Elas podem ser definidas como núcleos urbanos, normalmente instalado nas capitais, com o fim de organizar um conjunto de consumidores dispersos para consumir alimentos orgânicos.
“Tem um fim econômico, porque facilita a venda, e também político, já que envolve valores relacionados à economia solidária e à agroecologia, por exemplo. Porque comer é um ato político”, afirma Marcelo Leal, da direção estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) do Rio Grande de Sul.
“Se a pessoa quer comer manga o ano inteiro, a gente senta na mesa e explica que, para isso acontecer, ou a fruta vem de navio, da Ásia, ou atravessa o país de caminhão, poluindo tudo no caminho. Isso não é bom para ninguém”, explica o professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Pedro Henrique Weirich Neto, coordenador do Laboratório de Mecanização Agrícola (Lama).
O Lama dá treinamento para que pequenos agricultores produzam de forma sustentável, fornecendo alternativas às soluções apresentadas pelo agronegócio, que além de vender sementes e insumos, envia técnicos até mesmo para construir as instalações.
Entre os projetos desenvolvidos no laboratório está o de venda direta para grupos de consumo. Atualmente, quatro grupos de produção com três ou quatro agricultores cada distribuem cerca de 170 sacolas com produtos orgânicos para consumidores fidelizados.
Melhor que feira
Vilde de Oliveira, morador de Piraí do Sul (PR), participa do projeto. Ele engordava pintinhos para a Perdigão. A empresa construiu a granja, fornecia as aves e o alimento e determinava quanto peso cada um deles deveria ter num determinado espaço de tempo.
“Para gente não sobrava fazer nada. Só o dinheiro mesmo”, conta. “Mas a gente acabava tendo prejuízo mesmo assim. Era bem complicado porque os pintinhos chegavam no meio da madrugada, de dia de noite, não tinha hora e a gente tinha que receber. E às vezes o lote demorava pra chegar e a gente perdia dinheiro”, explica o agricultor que planta hortaliças.
“Aqui é bom. Sempre tem comprador. Na feira, a gente colhia e às vezes não tinha venda. E o pessoal aqui sabe dar mais valor para o produto que a gente traz”, comemora Oliveira.
“A gente percebeu que tinha produtos muito bons, mas que não adiantava colocá-los no supermercado para que só 50% do valor da venda ficasse para o agricultor”, pontua Weirich Neto. “Os preços de cada sacola variam entre R$ 15 e R$ 25. Mas ele é definitivo entre o comprador e o produtor”, afirma o professor.
O dirigente do MPA lembra que o agronegócio estrutura uma série de equipamentos para monopolizar o consumo: a venda para as grandes redes de supermercados, para os fast foods e para os centros de distribuição. “Já os camponeses não têm esses equipamentos para disputar. Então, as cooperativas de consumo ajudam a furar esse conjunto que determina o que se consome e, como consequência, mudam o que é produzido”, pondera Leal.
Edição: Camila Rodrigues da Silva