30 de agosto de 2016
A presidenta Dilma Rousseff é alvo constante de discursos tanto de ódio quanto de amor. Opiniões polarizam-se. No entanto, é inegável que trata-se de uma mulher forte. E aí não é mais uma questão de opinião, basta uma pesquisa no Google sobre sua história para constatar. No Acampamento Nacional em Defesa da Democracia e dos Direitos, próximo ao Estádio Mané Guarrincha, em Brasília, mulheres de diferentes lugares do Brasil que têm em comum o mesmo vigor que Dilma se encontram para apoiar a presidenta no cargo que lhe foi dado democraticamente.
A psicóloga Cida Alves e sua filha Celília Alvez vieram de Goiânia, Goiás, para “participar da história.” “Estamos aqui e o sentimento é de solidariedade com a coragem de todos e de Dilma Rousseff ao enfrentar aquele Senado”, conta Cida. A psicóloga trabalha com vítimas de violência no âmbito intrafamiliar, onde atua com casos de violência física, sexual, psicológica e e.t.c. Também possui um Blog, o Educar sem Violência<http://toleranciaecontentamento.blogspot.com.br/ >. Questionada sobre se, ao longo dos 17 anos em que acompanha esses casos, notou aumento ou diminuição das estatísticas desse tipo de violência, ela fala que, na verdade, houve aumento das notificações, isto é, as pessoas hoje denunciam mais. Agora é sua vez de denunciar, o golpe. “A união de pessoas de vários lugares do país fortalece a nossa resistência.” Conta ela. E emenda: “O que acontece hoje é de uma gravidade que poucos parecem ter real noção. É um rompimento da democracia!”
Conceição da Maria de Jesus, de 40 anos, é uma piauiense do município de Campo Grande do Piauí. Desde os 14 anos de idade faz parte do Movimento dos Pequenos Agricultores, mas já cresceu no meio graças à sua mãe. Ela conta que a polícia costuma ser agressiva com os integrantes do Movimento, principalmente com as mulheres. Conceição já sente os impactos do governo Temer. Ela os conta nos dedos: “ O primeiro tem a ver com a Garantia-Safra, o governo, além de não nos pagar mais, nos obrigou a devolver R$ 1, 708 dessa benefício. Duas primas minhas já receberam cartas solicitando o pagamento desse valor e que seriam punidas se não pagassem”, declara. A garantia-Safra é um seguro pago pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), do governo federal, para agricultores que se encontram em municípios cujo fenômenos naturais ocasionam perca de safra.
O segundo toca o Banco Nordeste, a agricultora lamenta que o banco parou de financiar a produção de seu ofício. Ela diz que a comercialização do que produz os agricultores surgiu em 2007, durante o governo Lula, através da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que comprava seus produtos e os doava para periferias, famílias carentes, presídios, escolas agrícolas e e.t.c. À época, o pacto gerou uma renda no valor de R$ 1,600 ao ano por agricultor. Já no ano passado, a renda anual alcançou a marca de R$ 8,000 por agricultor, segundo Conceição. Desde que Temer assumiu o poder, o Conab abortou o trato, afirma a mulher de calos na mão. Seu marido, Emiliano José da Silva, de 65 anos, há um mês não recebe a aposentadoria.
Eulis Ferreira de Andrade tem 54 anos e nem parece, apesar do tempo já lhe marcar bastante. Mineira, mudou-se para Brasília aos 2 anos de idade, onde vive até então. Já trabalhou em casa de família, já foi boia-fria e também trabalhou com coleção de milho, tempo esse de que recorda sorrindo: “na colheita, era os pozinhos de milho que me banhava a cabeça toda, um trabalho cansativo, mas faz parte da vida né.” Hoje ela mora num acampamento do MST. “ A gente vive lá em busca da reforma agrária, comemos alimentos sem venenos, plantados só com adubos. Essa é a nossa vida, nosso objetivo.” Enquanto eles brigam pelo direito à moradia, Eulis se indigna com o quadro brasileiro atual: “Éssa época é uma vergonha para o Brasil. O vício pelo dinheiro causou isso tudo. Quanto mais poder mais se quer”, conclui ela, que, com o sorriso típico de seu semblante, mantém uma leveza que vai na contramão do caos por que passa o país.
Bem articulada e de uma inteligência que flui pela cadência de sua fala, Niniréia Maciel , uma professora de história de 47 anos, viajou do município de Itapipoca, Ceará, onde mora, para Brasília. “Vim para protestar contra o desmonte desse país”, diz. Ela elenca políticas educacionais dos últimos anos que impactaram positivamente na vida de jovens da região onde vive: “O Fies, o Prouni e o Enem são programas que deram perspectiva para a juventude daqui, que antes seguiam a carreira dos pais, como diarista, pedreiro e e.t.c. Os Institutos Federais se multiplicaram no interior do estado, evitando o êxodo rural”.
A professora afirma que o Bolsa Família é o que movimenta a economia local através do consumo gerado pelo valor pago. Ela estima que, dos recursos econômicos do município, 80% provêm do Governo Federal. Com as ameaças de reduções drásticas nos valores injetados, ela se questiona: “como aquela cidade vai ficar?” ao lembrar do período anterior ao do Bolsa- Família, quando os saques a comércios eram constantes na cidade. Ela também se põe contra a venda de refinarias a preço de banana e teme as ações do Governo Temer que “não inclui recorte LGBT, de gênero, ou racial, pois são socialmente invisíveis para esse governo”, conclui, antes de continuar seguindo em direção a Esplanada dos Ministérios com o braço esquerdo empunhado.
Por Pedro Lopes – Comunicação da FBP
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