20 de julho de 2016
No caso mais recente, jovem foi baleado e perdeu um dedo da mão; violência envolve espancamento e queima de casas.
Na manhã desta segunda-feira (18), um jovem de 17 anos foi baleado por um pistoleiro na ocupação rural denominada Capela, no município de Piraquê, no Tocantins – um dos dedos da mão do rapaz foi decepado com o disparo.
Segundo relatos de moradores, três pistoleiros fortemente armados chegaram na área e, após balearem o rapaz, disseram que caso os outros ocupantes continuassem naquelas terras, eles iriam matar todos.
O registro de conflitos não para por aí: na última sexta-feira, dia 15 de julho, famílias sem terra que ocupam uma área da União, conhecida como Tubarão, no interior do município de Wanderlândia, foram surpreendidas por pistoleiros que invadiram seu acampamento, fazendo uso de violência brutal.
As famílias relatam que, por volta das 15h, um grupo de homens encapuzados e armados as atacaram, incendiaram seis barracos, efetuando disparos de armas de fogo contra as pessoas e amarrando cinco delas. Finalmente, obrigaram as famílias a saírem da área usando de agressões físicas e ameaças psicológicas.
Informada sobre os casos, a Delegacia Estadual de Repressão a Conflitos Agrários (Derca) disse apenas que enviou três agentes para averiguar a situação na região.
Tais ocorrências de violência vêm se multiplicando e se agravando nos últimos três meses, pipocando de forma preocupante em diversas áreas da região.
Comprometida com a defesa intransigente do direito e da vida, especialmente dos mais necessitados, a Comissão Pastoral da Terra Araguaia-Tocantins (CPT) vem a público denunciar uma onda de violência que assola o campo com o acirramento das agressões dirigidas contra trabalhadores e trabalhadoras em luta por terra desta região norte do estado do Tocantins.
ATENÇÃO: Imagem forte abaixo!
Vejamos: em meados do mês de maio, o acampamento instalado às margens da fazenda Mata Grande, no município de Santa Fé do Araguaia, foi palco de bárbara agressão comandada pelo próprio fazendeiro. Pistoleiros encapuzados adentraram efetuando disparos, ameaçaram as famílias e agrediram à pauladas quatro lideranças do grupo.
No mês de junho, outros dois grupos, em Carrasco Bonito e Boqueirão, sofreram o mesmo processo de violência, com pistoleiros atacando o acampamento, fazendo ameaças e praticando barbaridades contra as famílias.
Na sexta-feira 8 de julho, o Sr. Genivaldo Braz, uma liderança da ocupação Gurgueia, no município de Araguaína, foi assassinada enquanto dormia em seu barraco. Este trabalhador – bem como outras lideranças da comunidade – vinha sofrendo ameaças há vários meses. O crime está sendo investigado pela Polícia Civil.
Ao menos quatro destas áreas de conflitos (Tubarão, Carrasco Bonito, Gurgueia e Boqueirão) tratam-se de terras que pertencem ao patrimônio da União. A destinação prioritária de tais áreas públicas deveria ser o atendimento às necessidades das famílias que precisam de terra para produzir seu sustento, o que implicaria uma ação firme dos órgãos públicos competentes.
Há informações de que, no fim de junho, foi organizada uma reunião no município de Carrasco Bonito com mais de 50 pessoas, dentre elas fazendeiros e pistoleiros de cidades do Bico do Papagaio. As informações sugerem que o propósito do grupo seria articular uma força para matar famílias sem terras daquela região. A situação assemelha-se à vivida na década de 80, quando um grupo se reuniu em um consórcio e encomendou a morte de Padre Josimo Moraes Tavares, coordenador da CPT naquela época. Esse encontro, segundo informações, foi articulado pelo coronel aposentado da Polícia Militar conhecido por Parente – que se diz proprietário de uma das áreas em disputa.
Diante da onda de violência que se alastra entre comunidades camponesas em luta por terra, a CPT vem expressar seu apoio e sua solidariedade às pessoas agredidas e externar seu repúdio contra os autores e cúmplices dessas violências. Este é um cenário que infelizmente constatamos também em outras regiões do país.
O agravamento dos conflitos e das violências no campo já resultou em 36 mortos este ano no Brasil, de acordo com dados parciais registrados pela CPT – em 2015, foram 50 assassinatos em todo o país. Diante de todo este cenário, cobramos uma atuação firme e imediata por parte do Incra, do Programa Terra Legal, da Ouvidoria Agrária Regional e Nacional, da Delegacia Estadual de Repressão a Conflitos Agrários, do Ministério Público e dos demais órgãos competentes.
Comissão Pastoral da Terra Araguaia | Tocantins
Araguaína (TO), 19 de julho de 2016
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