12 de julho de 2017
Mais de 50 organizações e movimentos sociais brasileiros que atuam em pautas relacionadas a meio ambiente, direitos humanos, direitos dos trabalhadores, povos indígenas e povos e comunidades tradicionais protocolaram no Ministério do Meio Ambiente e no Ministério das Relações Exteriores a “Carta em defesa da posição histórica do Brasil sobre offsets florestais”. Trata-se de uma reação a tentativas de viabilizar o uso de florestas em mercados de compensação de emissões de carbono (offsets), medida vista como falsa solução ao desafio das mudanças climáticas.
“Alguns atores têm usado o momento de negociação da implementação do Acordo de Paris, a crise política e a turbulência econômica pela qual o país e o mundo passam como pretexto para demandar medidas a favor de offsets”, afirmam as organizações. Segundo elas, o esforço beneficiaria aqueles que continuariam emitindo gases de efeito estufa ou receberiam recursos mobilizados, mas traria graves consequências para o Brasil e o mundo.
Na Carta, elas apontam oito justificativas para considerar os offsets florestais uma medida que apenas agravaria a crise climática. Entre os argumentos, está a falsa equivalência entre o carbono emitido por combustíveis fósseis e o capturado pelas árvores; o aprofundamento de desigualdades; e o fato de que a compensação via offsets geraria incentivos para países segurarem a ambição de suas metas de redução de emissões perante a ONU.
Desta forma, as signatárias defendem o posicionamento histórico do Brasil de não considerar projetos de redução de desmatamento, conservação e recuperação de florestas elegíveis para a geração de créditos de carbono. “Não podemos desviar a atenção das verdadeiras soluções e das políticas necessárias de enfrentamento à crise climática”, afirmam.
Confira a Carta na integra:
Carta em defesa da posição histórica do Brasil sobre offsets florestais
Ao longo dos 23 anos de existência da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, muitas propostas surgiram como solução à crise climática. A inclusão das florestas em mecanismos de compensação de carbono (offsets) é uma dessas. Desde que as primeiras propostas sobre o tema foram apresentadas, inúmeras organizações e movimentos sociais, ONGs, representantes de povos indígenas, povos e comunidades tradicionais no Brasil e no mundo vêm apontando preocupações e denunciando o que se convencionou em chamar de falsa solução à crise do clima.
No atual contexto das negociações internacionais e da conjuntura nacional, alguns atores têm usado o momento de negociação de implementação do Acordo de Paris, a crise política e a turbulência econômica pela qual o país e o mundo passam como pretexto para demandar medidas a favor de offsets.As organizações signatárias desta carta vêm tais proposições com preocupação, e defendem a manutenção do posicionamento histórico do Brasil contra offsets florestais, concordando que qualquer mudança nesse sentido colocaria em risco a integridade ambiental do país e do planeta, além do cumprimento das responsabilidades históricas por parte de países desenvolvidos, e a arquitetura do Acordo de Paris.
Por que os offsets florestais são uma falsa solução?
No âmbito internacional, há pelo menos duas décadas a posição negociadora brasileira na convenção tem sido caracterizada pela rejeição da inclusão das florestas em mecanismos para compensar as emissões de gases de efeito estufa lançadas na atmosfera por setores como energia e transporte.
No âmbito nacional, vemos uma conjuntura de retrocessos nas leis e políticas que garantem a proteção dos direitos territoriais e do meio ambiente. No meio dessa crise e ofensiva, retorna o discurso de que a compra e venda de carbono florestal seria uma solução para o enfrentamento do desmatamento que vem crescendo e para a captação e recebimento de recursos necessários para vigilância e monitoramento. Isso vem aliado a esforços para reconfigurar a Comissão Nacional para REDD+ (CONAREDD+) e o Fundo Amazônia de forma que também abririam espaço a offsets. Por mais que o discurso pareça atraente, os argumentos acima mostram que se trata da defesa de uma falsa solução, voltada a beneficiar um pequeno grupo de atores (aqueles que continuariam emitindo gases de efeito estufa ou receberiam recursos mobilizados), mas traria graves consequências para o Brasil e o mundo.
Não podemos desviar a atenção das verdadeiras soluções e das políticas necessárias de enfrentamento à crise climática.
Por isso, demandamos a manutenção do posicionamento histórico brasileiro contra offsets florestais.
Assinam:
Amigos da Terra Brasil
Alternativas para Pequena Agricultura no Tocantins – APA-TO
Articulação de Mulheres Brasileiras – AMB
Articulação Nacional de Agroecologia – ANA
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB
Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo – APOINME
Associação Agroecológica Tijupá
Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia – AOPA
Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – AGAPAN
Cáritas Brasileira
Central de Movimentos Populares – CMP
Central Única dos Trabalhadores – CUT
Centro de Apoio a Projetos de Ação Comunitária – CEAPAC/Santarém/PA
Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – CEDENPA
Conselho Indigenista Missionário – CIMI
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares – CONTAG
Conselho Nacional dos Seringueiros – CNS
Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – CONAQ
Engajamundo
Fórum da Amazônia Oriental – FAOR
Fase – Solidariedade e Educação
Fórum Brasileiro de Segurança e Soberania Alimentar e Nutricional – FBSSAN
Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense – FMAP
Fórum Mudanças Climáticas Justiça Social – FMCJS
Greenpeace Brasil
Grupo Carta de Belém
Iniciativa Internacional da Carta da Terra (Leonardo Boff)
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – IBASE
Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC
Instituto de Políticas Alternativas para o Conesul – PACS
Jubileu Sul Brasil
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Movimento de Mulheres Camponesas – MMC
Marcha Mundial das Mulheres – MMM
Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Desastres – NEPED/UFSCar
Pastoral da Juventude Rural – PJR
Rede Ecovida de Agroecologia
Sempreviva Organização Feminista – SOF
Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Belterra – STTR/Belterra
Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Santarém – STTR/STM
Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Mojuí dos Campos – STTR-MC/PA
Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Alenquer – STTR/ALQ
Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos – SDDH
Sociedade Civil da Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais – CNPCT
Terra de Direitos
Via Campesina Brasil
Por Grupo Carta de Belém
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