12 de março de 2018
Para a maioria das mulheres no Brasil e no mundo o 08 de março, dia Internacional da Mulher, é tido como um dia de luta internacional. Além disto, é visto também como uma data que tem inspirado os movimentos feministas mundo afora a se mobilizar e organizar-se entorno da luta das mulheres. No momento atual, a partir do massacre dos direitos da classe trabalhadora pelo capital, o 08 de março ressignifica sua simbologia, já que a palavra de ordem das mulheres do campo popular é lutar, insistentemente, pela permanência dos direitos, soberania e pela democracia.
Como dizia José Marti, “nada causa mais horror à ordem que mulheres que sonham e lutam”. No Brasil, o dia de ontem, foi marcado por intensas lutas das mulheres de diversos movimentos populares. As mulheres ocuparam às ruas, praças, rodovias, órgãos e espaços públicos, assim como representações do capital financeiro como agências bancárias do setor privado, Parque Gráfico do Jornal O Globo no Rio de janeiro e filiadas Globo nos Estados, tudo isto por entender que a emissora está entre os principais atores do golpe, operando, ativamente, na política para manter seus lucros e o monopólio da comunicação.
Com o tema “Camponesas em Luta: Contra a Violência, por Direitos, Democracia e Soberania alimentar!”, milhares de mulheres camponesas do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) construíram ações em todo país como parte da Jornada de Lutas do 08 de Março. Como traz Leila Santana da DN/Coletivo de Gênero Nacional do MPA, “a presença das camponesas nas lutas unitárias trouxe a força, a mística e a simbologia do enfrentamento feminino camponês contra as forças conservadoras do golpe presentes na atual política brasileira e teve um papel crucial, que é o de reafirmar o projeto popular para o Brasil que queremos e a centralidade da democracia neste processo”.
No Rio de Janeiro, 800 mulheres de diversos movimentos populares ocuparam o parque gráfico do jornal impresso O Globo no Rio de Janeiro, que pertence ao grupo Globo Comunicação em defesa da Democracia. O objetivo da ação, iniciada às 5h30 da manhã, foi denunciar a atuação decisiva da empresa sobre a instabilidade política brasileira. As manifestantes destacam a articulação da Globo no processo do golpe, desde o impedimento da presidenta Dilma em 2016 até perseguição ao presidente Lula, para inviabiliza-lo como candidato em uma eleição democrática, e, a intervenção militar no Rio de Janeiro.
“Viemos dar este aviso à Globo porque ela é a maior atriz que promove o golpe no país. Por isso as mulheres do campo popular vieram dar um primeiro recado a esse grande alvo das lutadoras neste 08 de março”, explica Josineide da DN do MPA que ainda completa, “a Globo é contra o povo e promove a intervenção para dar golpe nas eleições deste ano”.
Em Santa Catarina as mulheres do campo e da cidade realizaram atos em Curitibanos no dia 6 e 8 de março, Lages e São Miguel do Oeste, no dia 8 de março denunciando os dados estrondosos da violência nos municípios do interior. “117 200 denúncias no meio urbano e 174 denúncias do campo, dados de 2017 referente as ocorrências recebidas pela delegacia da mulher em São Miguel do Oeste”, relata Alcione do MPA. Assim como, realizaram uma série de denúncias em frente à loja Havan, responsável por sonegar impostos e dever R$ 168 milhões ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
No Pará as mulheres do MPA trancaram por 5 horas a BR que liga Belém a Brasília, realizaram audiência com INCRA, marcha pelas principais ruas da cidade de Ulianópolis, onde na Delegacia Civil fizeram uma denúncia coletiva sobre a violência contra as mulheres e contra os assentamentos.
Na Paraíba a MPA participou da IX Macha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia realizado pelo Polo da Borborema. O ato aconteceu na cidade de São Sebastião de Lagoa de Roça e denunciou o golpe que acontece no país e a retirada dos direitos das mulheres, além da luta por igualdade e contra a violência sofrida diariamente pelas mulheres Paraibanas.
Em Rondônia, com o lema “Mulheres por Democracia, Soberania e Autonomia” as mulheres da Via Campesina (MAB, MST, MPA e CPT) trancaram a rodovia no Belmonte, região portuária de Porto Velho, por onde passam todos os dias a gasolina e gás que abastece a capital e ao redor. Cerca de 500 mulheres trancaram a estrada para denunciar as altas tarifas que a população vem pagando em decorrência do golpe, e da entrega do país. Após mais de 4 horas de trancamento, e uma fila imensa de caminhões parados a marcha seguiu rumo a avenida 7 de Setembro, onde formaram a Marca Unitária das Mulheres Rondonienses contra o retrocesso de direitos, organizado pela Frente Brasil Popular.
No Pernambuco na região do Araripe, as mulheres do Fórum de Mulheres do Araripe realizam um ato público em defesa dos direitos das mulheres, pela democracia, contra a reforma da previdência e contra o fechamento das escolas do campo. As manifestantes também denunciaram o aumento da violência contra mulher e exigem a implantação de uma delegacia especializada. O ato saiu de frente à Rádio Voluntários da Pátria, em Ouricuri (PE) e seguiu em caminhada pelas principais ruas da cidade.
Em Salvador – Bahia, as mulheres reuniram sindicatos, movimentos do campo, da cidade, de bairros e o movimento negro em um lindo ato. “Com a bandeira da democracia e contra o golpe, aos poucos a mulherada foi chegando e o ato cresceu bastante” relatam as mulheres do campo popular e os diversos movimentos de mulheres do campo e da cidade, revelando a grandeza e a diversidade das mulheres em luta.
Em Colatina- ES, mais de 500 mulheres do MPA, MAB, MST, pescadoras e sindicatos ainda bem cedinho trancaram a BR 259 e realizam atos de denuncia na prefeitura do município, nas agências da Caixa Econômica Federal e Bradesco e na agência do INSS. Denunciando a crescente violência contra as mulheres e comunidade LGBTs, denunciam os crimes ambientais da Samarco e da Vale, e, a retirada de direitos da Classe Trabalhadora.
Em Teresina – PI, as mulheres do MPA, MAB, MST, FETAG, SINESP e Levante Popular da Juventude iniciaram as atividades ainda na terça-feira, 6, com ocupação de órgão público e audiências no dia 7/03. No dia 8/03 somaram-se ao grupo que já estava em ação, as mulheres da Frente Brasil Popular, Movimento Negro e partidos que marcharam pelas principais ruas da cidade até a Praça da Liberdade, denunciando a retirada de direitos da Classe Trabalhadora, o aumento da violência conta as mulheres e comunidade LGBTs, bem como, Capital Financeiro, o monopólio dos veículos de comunicação e seu papel no golpe.
No Rio Grande do Sul, mais de 600 mulheres do MPA, MST, MAB, MTD e Levante Popular da Juventude iniciaram a jornada de lutas no dia 6, no Assentamento Capela em Nova Santa Rita com uma Plenário com a presença da ex-presidente Dilma Rousseff. No segundo dia de atividade as mulheres realizaram uma análise da conjuntura e um estudo sobre as Mulheres na Revolução Russa, pela parte da tarde ocuparam a CONAB exigindo a liberação imediata do orçamento, de cestas básicas para as famílias acampadas, compra direta e realizaram uma audiência com os responsáveis pelo órgão. No terceiro dia da Jornada, 8 de março, as mulheres do campo e da cidade realizam protesto no TRF-4, em Porto Alegre, contra a criminalização dos movimentos sociais, a seletividade da justiça brasileira e o auxílio-moradia dos juízes.
Com o lema “Mulheres com Rebeldia, por direitos e Democracia!” em Aracaju – SE, mulheres da Consulta Popular, Levante Popular da Juventude, MOTU, MST, MPA e MCP, realizaram intervenção na porta do poder judiciário, denunciando a omissão da justiça que mata mulheres todos dias, somam-se 15 casos de feminicídio entre os anos de 2016 a 2018 somente no Estado. Na ocasião a Brigada de Juventude do Grupo de teatro Raízes Nordestinas usou da peça “As Margaridas” para denunciar a violência contra as mulheres e comunidade LGBTs durante o ato.
Em Brasília -DF, cerca de 200 mulheres ocuparam a Superintendência Regional do INCRA, denunciando a violência contra as mulheres, o agronegócio e o avanço do governo Temer sobre os direitos da Classe Trabalhadora. O Grupo de Teatro Político do FAMA (Fórum Alternativo Mundial da Água) se somou na ocupação que teve como lema: “Quem não se movimenta não sente as correntes que as prendem”.
Em São Paulo a palavra de ordem que marcou do início ao fim o #8M fala essencialmente sobre direitos, sintetizada assim: “Pela vida das mulheres!”. Na ocasião milhares de mulheres fortaleceram a resistência feminista e o recado final foi dado: seguiremos em marcha até que todas sejamos livres! Todos os dias serão 8 de março.
A diversidade dos atos e o alcance das ações realizadas de Norte a Sul do Brasil, mostram mais uma vez a força das mulheres do campo, das florestas, das águas e da cidade. Tornam-se a resistência e a vanguarda, neste momento de acirramento da luta de classes, denunciando este projeto posto que não as contempla, não as quer vivas, não as querem em processo permanente de luta. O desafio é grande e, por isso, as mulheres estão em luta como sujeitas na construção do processo, assumindo o comando até que todas sejam efetivamente livres.
“Mulheres contra a violência, mulheres contra o capital, mulheres contra o machismo e o capitalismo neoliberal”
Por Adilvane Spezia | Jornalista – MPA e Rede Soberania
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