8 de agosto de 2017
2 de agosto de 2107, 18h45m, o aparelho de televisão do Bar do Hélio Becker está ligado, as pessoas encostadas no balcão com um olho no monitor, outro no copo de cerveja ou de ‘refri’, como se diz no Sul, acompanhando a votação no Congresso Nacional, a maioria de votos ‘sim’ a favor do presidente golpista, ‘não’ contra, os espectadores do Bar falando mal ‘desses deputados ladrões que não pensam no povo’.
2 de agosto de 2017, 19h, mesmo Bar do Hélio, na Linha Bastian, município de Vale do Sol, interior do Rio Grande do Sul, agricultores/as familiares, camponesas/es vão se acomodando nas cadeiras em sala contígua de onde está o aparelho de tv. Está começando a Assembleia do Mutirão da Esperança Camponesa, organizada e realizada pelo MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores). (De vez em quando saio da reunião para dar uma espiada no andamento e resultado da votação no Congresso.)
O Mutirão da Esperança Camponesa – Quem Alimenta o Brasil Exige Respeito – acontece no município de Vale do Sol durante toda a semana. Já aconteceu em outros municípios gaúchos, está acontecendo em 19 Estados brasileiros. É “em defesa da comida saudável e da dignidade de quem produz. Todo cuidado é pouco”. Discute um “Programa Camponês – Comida de verdade para o campo e a cidade. O MPA defende a criação de um Programa Nacional de Produção, Industrialização, Beneficiamento, Armazenagem, Distribuição e Comercialização de Alimentos saudáveis, através da Agroecologia e da Transição agroecológica. O Programa Camponês é proposto como política de Estado, estruturante da produção e da vida camponesa”.
O Mutirão defende o direito de produzir e vender os produtos da agricultura camponesa. Propõe Bolsa para permanência dos jovens no campo: “A juventude é o presente e o futuro da nação. Por isso, é fundamental a constituição de uma Nova Geração Camponesa”. Defende ainda o Farmácia em Casa: plantas medicinais e alimentação para ter uma boa saúde. Propõe a retomada imediata do Programa de Construção de Casas para as famílias agricultoras e simplificação da burocracia para acesso à moradia.
Diz o folheto do Mutirão: “Em crise: soja, fumo milho, leite e integrados. A crise econômica está chegando nas casas das famílias agricultoras, principalmente dos pequenos. Mas até os médios agricultores estão sentindo a crise.” Assume o Plano Popular de Emergência que a Frente Brasil Popular está propondo para juntar forças populares e tirar o Brasil da grave crise em que a burguesia o mergulhou. “O MPA propõe resumir este Plano em quatro palavras/temas/símbolos: Emprego, Alimento, Moradia, Energia.”
O Mutirão se estende por quase uma semana, feito por militantes locais e militantes que vêm de outras regiões. Durante o dia, acontece a visita família por família, nas Linhas e Comunidades do município de Vale do Sol. Conversa-se sobre o sentido do Mutirão, distribuem-se folhetos, faz-se o convite para as Assembleias da noite. São visitadas autoridades do município, lideranças, escolas, igrejas, organizações locais, comércio. O almoço é coletivo. O pouso é na casa dos agricultores, na base da solidariedade. No final, há uma Assembleia Geral de todas as comunidades, com presença do cantor Antônio Gringo.
Os jovens do MPA, do próprio município e vindos de outros pontos do Rio Grande, ‘comandam’ os grupos de visitas e coordenam as Assembleias. É a nova geração nova formando-se como liderança e assumindo o protagonismo.
Nas Assembleias locais e na Assembleia Geral final, os jovens falam sobre os problemas que enfrentam, estimulam os jovens presentes a participar de grupos para estimular a cultura, o esporte, o lazer e a formação política. O franciscano Frei Sérgio Görgen explica o que está previsto na Reforma da Previdência proposta pelo governo golpista: “Nenhum passo atrás nas conquistas históricas das lutas camponesas. Aposentadoria das mulheres aos 55 anos e dos homens aos 60 anos com 01 salário mínimo e aumento do valor em 8% a cada cinco anos. E aí temos que mostrar nossa força de luta de novo.” O capuchinho Frei Wilson Zanatta fala da saúde, da alimentação saudável, de chás e ervas: “Tenha sempre presente: o melhor da Medicina Natural é a prevenção, é o uso preventivo das plantas medicinais. O MPA tem uma proposta de Horto Medicinal, que pode iniciar com 20 plantas e formar uma pequena farmácia natural para prevenir e curar as principais enfermidades e doenças que afetam a vida do nosso povo.”
E eu achava que conhecia o Rio Grande! Os morros, altos, de Vale do Sol estão cheios de bosques e matas. Os vales são sinuosos e cheios de verde. Um dia foi de sol intenso, a poeira enchia as estradas e gargantas de terra. Outro dia foi de chuva, muito esperada, porque este ano deu-se o Siebenschläfen (em Vale do Sol ainda se fala muito alemão): dependendo de como foi o clima nos primeiros doze dias de janeiro, vai-se saber o clima do resto do ano. E o nevoeiro cercava morros, carros, vales e não deixava enxergar, especialmente à noite, nenhum palmo à frente do nariz.
Mas, são, sobretudo, dias de lutas e sonhos. Na Escola Família Agrícola de Vale do Sol, instalada numa velha Brizoleta (escolas construídas nos anos 1960 pelo então governador Brizola no interior do Rio Grande), mais de 30 jovens alunos, que ficam uma semana em casa, uma semana na escola durante três anos, fizeram uma Roda de Conversa ao redor da mesa onde estava posta a comida, mãos dadas e ouviram a explicação do Mutirão e o convite para as Assembleias.
Há luta, pois. Há sonhos, pois. Ou seja, o governo golpista ganhou apenas uma batalha, mas está longe de ganhar a guerra. Disse Antônio Gringo: ‘Unidos somos uns gigantes/ sozinhos não somos nada’. E cantou na Linha Bastian, Vale do Sol, Bar do Hélio Becker, com ajuda de todos os presentes na Assembleia final ‘Pequeno Gigante’, de sua autoria: “Pequeno em movimento/Gigante na produção/Unidos na agricultura/ para alimentar esta Nação.”
O Mutirão da Esperança Camponesa, no seu trabalho de base, formação, informação e organização, na construção de lutas e sonhos é, pode e/ou deve ser o Mutirão da Esperança de todos os lascados, excluídos, de todas/os agricultoras/es, camponesas/es, trabalhadoras e trabalhadores deste país chamado Brasil que lutam por direitos e democracia.
Por Selvino Heck para o MPA Brasil
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