21 de setembro de 2023
Mateus Pinheiro
MPA Brasil | Santo Antônio do Tauá
No dia 21 de setembro, celebramos o Dia Internacional de Luta contra as Monoculturas de Árvores. Esta data emblemática teve sua origem em um encontro de aproximadamente 200 pessoas das comunidades que enfrentam a dura realidade das monoculturas de eucalipto no Brasil, no ano de 2004. O propósito inicial dessa proposta evoluiu graças à valiosa contribuição de nosso saudoso companheiro e amigo, Ricardo Carrere, cujo entusiasmo e paixão pela causa continuam a nos inspirar.
Ao conceber o Dia de Luta, as pessoas reunidas nesse encontro buscaram maneiras de fortalecer suas lutas de resistência contra as monoculturas de árvores. Elas aspiravam a dar maior visibilidade a essas batalhas, bem como criar um dia para celebrar as conquistas territoriais, conquistas que devem ser lembradas perpetuamente, uma vez que resultaram de lutas travadas com grande sacrifício.
A importância da luta contra as monoculturas de árvores transcende fronteiras e abrange todo o mundo, da América Latina à Europa, da Ásia à África. Essa batalha global é fundamental porque as monoculturas de árvores representam uma ameaça multifacetada à saúde de nossos ecossistemas, à segurança alimentar e à sustentabilidade ambiental. Na América Latina, onde vastas extensões de florestas tropicais são transformadas em desertos verdes, a luta visa a proteção da biodiversidade e a preservação das culturas indígenas e tradicionais. Na Europa, onde as monoculturas de árvores comprometem a diversidade florestal, a luta se concentra na restauração de ecossistemas naturais. Na Ásia, onde a expansão descontrolada dessas monoculturas ameaça a segurança hídrica e a qualidade do solo, a luta é essencial para a subsistência das comunidades rurais. E na África, onde as monoculturas de árvores frequentemente ocorrem em áreas de alto valor ecológico, a batalha é pela proteção dos recursos naturais e do modo de vida de comunidades locais. Em todo o mundo, a luta contra as monoculturas de árvores é uma luta por um futuro sustentável, onde a biodiversidade seja preservada, as comunidades sejam respeitadas e a saúde do planeta seja priorizada.
Em muitos casos, nos diferentes continentes, as comunidades que se opõem ao avanço do “deserto verde” encontram-se frequentemente isoladas em suas batalhas. Elas são perseguidas e criminalizadas por uma coalizão de forças que inclui as polícias, as empresas, os governos e até mesmo os meios de comunicação. São acusadas de obstruir o desenvolvimento e o “progresso”, um “progresso” que infelizmente traz consigo mais exclusão, mais violência e mais injustiças.
Nas profundezas da Amazônia brasileira, as comunidades tradicionais enfrentam um inimigo implacável em nome do que é chamado de “desenvolvimento nacional” ou “economia verde” – as monoculturas de árvores. No cerne dessa luta, encontra-se a empresa BBF (Brasil BioFuels), cujas ações têm causado impactos devastadores nas vidas dessas comunidades. Este relato lança luz sobre os desafios enfrentados por essas comunidades heroicas na busca por justiça e preservação de suas terras.
Os monocultivos não são uma novidade na região, porém nos últimos anos, o cultivo de dendê (palma de óleo) tem se expandido rapidamente na Amazônia, com o estado do Pará no epicentro desse crescimento. A BBF emergiu como uma das maiores empresas do setor, controlando vastas extensões de terras e fornecendo suas colheitas para empresas multinacionais.
No entanto, essa expansão não ocorre sem custos significativos. A BBF tem as suas cifras de lucros manchadas pelo desmatamento, pela contaminação de rios e solos, sangue e violações dos direitos dos Povos Indígenas e das comunidades camponesas e quilombolas. O modelo de negócios da BBF se estende a áreas tradicionalmente ocupadas por comunidades, desencadeando conflitos territoriais de proporções alarmantes.
Na comunidade Virgílio Serrão Sacramento, no município de Moju, 38 famílias têm resistido firmemente contra os avanços da BBF na região do baixo Tocantins onde a monocultura ocupa boa parte do território dos municípios próximos como: Acará, Tailândia, Tomé-Açu e Bujaru.
Desde 2016 o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA Brasil) no Pará atua na comunidade na luta com as famílias, para a garantia do direito de permanecer na terra, garantir terra para a juventude e produção de alimento saudáveis, desenvolvendo práticas agrícolas sustentáveis, como a produção de farinha de mandioca, goma, castanha-do-pará, cacau, açaí e muitos outros produtos lutando para garantir a soberania alimentar no território. Para eles, a terra é mais do que um simples recurso, é a fonte de dignidade, renda e vida.
Essas famílias não apenas enfrentam acusações infundadas da BBF, como alegações de derrubadas ilegais e ameaças a funcionários da empresa, mas também encaram ações judiciais que buscam tirá-los das suas terras que têm ocupado por anos. A empresa tenta incriminá-las com argumentos falsos, desrespeitando seus direitos e valores.
As famílias da comunidade Virgílio Serrão Sacramento têm um histórico de luta pelo reconhecimento de suas terras e exigem que o ITERPA (Instituto de Terras do Pará) realize vistorias para a regularização fundiária em seu favor. Exigimos que a justiça não se mostre cega aos crimes cometidos pelos poderosos e não tome decisões arbitrárias.
O relato da comunidade Virgílio Serrão Sacramento é apenas um exemplo da resistência que ocorre em toda a Amazônia Paraense. As monoculturas de árvores representam uma ameaça real para o meio ambiente, os direitos humanos e as comunidades tradicionais. Neste Dia Internacional de Luta contra as Monoculturas de Árvores, é essencial que nos unamos em solidariedade a essas comunidades e nos comprometemos a proteger nossa biodiversidade e a justiça social. A luta pela Amazônia e por um futuro sustentável continua, e é uma responsabilidade de todos nós.
O Dia Internacional de Luta contra as Monoculturas de Árvores nos alerta da importância de permanecermos unidos na resistência. Essa data simboliza nossa solidariedade global com as comunidades que defendem seus territórios e lutam contra a expansão de monoculturas que ameaçam a biodiversidade e a sobrevivência de tantos.
Hoje, no 21 de setembro, renovamos nosso compromisso de combater as monoculturas de árvores, de defender a justiça ambiental e social e de criar um mundo onde o desenvolvimento seja sinônimo de inclusão, sustentabilidade e equidade.
Neste Dia Internacional, lembramos que nossa luta é necessária, nossa voz é poderosa e nossa solidariedade é inquebrável. Unidos, somos capazes de proteger nossas florestas, nossas comunidades e nosso planeta. É hora de agir.
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