3 de julho de 2018
O povo Kanela do Araguaia é descendente do povo Kanela Apãnjekra do Maranhão, e após o reconhecimento como povo indígena começaram a reivindicar uma área da união no município de Luciara Mato Grosso, a 1.188 km da capital Cuiabá, área em que vários de indígenas da etnia Kanela já viviam, na Aldeia Nova Pukanu, na Gleba São Pedro, em Luciara, Mato Grosso.
“Com muito trabalho, luta e organização passamos a usufruir da área com o objetivo de resgatarmos a cultura, termos aonde plantar nossos alimentos e vivermos novamente em família, mas fomos despejados por policiais militares a mando de fazendeiros, foram agressivos, embora não tenham machucado ninguém, foi muito horrível, pois fomos retirados no meio da noite, com chuva, tínhamos mulheres, crianças, idosos e tinha até uma bebê recém-nascida”, relata o jovem Rafael Kanela.
Situações como está tem sido bastante frequente com os Kanela do Araguaia. Depois do ocorrido, os indígenas ficaram acampados na cidade de Canabrava do Norte (MT) e após 11 meses retornaram para a Aldeia Nova Pukanu, onde estão há dois anos, porém os conflitos com fazendeiros e madeireiros não sessaram.
As investidas e ameaças por parte dos fazendeiros, por meio de pistoleiros e outras formas de amedrontamento, infelizmente, tem se tornado parte da rotina da aldeia. “Um certo dia recebemos a visita dos nossos parentes, alguns guerreiros da etnia Tapirapé que vieram até a divisa da nossa aldeia, que fica à beira do rio, eles estavam todos armados é diziam que essa área era deles é deram 30 dias pra gente sair, mas tudo se resolveu bem é depois de alguns tempos fiquemos sabendo que tinha fazendeiros por trás daquele movimento”, denuncia do jovem Kanela.
É comum aparecer alguns fazendeiros na aldeia exigindo a área, dizendo ter a escritura da área, como seu Manoel Feijó em novembro de 2015, que apareceu na aldeia, chegou levantando cercas pois dizia ter escrituras da terra. Porém, conforme estudo de qualificação de demanda da Fundação Nacional do Índio (Funai), há pelo menos 60 anos os Kanela do Araguaia, no Mato Grosso, vivem nas terras da aldeia Porto Velho, próxima ao município de Luciara. Seu Cândido e dona Julia Kanela deixam ao povo, todavia, relatos que chegam há 100 anos de ocupação. Tempo em que conviveram com grileiros e toda sorte de invasores, mas de um nunca se ouviu falar naquelas bandas: Manoel Botelho Feijó.
A reivindicação da área como Reserva dos Kanela do Araguaia já dura mais de dez anos, local em que os mais velhos foram expulsos em meados de 1954, relata Rafael. Casos como o ocorrido em 21 de maio de 2017, onde os Kanelas apreendem materiais usados por fazendeiros no desmatamento da área que se encontra em demanda judicial, mesmo após o pedido do procurador Wilson Rocha, da Procuradoria da República no Município de Anápolis, para que parasse o desmatamento, tem sido uma das formas que este povo tem de garantir que lhes reste um pedaço de chão, onde possam vivem com dignidade.
Na aldeia Nova Pukanu que significa terra da esperança, onde tudo se renova. Embora as ameaças tenham reduzido, as terras ainda não foram demarcadas, a luta e a resistência do povo Kanela do Araguaia tem assegurado a vida na aldeia. Órgãos como Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e órgãos da igreja têm se somado a luta pela demarcação da área e também nas denúncias. A Funai e o Ministério Público também têm conhecimento do caso, porém agem de forma lenta, denunciam os indígenas.
Por Comunicação MPA com informações do CIMI
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