11 de outubro de 2020

As mulheres compõem 70% da população do mundo que passa fome, segundo dados da ONU! A feminização da pobreza é parte da vida das mulheres quando as condições de manutenção da vida recuam/retrocedem em seus territórios. No Brasil, elas são maioria inscritas nas políticas/programas sociais e, por isto, as mais atingidas por cortes, desmontes e perdas de direitos e, hoje, com manobras conservadoras do atual governo, sentem a mão violenta, patriarcal e racista, mas seguem se desdobrando para produzir, alimentar e manter suas famílias.
Sabemos que no Brasil as mulheres são as principais responsáveis pela gestão e cuidado familiar/comunitário, onde, já em 2015 se demarcava que 28,9 milhões de famílias eram chefiadas por mulheres.

Neste momento, já se alertava o avanço do capitalismo em precarizar o trabalho de diversos setores invisibilizados com forte presença feminina, a exemplo das trabalhadoras informais, autônomas, pescadoras, camponesas, empregadas domésticas e tantas outras. Neste contexto, ser camponesa é um desafio, principalmente, quando estas têm o papel essencial de afirmar os territórios camponeses como territórios que semeiam a resistência a partir da ação contra hegemônica da produção de alimentos de base agroecológica. Do embate direto com este cenário é que as camponesas do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) forjam-se em luta e produzindo uma diversidade de alimentos!

É pelas mãos das mulheres camponesas que passam 80% da diversidade produtiva nas roças (cuidando do chamado “miúdo”, que termina sendo o “grosso” do que chega às mesas brasileiras: legumes, verduras, frutas, hortaliças, criação dos pequenos animais e etc). As camponesas, segundo Censo Agropecuário de 2017, coordenam/dirigem várias roças/estabelecimentos/sítios pelo país, a saber: 538 mil na região Nordeste; 136 mil na região Sudeste; 112 mil na região Norte; 104 mil na região Sul e, por fim, 57 mil na região Centro Oeste do país, contribuindo econômica, política e, socialmente, para o avanço do país, mesmo sendo marginalizadas, em muitos casos, por diversos seguimentos estruturais do atual Governo conservado.
Com estes elementos afirmarmos que nosso papel é o de produzir alimentos, por isto seguimos atentas, pois o nosso grande escudo de defesa é o alimento e a nossa prioridade é a defesa da vida, fortalecendo o abastecimento popular e a luta feminista campesina construída no cotidiano dos nossos territórios. Temos como nosso dever resgatar o saber camponês no cuidado com as ervas, os bancos de sementes, nossos artesanatos, nossa cultura, nossa música, afirmar nossa educação camponesa, nossa juventude, nossa ancestralidade e tudo que relaciona nosso modo de viver e o nosso saber popular.

A Jornada de luta, além de fortalecer a necessária disputa política e ideológica, nos provoca a fortalecer os diálogos junto aos camponeses/as para seguir firmes na labuta do cuidar de si e dos nossos territórios – com todo aprendizado oferecido pelas mulheres camponesas que nos antecederam nos territórios – para que possamos seguir fortalecidas e construindo redes comunitárias de solidariedade social, política e contra a violência da fome sobre às mulheres, contra o neofascismo que nos cerca e em defesa do alimento, pois num momento de crise não admitiremos seguir sendo alvo da fome e nem do ataques atuais sobre nossas vidas, nossos alimentos e nossos territórios.

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