20 de junho de 2018
Aos dezoito dias do mês de junho de 2018 a história me proporcionou realizar uma visita fraterna, de caráter espiritual e religioso, ao Presidente Lula, encarcerado injustamente na Polícia Federal de Curitiba.
Foram sessenta minutos de uma conversa espontânea e muito rica. Falamos de muito e quase tudo e não tivemos tempo de falar de futebol, não que o tema não nos provoque atração.
A minha primeira impressão é que Lula sobrevive, e bem, com astral alto, numa pequena sala, com uma cama simples, um criado mudo pequeno, uma mesa cheia de livros e papéis que lê, anota e escreve, duas garrafas térmicas pequenas – uma com café outra com água – algumas bolachas, uma TV, um pequeno rádio, um armário e uma esteira para exercícios físicos.
Nossa prosa foi solta e desorganizada, uma conversa de amigos, falamos de tudo. Falei-lhe muito sobre o carinho das pessoas, em especial de crianças e jovens, por ele.
Aí fez um ar sério e disse estar fazendo um grande esforço para não alimentar nenhum tipo de ódio, apesar da injustiça que está sofrendo.
“O ódio destrói quem odeia, Presidente”, disse-lhe.
Então expressou que é o amor pelo povo brasileiro o que de fato o move e lhe dá forças para enfrentar e suportar o que está passando, que sofre com o desemprego, com a destruição da indústria nacional, com a volta da fome.
E aí me relatou que encarava o tempo de prisão como um tempo de “provação”.
Quando falou da Petrobras, demonstrou grande preocupação. Comentou que o povo precisa reagir, “senão, vão destruir tudo”. E entre tantos comentários, expressou esta pérola de síntese, que expressa ao mesmo tempo uma visão estratégica e uma sensibilidade popular, ao me afirmar que a Petrobras foi criada para vender gás barato ao povo brasileiro e ser um instrumento de geração de emprego e desenvolvimento nacional e não para encher de dinheiro as contas bancárias dos investidores norte americanos.
Entreguei-lhe muitos “recuerdos” de muita gente, crianças, poetas, cantores, amigos. Símbolos religiosos e livros. Bíblia, um livro de poemas do grande Adão Pretto, imagem de Aparecida sem o manto e a coroa como saiu das águas do Parnaíba na rede dos pescadores, a cruz missioneira dos sete povos guaranis e um escapulário, que na religiosidade popular católica, protege o espírito e o corpo de qualquer mal.
Pediu-me um pen drive com músicas de canto gregoriano, que fiquei de providenciar.
Colocou o escapulário no pescoço, disse ser um homem de fé, demonstrou incrível confiança de que vai sair daquela masmorra e vai se unir e liderar nosso povo para uma nova era de esperança, dignidade, emprego, reforma agrária e dignidade.
Rezamos o Pai Nosso de mãos dadas, nos abraçamos e fui saindo encharcado de força e profundamente convencido de ter me encontrado com um homem verdadeiramente preparado para empreender e liderar grandes transformações em favor das grandes maiorias empobrecidas do nosso povo.
Um líder forte e provado na dor, na perseguição, na injustiça, mas que não se acovardou, não se afastou de seu povo nem traiu seus sonhos e esperanças.
Por Frei Sérgio Antônio Görgen – Frei da Ordem Franciscana, militante do MPA e autor do livro “Trincheiras da Resistência Camponesa”.
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