26 de abril de 2020

“O Brasil precisa ser dirigido por alguém que já passou fome”.

A frase de Carolina Maria de Jesus, autora de “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”, segue profundamente atual. Vivemos num Brasil ainda desigual e que dá, a muitos dos seus filhos, a miséria como destino. Enfrentamos agora uma pandemia, que torna a realidade mais difícil para todos. Mas, sabemos que, aqueles que mais necessitam desde antes, seguem ainda mais carentes do poder público, sem acesso adequado à saúde, à moradia digna e mesmo ao pão que assegura a vida.

Organizado para resistir a isso, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) tem realizado, em todo o Brasil, a campanha “Mutirão Contra a Fome”. Uma campanha nacional de arrecadação e distribuição de alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade social e econômica, incluindo as pessoas em situação de rua.

As ações estão espalhadas por todo o país e já levaram mais de 50 toneladas de alimentos a mais de 1.500 famílias que vivem em bairros populares de oito estados brasileiros: Piauí, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia e Minas Gerais. O trabalho de distribuição desses produtos agroecológicos que, usualmente, não integram a cesta básica, pode ser resumido em um termo: solidariedade. Segundo Leomarcio Araújo, dirigente do MPA, esse é o sentimento que evidencia a ação camponesa. O Movimento se vê responsável por ofertar aquilo que sua base social produz e foca seus esforços na busca de apoio para levar alimento aqueles que mais precisam.

Para a coordenação do MPA, a ação é uma resposta popular aos efeitos das medidas neoliberais adotadas nos últimos anos, que promoveram o desmonte de direitos trabalhistas e levaram muitas famílias ao desemprego e a condições extremamente precárias em trabalhos informais. Segundo o IBGE, o Brasil tem quase 12 milhões de pessoas sem emprego e pelo menos 38,4 milhões atuam na informalidade.

A crise sanitária e de saúde pública provocada pela pandemia do novo coronavírus, impõe ainda mais desafios para um país de dimensões continentais, alto índice de pobreza e desgovernado por um presidente que se recusa a implementar medidas propostas pela Organização Mundial de Saúde.

Para Rafaela Alves, da Coordenação Nacional do MPA, o objetivo da ação é intervir na melhoria concreta de vida da população e, ao mesmo tempo, construir a solidariedade com quem pode ajudar. Durante a live de lançamento da campanha, no dia 9 de abril, ela lembrou que a palavra “mutirão” faz parte da vida dos camponeses e está tomando uma nova dimensão no contexto atual. “Trata-se de uma mobilização coletiva, com o objetivo de realizar uma ajuda mútua entre nós! No nosso uso cotidiano camponês, fazemos mutirões para construir nossas casas, por ocasião de roçada, colheita, dentre outros. E, também agora faremos mutirão para enfrentar essa crise”, explicou Rafaela.

Nesse sentido, mais do que prover assistência emergencial, o MPA quer fortalecer a organização do povo, realizando uma aliança por soberania alimentar entre o campo e a cidade. Assim, a campanha também envolve a construção de Comitês Populares de Abastecimento, espaços em que outros movimentos sociais e organizações de cada localidade podem se unir em torno da questão do alimento. Esse contato facilita o planejamento e a execução da campanha nos diferentes estados, municípios e bairros brasileiros e amplia a área de atuação do Mutirão.

No Rio de Janeiro, as ações da campanha já ocorreram com o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, com Associações de Moradores e com o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. Danilo Pereira, da Coordenação Estadual do MTST/RJ, conta que, através do Mutirão Contra a Fome, o MPA e o MTST entregaram cestas de alimentos saudáveis produzidos por pequenos agricultores para 50 famílias da comunidade de Santa Luzia, em São Gonçalo. Para Danilo, é preciso ter como horizonte “a construção de um futuro em que essas iniciativas do povo da roça e da favela se cruzem, se fortaleçam e se disseminem ainda mais”.

Contribua!

É possível contribuir com a campanha “Mutirão Contra a Fome”, coletiva ou individualmente, através da doação de gêneros alimentícios ou financeira (que será destinada à compra de alimentos). A divulgação da campanha com manifestações de apoio e adesão em vídeo também é bem-vinda. O material poderá ser veiculado nas mídias sociais do movimento, ajudando a espalhar ainda mais o Mutirão.

As doações em dinheiro podem ser realizadas por transferência bancária por pessoas físicas e jurídicas. A conta para depósito é da Associação Nacional da Agricultura Camponesa (ANAC), CNPJ: 05.357.888/0001-38, Conta Corrente: 1572-0; Agência 0721; Operação 003 – Caixa Econômica Federal.
O MPA está comprometido com a organização de um sistema de comunicação capaz de assegurar o acesso a informação de patrocinadores, apoiadores e parceiros da campanha. As doações serão gerenciadas pela Associação Nacional da Agricultura Camponesa (ANAC), que garantirá a prestação de contas e transparência através do site nacional do MPA.

Hoje, 27 de abril de 2020 será realizada uma live (transmissão online) sobre a campanha do MUTIRÃO CONTRA A FOME fomentada pelo MPA.

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Por Bárbara Nascimento, Bruna Távora e Tarsila Döhler – Brigada de Comunicação Popular do MPA/RJ
Fotos: Comunicação Nacional do MPA.

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