17 de janeiro de 2021
Por Michele Corrêa*
“Sabíamos que nas cidades havia casas magníficas para os brancos e barracos em ruínas para os negros. Conhecemos sofrimentos atrozes impostos em função de opiniões políticas ou crenças religiosas; exilados na nossa própria terra natal, a vida era muito pior que a própria morte”. Patrice Emery Lumumba, 30 de junho de 1960.
Patrice Emery Lumumba nasceu em 2 de julho de 1925, em Onalua, uma aldeia no Kasai Oriental, no seio de uma família católica e com o nome Elias Okitasombo. Recebeu, na sua aldeia natal, uma educação rudimentar nas escolas missionárias locais. No início dos anos de 1940, mudou-se para Stanleyville, território hoje conhecido por Kisangani, e mais tarde para Léopoldville, na altura capital do Congo Belga, a atual Kinshasa.
Cursou escolas missionárias, única forma possível para que os congoleses tivessem acesso à educação. Na época, o sistema educacional na colônia era precário e visava à formação de operários em vez de mão de obra mais qualificada. No seu percurso profissional, Patrice Lumumba ocupou vários cargos: foi funcionário dos correios, jornalista e diretor de vendas de uma cervejaria, enquanto ao mesmo tempo se fortalecia como líder político anticolonialista. Em 1958, fundou o Movimento Nacional Congolês (MNC), depois de ter sido eleito presidente do Sindicato Independente dos Trabalhadores Congoleses.
Em dezembro de 1958, ao discursar na Conferência dos Povos Africanos, foi saudado pela clareza com que defendeu as idéias pan-africanas de unidade contra o colonialismo. “A despeito das fronteiras que nos separam, a despeito de nossas diferenças étnicas, para fazer do continente africano livre e feliz, resgatado da insegurança, do medo e do jugo colonial”. Ao lado de Lumumba, estiveram outros proeminentes líderes africanos: Sekou Touré, da Guiné, Julius Nyerere, da Tanzânia, Tom Mboia, do Quênia, e Kwame Nkruma, da recém-libertada Gana – país anfitrião do encontro.
Como líder MNC, conduziu o então Congo Belga (mais tarde Zaire e, atualmente, República Democrática do Congo) no processo de independência, efetivado em junho de 1960. Tornou-se o primeiro primeiro-ministro do Congo independente a 30 de junho de 1960, mas foi rapidamente destituído do poder, em setembro, e colocado em prisão domiciliar.
Lumumba defendia firmemente a unidade dos povos africanos contra o colonialismo, acima das diferenças étnicas e tribais, e foi capaz de incorporar o anseio por liberdade de todos os povos oprimidos do continente.
No dia da proclamação da independência, se prenunciava já talvez o desfecho do jovem primeiro-ministro. Durante as celebrações oficiais, Lumumba denunciou publicamente as práticas racistas dos colonizadores. Os congoleses rejubilaram, não só os que participaram na cerimónia mas também aqueles que ouviam o discurso em casa, através da rádio. Mas o rei belga e os diplomatas estrangeiros ficaram chocados.
Os objetivos políticos de Lumumba não condiziam com os planos dos poderes ocidentais: O jovem político queria libertar o Congo dos grilhões coloniais. Queria unir os grupos étnicos e advogava em favor da gestão local das riquezas naturais do país. A Bélgica e os Estados Unidos começaram a sentir a sua influência declinar. “Por isso é que decidiram acabar com o Governo e, finalmente, com o próprio primeiro-ministro”, diz o sociólogo belga Ludo de Witte, que estuda o Congo há mais de 20 anos e aborda meticulosamente a queda de Lumumba num livro.
Depois das palavras de Lumumba, a jovem república mergulhou no caos. O exército congolês revoltou-se contra os oficiais belgas que ainda estavam a comandar. A Bélgica interveio militarmente e apoiou a secessão da região de Katanga, rica em minérios, do resto do país. A crise despoletou uma guerra civil, Lumumba enviou as suas próprias tropas. O jovem primeiro-ministro pediu ajuda às tropas das Nações Unidas e à União Soviética. Em plena Guerra Fria, os Estados Unidos da América pressentiram uma viragem comunista no Congo. Temiam que Moscovo aumentasse a sua influência no país e, por arrastamento, em África. Norte-americanos e belgas aliaram-se, por isso, ao então chefe do exército Joseph-Desiré Mobutu, um ex-amigo e confidente de Lumumba e o ditador que, mais tarde, governaria o Congo durante mais de 30 anos.
A partir desse momento, tudo se desenrolou muito rapidamente. Em setembro, Lumumba foi destituído do cargo de primeiro-ministro e colocado em prisão domiciliária. Em novembro, conseguiu escapar, mas foi depois capturado pelas tropas de Mobutu, que o espancaram e torturaram.
“As pessoas amavam Lumumba. Os seus apoiantes queriam libertá-lo”, explica Witte. “Isso teria sido um desastre para a Bélgica e para os Estados Unidos. Por isso, decidiram que ele deveria ser morto no dia em que chegou a Katanga. Foi executado por um pelotão organizado por oficiais belgas.
Em janeiro de 1961, Lumumba tentou apanhar um voo para fora do país, mas foi capturado e levado para Lumumbashi), na província de Katanga, onde foi assassinado, em condições então consideradas misteriosas, um crime que ensombra a República Democrática do Congo. Até hoje, ninguém foi punido. Partidário de um Congo independente e unitário, foi considerado próximo demais da União Soviética, à qual pedira ajuda. A decisão de eliminá-lo foi atribuída à CIA e ao governo belga (antiga metrópole do país). Sua execução fez de Lumumba o símbolo da luta anticolonialista africana.
Referências:
http://www.pordentrodaafrica.com/noticias/patrice-lumumba-60-anos-contra-o-racismo
https://operamundi.uol.com.br/historia/2590/hoje-na-historia-1961-patrice-lumumba-e-assassinado-no-congo
https://www.dw.com/pt-002/patrice-lumumba-foi-assassinado-h%C3%A1-55-anos/a-18982467
* Michele Corrêa: Feminsita Negra; Graduanda em Filosofia na UFPel; Militante da Pastoral da Juventude (PJ) e Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)
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