17 de janeiro de 2024
Mateus Quevedo
MPA Brasil | Brasília (DF)
Desde o ano de 1996,, no dia 17 de janeiro, comemoramos o surgimento do Movimentos dos Pequenos e das Pequenas Agricultoras, o nosso MPA Brasil. O MPA nasceu como fruto da luta contra a crise econômica e social na agricultura brasileira que afetou o país na década de 1990. Resistimos à abertura neoliberal do campo e ao esgotamento do movimento sindical de trabalhadores rurais como instrumento de representação e luta dos camponeses e camponesas do Brasil.
“Com sol, com chuva ou com vento, queremos 1500”, era assim que, em 1996, milhares de camponeses e camponesas gritavam e exigiam, às margens da BR 386 e de muitas outras estradas do Rio Grande do Sul. A reivindicação era por um auxílio do governo para as perdas da produção devido a uma estiagem histórica na região.
Os agricultores haviam perdido toda sua produção de milho, feijão, soja, pastagens etambém sua produção de subsistência. Sem nenhum tipo de seguridade, conviviam ainda com o risco de perder suas terras para os juros exorbitantes dos bancos.
Não se conseguiu alcançar os R$1.500,00 pedidos nas palavras de ordem, mas sim uma linha de crédito emergencial de R$400,00 (que corresponde hoje a aproximadamente R$1.800,00).
Ainda naquele ano, outro benefício social foi conquistado através da luta popular e, meses depois, em julho de 1996, foi lançado o Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar (Pronaf). Apesar de alguns benefícios, a classe camponesa não se sentiu atendida com as condições do Pronaf, pois o acesso era extremamente burocratizado. Os pequenos agricultores e agricultoras continuaram sua mobilização. E estão mobilizados até hoje.
No Brasil inteiro já havia movimentos de lideranças e organizações apontando a necessidade de construção de novas ferramentas de lutas, pois havia uma crise no movimento sindical e o trabalho de base com o povo precisava ser retomado para apontar novo rumo.
E foi assim que a mobilização através do Acampamento da Seca, uma ação motivada por questões climáticas, sociais e políticas, se transformou em um dos movimentos populares mais importantes do país, o MPA. Desde então, foram muitas conquistas que ajudaram muito a vida dos camponeses.
Por isso, depois de 28 anos deste Movimento, perguntamos para algumas lideranças, militantes e dirigentes o significado do MPA para suas vidas.
Para Sônia Costa, dirigente do MPA e que está a frente do Sítio Sossego, em Francisco Santos, no Piauí, o MPA “é liberdade, produção de alimentos, é autonomia e é resistência. O MPA tem essa importância na minha vida, como mulher, como camponesa, como produtora de alimentos, traz a possibilidade de liberdade que a gente tanto almeja, é um produtor de conhecimento, o que possibilita a gente ir atrás dos direitos da gente, de buscar autonomia na nossa produção de alimentos agroecológicos, sem venenos, sem matar a nossa saúde e nem a Mãe Terra.”
O engenheiro agrônomo, Adellan Alcantara, do estado do Espírito Santo, destacou que “o MPA, pra mim, significa esperança, protagonismo e prosperidade coletiva das pessoas”.
Muriel Assumpção, à frente do Sítio Vinhático junto a outras companheiras, em Silva Jardim, no Rio de Janeiro, também interpreta o MPA como símbolo de esperança, que “vem de ver outros companheiros investindo muito do seu tempo e da sua energia neste movimento, esperança que vem quando estamos entre companheiros e somos capazes de sonhar um mundo melhor pro nosso país, e, principalmente, a esperança que vem quando olhamos pra trás e vemos o quanto foi alcançado por meio da nossa organização”.
Segundo Muriel, se engana quem pensa que o MPA é importante só para camponeses. “o MPA serve a toda classe trabalhadora, porque tem um projeto emancipatório e popular para o Brasil”.
Valter Israel da Silva, de Pinhão no Paraná apresenta o MPA como “sinônimo de vida, é sinônimo de alimento, é sinônimo da relação campo e cidade, é sinônimo de preservação ambiental, é sinônimo de campesinato, e nos 28 anos de vida deste movimento já produziu muita informação, muito conteúdo, já organizou muita gente”.
Para Maria de Jesus, camponesa no Alto Sertão Sergipano, o MPA significa “a necessidade dos direitos dos camponeses à justiça social, ao acesso à terra, à moradia, à educação no campo e do campo, a políticas públicas”. Para ela, “o MPA é um divisor de águas, antes e depois, de como eu quero ver a nossa sociedade, como eu quero ver a nova geração camponesa. Então pra mim, o MPA é vida, é a possibilidade dessas transformações, é conquista, é luta, é resistência”.
Ainda há muito o que fazer, mas muito já caminhamos!
E para você, qual o significado do MPA?
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