4 de outubro de 2017
Milhares de pessoas se concentraram em frente à sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, no Dia Nacional de Luta em Defesa da Soberania, convocado pela Frente Brasil Popular, nessa terça-feira (3 de outubro), dia de aniversário de 64 anos da estatal do petróleo. Os 4 mil atingidos por barragens de 20 estados brasileiros presentes no Encontro Nacional do MAB também engrossaram essas fileiras.
Na grande marcha, os manifestantes também pararam em frente à Eletrobrás, estatal da eletricidade, que o governo golpista de Michel Temer quer privatizar. Eletricitários, além dos trabalhadores da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE) e da Casa da Moeda – todas no pacote de privatizações – decretaram paralisação no dia de hoje.
O ato também contou com a presença do ex-presidente Lula. “Defender a soberania é mais que defender a Amazônia, mais que defender as águas e os rios. Mais que defender as fronteiras. Mais que defender o ecossistema. É mais que defender o salário e a pauta de reivindicação. É defender a dignidade e a honra de um povo, que só vai acontecer se tiver educação, saúde, trabalho e cabeça em pé criando sua família”, afirmou em discurso.
“A defesa da soberania nacional se faz urgente na atual conjuntura em que o governo golpista de Michel Temer busca entregar riquezas estratégicas com a desculpa de reduzir o déficit fiscal. Isso vai aumentar a dependência do Brasil em relação às economias centrais, aumentar a pobreza e o desemprego, retroceder no desenvolvimento da ciência e tecnologia e nas políticas públicas. E a energia tem um papel central nessa estratégia, sendo muito cobiçada. Não à toa, os maiores ataques são à Eletrobras e à Petrobras”, afirmou Alexania Rossato, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). O 8º Encontro Nacional do MAB elegeu a questão da Soberania como um tema central.
Contra a lógica da financeirização
De acordo com Cibele Vieira, diretora da Federação Única dos Petroleiros (FUP), a Petrobras é a empresa que simboliza a defesa da soberania nacional desde sua criação, a partir da campanha “O Petróleo é Nosso”. Segundo a petroleira, “hoje é um ato contra o desmonte do estado, pela soberania nacional e a Petrobras desde a sua criação é um exemplo disso, ela carrega essa história. A Petrobras não pode servir para dar lucro para acionista e nem reduzir o déficit fiscal”.
“Nós, petroleiros e petroleiras, percebemos nitidamente a mudança de uma empresa que tinha uma preocupação social, uma preocupação de segurança, com o meio ambiente, para uma empresa que passou a focar em lucro. Isso ataca diretamente a gente que está no dia a dia da empresa. Nossa vida está em jogo, inclusive. Tem aumentado os acidentes fatais na Petrobrás desde que começou a Lava Jato, quando a empresa começou a ter que responder ao mercado financeiro”, afirmou.
Entrega do pré-sal
O que está em jogo atualmente é uma disputa em torno do modelo de exploração do pré-sal. A riqueza, de 176 bilhões de barris, é responsável por colocar o Brasil como o país com a terceira maior reserva de petróleo do mundo, atrás apenas da Venezuela e da Arábia Saudita. Essa riqueza está sob risco de ser entregue às empresas privadas com o fim da exclusividade da Petrobras na operação do pré-sal. De acordo com Cloviomar Pereira, economista do Dieese, a medida proposta pelo senador José Serra (PSDB) poderá tirar até R$ 1 trilhão em investimentos em saúde e educação.
Para a jovem Lucinete Trindade, militante do MAB e atingida pela hidrelétrica de Belo Monte (PA), a luta é essencial. “Como a Petrobrás e o pré-sal são nossos, nada mais justo do que essa riqueza ser distribuída para o povo brasileiro através de investimentos em saúde e educação”.
Quem paga a conta é o povo
O vendedor ambulante Antônio disse que não pôde participar da manifestação por estar trabalhando, mas afirmou que atos como este têm todo o seu apoio. “Os governantes aproveitam essa crise que é do Estado, pegam o que é do povo e jogam fora. Eles têm muita grana e estão pouco ligando para o povo. O povo vai ter que vir para a rua porque está muito difícil”.
Miguel Azevedo, petroleiro aposentado, também somou-se à manifestação. “Quem descobriu o pré-sal foi a Petrobrás, não foram as empresas estrangeiras. E agora estão querendo entregar esse patrimônio construído pelo povo brasileiro. Como petroleiro, é duro ver o que a gente construiu ser entregue de forma tão banal”.
Por Comunicação do 8º Encontro do MAB
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