10 de julho de 2023
Carlos Magno Morais e Maria Cristina Aureliano
Diário de Pernambuco
Você sabia que, segundo a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, cada brasileiro consome anualmente mais de 7 litros de agrotóxicos através dos alimentos e da água? Essa realidade alarmante revela um lado tenebroso do agronegócio brasileiro, muitas vezes apelidado de “Agro é pop”.
Embora o agronegócio seja frequentemente glorificado por sua contribuição para a balança comercial, o preço ambiental e de saúde que pagamos é altíssimo. Dados do Siságua, Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano, revelaram em 2017 que um em cada quatro municípios brasileiros tem agrotóxicos na água. Além disso, o problema está crescendo: os testes com agrotóxicos na água subiram de 75% em 2014 para impressionantes 92% em 2017.
Nesse contexto, é preocupante que a bancada do agronegócio esteja negociando a continuação da isenção de impostos para agrotóxicos na PEC da Reforma Tributária. A flexibilização das normas resultou na aprovação de mais de 2 mil novos produtos agrotóxicos no Brasil nos últimos quatro anos, agravando a crise.
Surpreendentemente, o aumento no uso de agrotóxicos não resultou em maior disponibilidade de alimentos para a população. O agronegócio, com foco na produção de commodities como soja e milho, tem negligenciado culturas essenciais como arroz e feijão. A fome e a má nutrição continuam a ser uma realidade para muitos brasileiros, enquanto a agricultura familiar, que efetivamente produz alimentos, luta por reconhecimento e apoio.
O Brasil precisa repensar o modelo de agronegócio que privilegia a produção em larga escala à custa de nossos recursos naturais e saúde pública. Não podemos continuar a degradar nossos biomas, envenenar nossos solos e águas e prejudicar nossa população com o consumo excessivo de agrotóxicos.
Precisamos rejeitar a ideia antiquada de que a reforma agrária equivale ao atraso. Ao contrário, ela é um passo necessário para a distribuição mais equitativa da riqueza e a superação da pobreza. Em vez de exportar commodities a custo ambiental, devemos nos tornar um país produtor de tecnologia e valorizar nossos produtos.
Antes que as vozes do ceticismo proclamem que isso não é possível, permita-me lembrá-los de um fato surpreendente: cerca de 70% de nossa alimentação já vem da agricultura familiar. Isso mostra que a produção de alimentos limpos e justos não é uma utopia distante, mas sim uma realidade palpável. E se já é uma realidade, por que não fazer disso a norma? Por que não investir em uma agricultura que protege o meio ambiente, fortalece a saúde pública e promove a justiça social?
É hora de apostar na agricultura familiar como a agricultura do futuro. É hora de valorizar o que é produzido localmente, através da agroecologia. Essa é a verdadeira agricultura que alimenta e gera vida.
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