP-ES), Coronel Chrisóstomo (PL-RO), Delegado Éder Mauro (PL-PA), Caroline de Toni (PL-SC), entre outros.
O cenário era perfeito para que Ricardo Salles alavancasse seu principal objetivo pós-Bolsonaro: viabilizar sua candidatura à Prefeitura de São Paulo em 2024. O ex-ministro enfrenta o ceticismo do PL, seu partido, sobre as possibilidades de sua vitória e a vontade do ex-presidente em estreitar a relação com o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB).
O tiro, portanto, pode ter saído pela culatra. “Com certeza o Salles tentou usar a CPI para alavancar a candidatura dele, para que ele aparecesse na mídia e tivesse o nome dele circulando mais, para que outras pessoas dos meios político e empresarial o vissem. Mas não funcionou, não apenas porque a candidatura não foi pra frente, mas porque na CPI ele foi uma figura apagada”, afirmou Camila Rocha, cientista política e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
Para o cientista político Rudá Ricci, a candidatura de Salles pode ter ficado pelo caminho, com a perda de visibilidade da comissão. “Toda CPI é um palanque. Ocorre que com o fracasso da extrema direita, a CPI foi se confinando como tema da bolha progressista. Até mesmo a grande imprensa deixou de destacar como pauta quente, a não ser para revelar a fragilidade da bancada extremista e ruralista.”
A baixa adesão à CPI, na opinião pública, refletiu também no resultado final da comissão. “Eles não conseguiram criminalizar o MST na opinião pública. Na verdade, eles acabam falando para convertidos. Se muito, eles só acentuaram a percepção que essas pessoas já tem. Eu destacaria apenas a atuação do Kim, que talvez tenha conseguido disseminar para mais pessoas essas ideias. Ainda assim, no geral, eles só reforçaram uma ideia que já estava presente nas audiências deles.”
“O bolsonarismo saiu chamuscado”, sentencia Ricci. “Ninguém esperava este sucesso do MST que, aliás, perdeu muito espaço nos últimos anos em virtude do Programa Bolsa Família ter retirado parte da base social das ocupações. O MST ressurge no cenário político como grande produtor coletivo, que defende a agroecologia e mantém um ideário à esquerda e popular. Mudou o perfil e se adaptou ao novo século, além de se adaptar ao lulismo. Não poderia ser melhor para esta organização.”
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