10 de outubro de 2021
Vani Souza
MPA Brasil | Ouricuri (PE)
As belezas da região do Araripe no Pernambuco são deslumbrantes e de grande importância geológica e arqueológica. Estudos mostram que há presença humana naquela região datada de 100 mil anos atrás. Foi nesta região que ocorreu, no último sábado, a oficina sobre Feminismo Camponês e Popular, que marcou a volta dos encontros presenciais do Movimento dos Pequenos Agricultores no estado e teve mulheres não só da região do Araripe e do Sertão Central.
Mas não pense que a história da região é suficiente para garantir os direitos das camponesas que ali vivem. Os relatos que chegaram da oficina são de muitos retrocessos. As mulheres analisaram a conjuntura política nacional e o cenário de fome no país, versaram sobre como esta realidade afeta o território: como o aumento de preço de alimentos e do gás de cozinha, atingindo principalmente elas pelo papel que cumprem nas famílias. A fome é uma realidade cruel.
Quem coordenou a oficina foi a companheira Leila Santana, dirigente nacional do MPA e uma das coordenadoras do Coletivo de Gênero do movimento. Leila comentou sobre sua participação na oficina. “A oficina, enquanto primeira atividade formativa ampla de mulheres, após pandemia, nos permitiu refletir sobre o papel das camponesas neste atual momento, mas, ao mesmo tempo, nos convoca a assumir um lugar estratégico na condução das lutas atuais e, principalmente, de reposicionamento das nossas forças para reconstrução do projeto popular que fale e afirme a vida, vida digna para as mulheres camponesas e os seus territórios.”
Um dos debates centrais da oficina foi de como a fome aumentou no Brasil. Em 2014 havíamos saído do mapa da fome mas, desde 2018 a fome voltou a colocar o Brasil em em seu radar. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), a fome atingiu naquele ano 10,3 milhões de pessoas, o que é equivalente há 4,6% da população do país, sendo que 2,6 milhões de famintos estavam na zona rural.
Com Bolsonaro a fome tornou-se estratégia política. No final de 2020, segundo o estudo realizado pela pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan),9% da população, isto são 19,1 milhões de pessoas, enfrentavam o nível mais grave de insegurança alimentar, o que se chama de fome. O salário-mínimo já não consegue garantir as condições básicas das famílias, levando em consideração que muitas sobrevivem com menos desse valor.
Já não bastasse o aumento do preço e a falta de auxílio para a produção de alimentos desde o campesinato, há uma outra realidade gritante no sertão. No período de estiagem, o acesso a agua torna-se cada vez mais difícil. D. Abigail Lorena da comunidade quilombola Pau de Leite, município de Mirandiba, relata as dificuldades para ter água em casa. “A comunidade não tem água encanada e nesse período o caminhão-pipa abastece uma cisterna por 120 reais, sendo que um carro-pipa de água é divida com mais uma família”, comentou a camponesa.
Em pleno 2021, esta é a realidade das comunidades do sertão. Uma realidade que
havia ficado no passado. E que Bolsonaro trouxe ao presente novamente com o enfraquecimento do programa de 1
Milhão de Cisternas desenvolvido pela Articulação do Semiárido (ASA). O programa possibilitou que milhões de famílias tivessem acesso à água e armazenamento da mesma, também possibilitou que milhares de mulheres tirassem a lata d’agua da cabeça, assim como evitou que tantas outras mulheres mais jovens sofressem com dores na cabeça e coluna pelo peso da lata.
Há o programa Operação Pipa executado pelo exército que garante distribuição e acesso à água potável para consumo de muitas famílias camponesas em período de estiagem, mas muitas comunidades se encontram como área descoberta, sem abastecimento. O que dificulta e põem em risco a qualidade de vida das famílias. Em Pernambuco, atualmente, a Operação Pipa atende uma população de 549.770. É necessário afirmar a importância desse programa para famílias do semiárido brasileiro, mas não é suficiente, isso requer mais investimento do governo para ampliar a atuação e garantir água potável as famílias em período de seca.
Durante a oficina as mulheres refletiram o seu papel na luta, na produção de alimentos, na soberania alimentar e sobre os desafios de combater a violência. Pelo Censo Agropecuário de 2017, as mulheres coordenam/dirigem um considerável número de roças pelo país, a saber, só na região Nordeste são 538 mil. As mulheres são centrais no processo organizativo nos sistemas de produção camponeses que tem na sua centralidade a agroecologia. “Estar aqui é provocar, refletir sobre o Feminismo Camponês e Popular, a partir do MPA e dos desafios desta conjuntura nos territórios campesinos, é firmar o papel de luta das mulheres camponesas na organização popular, na produção de alimentos e na luta contra a fome e sede”, comenta Leila Santanta.
Os desafios são inúmeros, desde o processo organizativo das mulheres, a garantia de sobrevivência seja pelo produzir alimentos, seja pelo acesso à água, seja o direito de lazer, aos espaços de poder e de decisão. “Por isso a oficina trabalhou no refletir as questões e problemas sociais, machismo, patriarcado e sua estrutura de poder, também as condições que as mulheres se encontram nas comunidades e as saídas para enfrentar no cotidiano, se organizando coletivamente, pautando condições primeiro de viver, mas as condições de trabalhar, produzir, se alimentar e comercializar”, anuncia Leila Santana. As mulheres têm papel central na transformação da estrutura social, na construção de uma sociedade justa, livre do machismo, patriarcado e capitalismo.
A atividade foi organizada pelo coletivo de gênero do MPA no estado, da Associação Nacional de Agricultura ANAC e com o apoio da Bizilur, da Agência de Cooperação do País Basco e do Conselho Foral da Bizkaia.
Mulheres em Luta, por Soberania Alimentar e um Brasil livre da fome!
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