15 de dezembro de 2021
Pequenos agricultores denunciam a falta de políticas públicas para mitigar os impactos da seca no estado
Mateus Quevedo
Edição: Katia Marko
Brasil de Fato | Porto Alegre
Pelo terceiro ano consecutivo a seca afeta o plantio da safra anual no RS, período que vai de outubro a dezembro. Com a falta de chuvas muitos agricultores relatam a perda ou a baixa qualidade da lavoura plantada.
A denúncia foi feita pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) em uma roda de conversa virtual, nesta segunda-feira (13), com lideranças regionais para entender o impacto e as possíveis saídas para a estiagem deste ano, que é acumulativa e têm trazido consequências extremas como a volta da fome para famílias camponesas no interior do estado.
“Estamos vivendo uma estiagem severa, que atinge de maneira muito grande os pequenos e médios agricultores, uma seca que já dura em algumas regiões cerca de 45 dias, sem nenhuma chuva”, revela Frei Sérgio Görgen, dirigente do MPA e que mediou a conversa.
Os agricultores revelaram que a safra de milho já está praticamente perdida e que a safra de soja e a produção de leite estão prejudicadas, e mesmo que as chuvas ocorram de forma mais regular a qualidade da safra será de baixa qualidade.
Nas regiões da cultura do fumo, como a região Centro Serra, o agricultor Leomar Fiúza, que mora em Arroio do Tigre, aponta que não é diferente. Segundo o agricultor a estimativa é de que quem plantou o fumo da variedade Burley nesta época da safra perca cerca de 70% da produção. “O fumo que foi plantado no cedo (safrinha) no começo de julho, agosto, que são poucos, ainda vão ter alguma coisa, mas não conseguirão pagar a conta do fumo do tarde (safra)”, aponta. Ele ainda revela que as empresas fumageiras chegaram a aumentar o valor de compra, mas, como não se tem fumo, não tem como vender.
Milho é uma das culturas mais prejudicadas
Os agricultores apontam que as culturas de feijão, batata e mandioca, que são, na maioria das vezes para subsistência, tiveram a colheita prejudicada, apesar de muitas famílias não terem nem conseguido plantar. A agricultora Vanderleia Chitto, da região do Alto do Taquari, moradora de Progresso, aponta que com a estiagem, praticamente, toda a produção foi perdida, tanto para feira quanto para própria mesa da agricultora, pra ela o mais preocupante tem sido a perda do milho. “Com a perca do milho não tem pasto pro gado, alimentos pros outros animais, aí ficamos sem leite e sem carne, é toda uma cadeia, e vai se transformando em um problema cada vez mais sério.”
Na região do Vale do Jacuí a questão do milho também levanta preocupações. A agricultura Rosiele Ludke relata que aqueles que têm pouca terra foram os mais prejudicados, porque não conseguem plantar o milho mais cedo, já que se trata de uma região fumageira. Rosiele é entusiasta da agroecologia e aponta pra diferença entre quem plantou a semente de milho convencional e de quem plantou a semente crioula. “A semente do milho crioulo é mais vigorosa, e tanto o plantio convencional quanto o transgênico tem tido quase que uma perda total, fora que não há dependência de insumos como ureia, que empobrece o solo e o agricultor, já que o preço aumentou”, revela a camponesa.
O agricultor Jorge Almeida, de Sagrada Família, na região Noroeste do estado, aponta que o milho também está sendo perdido. “Aqui na região estava dando aquelas chuvinhas de 20, 30 milímetros, exatamente quando o milho deveria receber muita água pra granar, e formar a espiga”, apontou Jorge. Ele coloca que a região é conhecida por ser grande produtora de soja, mas acrescenta que só em Lajeado do Bugre, município da região, são mais de 400 pequenas propriedades rurais e que estas seguem desassistidas pelos governos estadual e federal. “Agora o cenário é terrível por que não vai ter comida nas pequenas propriedades, mais grave que as outras, porque é cumulativa, nós estamos descapitalizados até para comprar os próximos insumos”, desabafa.
Nenhum crédito emergencial foi destinado à agricultura familiar
“Já tinha previsão desta estiagem e estamos vendo uma negligência do governo do estado, no mês passado a gente fez uma mobilização junto ao INCRA e ao governo estadual, precisamos urgentemente, nos municípios onde temos um alinhamento maior com a agricultura familiar, decretar o estado de emergência”, defende Claudimiro Cordeiro dos Santos, assentado da reforma agrária em Tupaciretã e dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
A mobilização citada por Claudimiro aconteceu no dia 16 do mês passado em frente ao Palácio do Piratini, em Porto Alegre, e reivindicava crédito emergencial para a produção de alimentos e combater a fome que aumenta no estado. Todos apresentaram a falta de políticas públicas como ação mais estrutural do poder público para auxiliar agricultores familiares como um dos motivos principais para a perda da produção e o consequente aumento da fome nas cidades do interior. Leandro Noronha, do município de Camaquã, na região do Vale do Camaquã, afirma que os agricultores já vêm de um endividamento, causado pelas secas anteriores e que, assim como faz com os grandes proprietários, o governo também deveria ajudar os pequenos.
Leandro aponta ainda que há muitos agricultores de médio porte que não chegaram a plantar 20, 25% das lavouras de soja e que não podem falar porque senão perdem o seguro. “Há uma pressão das seguradoras e do sistema financeiro para se plantar em qualquer situação”, acrescenta. Ele ressalta que mesmo que o preço e produção foram altas no ano passado, não renderam tanto porque o preço dos insumos está mais alto. “O agravante é que quem tem poucos animais, estão matando e congelando, para ter carne pro Natal, mas estão apavorados com o preço da luz”, completa.
A reportagem procurou a assessoria da Secretária de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do RS que indicou o programa ‘Avançar na Agropecuária e no Desenvolvimento Rural’ que conta com um aporte para a construção de cisternas e de açudes, mas não apresenta nenhuma saída para a mitigação dos problemas e perdas que as famílias agricultoras já estão enfrentando.
Segundo o meteorologista da secretaria, Flavio Varone, a estiagem é consequência de ‘La Ninã’ e que em janeiro as chuvas devem se regular. Provando que a secretaria reconhece o problema. A reportagem também procurou a Secretária de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, mas até o fechamento da edição, não obteve respostas.
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