14 de abril de 2020
A base do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) segue mostrando a força do campesinato no enfrentamento ao Coronavírus e a crise social que se implantou no a partir da acensão dos governos contrários ao campo popular e subservientes aos desmandos do capital. Com uma produção familiar e diversificada, pequenas propriedades camponesas do sertão de Pernambuco continuam produzindo e colhendo alimentos saudáveis durante esse período extremamente difícil para população brasileira e mundial.
Na comunidade Bom Lugar, no município de Bodocó, a família de Cícera Tavares e José Clementino, produz grande diversidade de alimentos no seu roçado de 5,3 hectares. A produção familiar pode ser facilmente identificada pela variedade de alimentos semeados como: feijão de corda, feijão guandu, milho, macaxeira (aipim), batata doce e abóbora. Também fazem parte do cotidiano produtivo as frutíferas como limão, acerola, pinha, caju, umbu, goiaba, noni, banana e macaúba. Ainda existe a horta, que tem coentro, alface, cebolinha, pimentão, pimenta de cheiro, pepino, bem como as ervas medicinais – alecrim, agrião, arruda, hortelã, entre outras. A família ainda tem criação de animais de pequeno porte como galinha e porco.
O MPA no estado cita o exemplo de dona Cícera e seu José para demonstrar a produção das famílias camponesas do Sertão, onde a característica principal é diversidade de alimentos em pequenas propriedades, garantindo com isso o seu próprio consumo e provendo a tradição de trocas de produtos entre as comunidades e destinando um excedente para a comercialização em feiras locais.
Pra entender essa dinâmica de produção diversificada e fartura no sertão é preciso destacar o processo histórico e social das famílias camponesas e sertanejas.
O semiárido brasileiro é o mais chuvoso do mundo, o que não quer dizer que chove sempre. Muitas famílias sofrem com a estiagem e chegam a plantar até três vezes por ano (seja por falta de água ou porque perderam sua produção na estiagem) na esperança de que possam garantir ao menos a sua alimentação. Uma ajuda para superar esses problemas climáticos enfrentados são (ou foram) as políticas públicas oferecidas pelo governo, como, por exemplo, o programa “Um Milhão de Cisternas (P1MC)” que, desde 2000, deu outro significado à vida das famílias camponesas do semiárido e, em especial, as famílias sertanejas. Posteriormente, em 2007, o P1+2 (continuação do P1MC) que foca na água para arranjos produtivos, possibilitou fortalecer a produção de alimentos e assim garantir melhores condições de vida na roça para o campesinato brasileiro.
O território do Araripe, faz parte da região semiárida do Nordeste, e ocupa uma área de 12.020,3 km², localizado na porção mais ocidental de Pernambuco. Por muito tempo o sertão foi exportador de mão de obra para as grandes cidades, sejam elas fora ou no próprio estado, como é caso de muitos camponeses que se deslocaram de seus municípios, deixando suas famílias para trabalhar no perímetro irrigado da fruticultura do Vale do São Francisco, principalmente em Petrolina – município no qual as famílias de políticos e donos dos meios de comunicação, como a família Coelho, exercem domínio sociopolítico.
O que víamos com frequência em períodos de estiagem foi se modificando de acordo com o acesso que os camponeses tiveram as políticas públicas, como as já citadas. Pode ser mencionado ainda os programas Bolsa Família, Crédito Rural, Seguro Safra, Luz Para Todos, entre outros que foram importantes no território do Araripe. Nesta região existe uma forte atuação de organizações sociais que compreendem a necessidade de avançar nas estratégias e estruturas de convivência, e investir num novo futuro para e com o semiárido, garantias de melhoria de vida e de direitos básicos para as famílias camponesas.
Vale destacar que a partir dos anos 2004 houve uma crescente produção de alimentos no Sertão do Araripe. O impacto cultural da mudança econômica foi tão grande que isso chegou até a acabar com o antigo imaginário popular que existia na região sobre as “viúvas das secas”. Mulheres que antes sofriam com o período da estiagem, hoje são protagonistas de um campo produtivo saudável, seja pela produção de grãos ou de animais de pequeno porte.
Era perceptível nesse período (de uma política pública voltada ao campo), como a agricultura estava sendo impulsionada, fortalecida e com olhar mais focado na produção de alimentos saudáveis. Houve uma significativa melhoria no campo e nas condições de vida do campesinato. Os saques nos mercados desapareceram, assim como se deixou de ter registros de pessoas morrendo de fome. A vulnerabilidade social diminuiu. O campo estava produtivo e com oferta de diversidade e trabalho, levando esperança para a população sertaneja. Os programas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), levaram condições sociais e garantiram alimentação saudável nas escolas e renda para os camponeses.
Hoje, as famílias camponesas entendem seu papel de produzir alimentos, garantir saúde e qualidade de vida aos que vivem no campo e na cidade, ofertando alimentos diversos e livres de agrotóxicos. Principalmente agora, na atual conjuntura de pandemia, o povo precisa enfrentar e combater a crise de saúde coletiva ocasionada pelo Covid-19 com alimentos de qualidade. Mas o MPA alerta que ainda há problemas no campo, que vem se agravando desde 2016. Os governos e presidentes, desde o golpe, retiraram os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, principalmente dos trabalhadores da roça. O atual Governo Federal segue esse processo de retiradas e desmonte das políticas públicas, e, para agravar, somente em 2019, liberou mais de 474 tipos de agrotóxicos no Brasil e deu sinais de que apoia somente o agronegócio e os latifundiários do país.
As famílias camponesas e sertanejas, que historicamente tem em suas raízes a resistência contra as cercas e arames farpados, continuarão produzindo e demonstrando que é possível gerar um abastecimento popular de alimentos saudáveis, sem venenos. O campesinato segue produzindo sem deixar de seguir os cuidados e orientações repassadas pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O sertão e seu povo seguirão lutando para deixar a paisagem da fome no passado, para que se garanta um horizonte de fartura com produção de alimentos diversificados e agroecológicos. O governo fará a sua parte?
Por Vani Souza – Comunicação do MPA
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |