19 de outubro de 2024
Fonte: Via Campesina com MST
Alimentos saudáveis não podem ser produzidos por meio de relações doentias! O trabalho das mulheres camponesas na produção agroecológica e na defesa dos bens comuns tem significado político, social e econômico, visando protagonismo e autonomia como prática feminista, principalmente na construção do Feminismo Camponês Popular.
É importante visibilizar esses espaços de construção, considerando que ainda vivenciamos no campo relações de gênero hierárquicas, patriarcais e racializadas, facilmente observáveis no cotidiano das comunidades/assentamentos/acampamentos. Como Moura, Marques e Oliveira (2016) constataram em estudos realizados em áreas de assentamentos e outras comunidades, as mulheres participam da produção agrícola familiar; no entanto, uma forte desigualdade de gênero invisibiliza esse trabalho, demonstrando que a divisão sexual do trabalho permeia a organização da vida nos territórios.
Uma maneira de tornar o trabalho das mulheres invisível é por meio do conceito de “ajuda”, em que suas múltiplas viagens ao campo, à cooperativa e ao lidar com os animais são consideradas meramente complementares ao trabalho dos homens, assim como sua renda é entendida como suplementar à renda familiar — essencialmente como “ajuda”. Além disso, a responsabilidade pelos cuidados domésticos, pelo quintal e pelas pessoas ao redor delas continua a recair quase exclusivamente sobre as mulheres da casa, muitas vezes atribuída às meninas em tenra idade, impactando seu acesso à educação, seu tempo para brincar como uma prática necessária para o desenvolvimento cognitivo e seu direito ao lazer e ao descanso.
Historicamente, o trabalho das mulheres tem desempenhado um papel essencial no desenvolvimento da agricultura e da natureza. Este trabalho abrange o cuidado com as sementes, a domesticação de plantas e animais, o manejo de áreas cultivadas e o planejamento dos ciclos de produção, plantio e colheita guiados por conexões com os ciclos naturais, como as fases da lua e as estações.
As mulheres desenvolveram grande parte do conhecimento sobre plantas medicinais, árvores frutíferas e seus vários usos em diferentes biomas, materializados principalmente por meio do cuidado com as sementes, que são vistas como um bem comum de interesse da humanidade — “sementes, a herança dos povos a serviço da humanidade”.
Todo esse conhecimento foi e continua sendo fundamental para o desenvolvimento da agricultura, do cuidado com a terra e a natureza, e muitas vezes lhes custou a vida na fogueira, acusadas de bruxaria. A relação das mulheres camponesas, da água e das florestas com o cultivo da terra é antiga. Seus saberes e práticas ancestrais contribuem para a preservação de biomas, florestas, nascentes e agrobiodiversidade. Sua busca constante por novas formas de produzir dá sentido à sua produção, protegendo a diversidade, os territórios, os biomas e as formas de utilização dos bens da natureza, remodelados cotidianamente, dando um sentido comunitário à vida.
Portanto, para construir a agroecologia como um projeto contra-hegemônico ao agro-hidro-mineração-negócio, é importante recorrer a esse conhecimento histórico das mulheres, fornecendo não apenas uma perspectiva diferente sobre “novas formas de produzir”, mas uma nova maneira de ver o mundo, as relações de gênero, as relações de trabalho, o cuidado com a vida e os bens comuns, com foco em como nos relacionamos uns com os outros e com a natureza.
Nessa construção, o Feminismo Camponês e Popular se torna fundamental, como estratégia de resistência e projeção de mudanças necessárias nas relações de gênero e raça, e nas relações produtivas e sociais no campo, entre rural e urbano, compreendendo a inter-relação corpo-território. Para as mulheres, a agroecologia é um caminho coletivo viável para preservar os bens comuns e a vida natural e social. Assim, seguimos nossas práticas de cuidado ambiental e ancestral, enfrentando cotidianamente a destruição da vida.
Obs.: Via Campesina – Esta nota de Kátia Gomes, do MST, editada por Fernanda Alcântara, foi publicada originalmente no site do MST .
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