12 de maio de 2023
Marcos Corbari
MPA Brasil e Brasil de Fato RS | Brasília (DF)
O Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) colocou de 10 a 12 de maio a comunicação popular em debate. Comunicadores de todas as regiões do país vinculados ao campesinato se encontraram na Casa de Retiros Assunção, em Brasília, trazendo suas diferentes experiências territoriais para a mesa de debate. “Nosso grande objetivo foi trazer as experiências dos estados para agregar no nosso Plano Nacional de Comunicação e identificar as potencialidades dos nossos comunicadores e comunicadoras que possam ser agregados ao planejamento do movimento nos próximos 5 anos”, pontuou Mateus Além, que responde pela setorial de Comunicação na Direção Nacional do MPA.
“Nosso papel enquanto comunicadores populares é reafirmar o direito à comunicação enquanto dimensão de direitos humanos e prática cidadã que compõe o camponês e a camponesa enquanto narradores de seu tempo, protagonistas de suas lutas também no espaço simbólico, se fazendo sujeitos da própria história”, pontua Além, qualificando o processo comunicativo do movimento sendo construído como processo educativo/comunicativo, numa perspectiva freireana.
“O direito humano à comunicação se manifesta em plenitude justamente no processo da comunicação popular, anti-hegemônica por princípio, constitutiva de seres por natureza e multiplicadora de saberes por fim”, reflete Valter Israel da Silva, dirigente o MPA no Paraná e comunicador vinculado ao coletivo “Brajeiradas”, no município de Pinhão (PR).
As atividades foram delineadas a partir de macro-temas trabalhados ao longo do encontro: Análise de Conjuntura, apresentada por Anderson Amaro e Planejamento, por Marcelo Leal, ambos da Direção Nacional do Movimento, no primeiro dia; Plano de Comunicação do MPA, diagnósticos das experiências nos estados e perspectivas de curto, médio e longo prazo, tendo como mediadores Mateus Além e Vani Souza, ambos da Direção Nacional do Movimento. Também foi apresentado um calendário com as principais atividades do MPA previstas para os próximos meses e ao longo do segundo semestre todo, com especial destaque para a ação “Alimentar 5 milhões” que será desenvolvida em conjunto com outras organizações aliadas.
“Nestes três dias de encontro, debates e construções pudemos nos conhecer, trocar experiências e principalmente identificar riquezas que a gente tem, entre nossa diversidade, com os mais diversos sotaques, trazendo conosco os diferentes chãos onde pisamos e as diferentes gentes que somos e representamos, uma diversidade que precisamos valorizar”, apontou Vani Souza. “Podemos ser poucos ainda, mas fazemos bastante. Vamos ser muitas e muitos mais e vamos sim fazer muito mais”, completou.
Também fez parte da programação um momento de mística camponesa e partilha de saberes a partir do pré-lançamento do livro “Tempo dos Cardos: A saga de João Leonardo e o massacre do Molipo”, de Celso Horta (in meorian). A atividade, que contou com a presença da filha do autor, Joana Horta, que integra o coletivo de comunicação do MPA pelo estado da Bahia, assim como o convidado José Dirceu, que conviveu e manteve laços de companheirismo com o autor, que infelizmente faleceu sem ver o seu livro publicado.
“Fico muito satisfeita de apresentar Tempo dos Cardos neste encontro de comunicadores populares do MPA”, afira Joana Horta. Explica ainda que o personagem histórico retratado, João Leonardo, foi um militante que teve a vida ceifada pelo Estado Ditatorial, por lutar pelos direitos do povo do campo. “Para mim não há lugar mais seguro e acolhedor para essa memória”, acrescentou. Pontuando que cada uma e cada um tem uma responsabilidade a cumprir frente o que foi conquistado às custas de muitos sacrifícios, Joana afirmou ainda que “o personagem dessa história, João Leonardo, tombou, mas nós resistimos. Ele tombou, mas nós estamos aqui”. Para a comunicadora fica uma certeza: “A luta é a vida. A vida é a luta!”
José Dirceu expressou toda força do companheirismo construído com João Leonardo e Celso Horta e, através dessa evocação fez memória nominal a todos os companheiros e companheiras integrantes do “Grupo dos 28”, ligado ao Movimento de Libertação Popular, citando aqueles que foram assassinados, os que faleceram nos períodos seguintes e também os que permanecem como memória viva de uma geração que ousou sonhar e se dispôs a lutar por democracia e socialismo. “Nós sonhamos e conseguimos. Nós vencemos a ditadura. Neste livro deixamos um pouco da memória destes que deram a vida pelo sonho de um Brasil democrático e Socialista”, afirmou Dirceu.
No espaço do lançamento do livro também pronunciaram-se o historiador Mateus Moisés e o comunicador Mateus Além. Ambos ressaltaram o papel da comunicação popular como instrumento de preservação da memória e de mobilização para a construção da história. “É tarefa dos comunicadores garantir um legado de memória e resistência, para que se possa compreender o campesinato como se apresenta hoje a partir dos seus processos históricos”, apontou Moisés. “Uma das coisas que o campesinato tem de mais especial é a produção de vida. E hoje estamos aqui para celebrar a vida e a memória e a história de todos os lutadores e lutadoras do povo”.
Um evento referencial será realizado em Rondônia, a 7ª edição da Festa Camponesa, de 14 a 16 de julho, no município de Jaru. “A soberania alimentar, que em síntese é produzir alimento de qualidade e em quantidade para abastecer os povos e combater a fome, é o tema que perpassa a Festa Camponesa desde sua primeira edição e é uma das principais bandeiras de luta da Via Campesina internacional, a festa é o momento que o campesinato faz esse diálogo com a sociedade”, alinharam os representantes de Rondônia no encontro, Jeieli Borges e Olga Santana, sobre sua importância para garantir a identidade e afirmação camponesa, e o debate sobre alimentação saudável e os direitos dos camponeses e camponesas. A festa contará com diversas atrações, momentos políticos, e, claro, o tradicional café camponês.
A programação iniciará na manhã do dia 14 com análise da conjuntura nacional e internacional e pela tarde seguirá debatendo “Os Desafios da Produção de Alimentos Saudáveis e Justiça Social na Amazônia”, a noite contará com apresentações culturais de artistas e cantadores populares da região. No segundo dia, pela manhã e pela tarde estarão acontecendo simultaneamente seminários temáticos e oficinas práticas dos mais diversos temas como: Saúde Integrativa, Feminismo Camponês e Popular, Crise Climática na Amazônia, Gênero e Diversidade, Agroecologia Camponesa, Produção de Açúcar Mascavo, Apicultura, Derivados do Cacau, entre outras, além do Ato Político Cultural à noite com diversas atrações locais e nacionais. Para o encerramento está previsto o momento mais tradicional e esperado da festa, o café camponês, que contará com a produção diversa do campesinato rondoniense, sendo partilhada com todos os presentes.
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