14 de dezembro de 2023
Mariama Correia
Cajueira
A Defesa Civil, a prefeitura da cidade e a Braskem se apressam em descartar o risco de novos abalos e emplacar uma narrativa de normalidade, enquanto muitas questões ainda estão sem respostas. Quais os danos do rompimento na lagoa? Quais os riscos da água que entrou na mina erodir outras áreas? As outras minas, vizinhas da 18, também podem colapsar? Há risco de tremores e afundamentos em regiões ainda habitadas?
O que se sabe com certeza é que as marcas dessa tragédia ainda estão se aprofundando. Mais de 60 mil moradores foram afetados pelo afundamento do solo, causado pela exploração do sal-gema da Braskem. Além deles, a Associação dos Empreendedores e Vítimas da Mineração em Maceió calcula que ao menos 12 mil empreendedores e 15 mil trabalhadores estão entre os atingidos pelo que já é considerado o maior crime ambiental urbano da história do país.
Os riscos relacionados à extração de sal-gema pela Braskem são anunciados desde o início dos anos 70. Pelo menos desde 2018, os tremores, afundamento do solo e as rachaduras nas casas se tornaram mais evidentes. Curiosamente, a grande mídia, dita nacional, só passou a cobrir o caso sistematicamente agora, quando famílias foram retiradas às pressas do bairro de Mutange, pelo risco de colapso da mina 18.
Ao longo dos anos, não apenas os jornais sudestinos silenciaram. Grupos poderosos de comunicação, vinculados a políticos e empresários de Alagoas, também fizeram vista grossa. A Braskem é uma grande anunciante, que distribui milhões em merchandising e, até pouco tempo atrás, mantinha um prêmio de jornalismo ambiental em Alagoas. É uma gigante mundial que investe pesado em tentativas de greenwashing, pagando de sustentável em grandes eventos.
É por isso que o jornalismo nordestino independente, que não está preso a grandes grupos empresariais, faz diferença. Recentemente, três iniciativas nordestinas fizeram uma coalizão para cobrir a crise em Maceió. Os conteúdos gerados pela Redação Nordeste, formada pela Marco Zero Conteúdo (PE), Mídia Caeté (AL) e Olhos Jornalismo (AL), estão ajudando a aprofundar o entendimento sobre o crime ambiental. “O jornalismo independente está aqui para construir um viés mais social, humano e inclusivo”, disse Marcel Leite, do Mídia Caeté.
Gessika Costa, que é fundadora do Olhos Jornalismo, explicou que a ideia do grupo é ir além do óbvio e fazer uma cobertura mais abrangente. Um exemplo de como essa união de forças funciona é a reportagem onde ela mostra que um contrato de medidas preventivas foi rompido pela Braskem dias antes do colapso da mina. “Todas as matérias que estamos produzindo são em conjunto, com uma pessoa apurando e outra escrevendo.”
Do Recife, Sérgio Miguel Buarque, diretor da Marco Zero Conteúdo, viajou para Maceió para se dedicar à cobertura. “A gente conseguiu mobilizar recursos para remunerar as pessoas que estão trabalhando, porque entendemos que essa é uma dificuldade para fortalecer o jornalismo local”, contou.
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