28 de fevereiro de 2018
Começou nesta terça-feira (27), no Recife (PE), o Encontro Regional de Agroecologia do Nordeste (ERÊ NE) que reúne pessoas, organizações e movimentos da região em torno do lema: “Agroecologia e democracia unindo campo e cidade”. O ERÊ é um dos cinco encontros preparatórios para o IV Encontro Nacional de Agroecologia, a ser realizado em maio, em Belo Horizonte (MG), com realização da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).
Neste primeiro dia de encontro, o ERÊ Nordeste promoveu uma roda de conversa sobre que teve como pergunta provocadora: “como a agroecologia e a democracia unem o campo e a cidade?”. Todos os/as participantes foram convidados/as a responderem a pergunta em tarjetas que ficaram expostas no coletivo. Em seguida, Cristina Nascimento, do Cetra/CE e da Rede Ater Nordeste; Verônica Santana, do MMTR-NE; Lourdinha Silva, da Associação Quilombola de Conceição das Crioulas/PE; Luciano Marçal, da AS-PTA/PB; e Rud Rafael, MTST/PE, foram convidados/as a fazer uma reflexão a partir das reflexões coletivas.
Para Cristina Nascimento, da Rede Ater Nordeste, não será possível avançar em vários processos da agroecologia sem a democracia. Em sua fala, ela reforçou a importância das conquistas de políticas públicas implementadas nos últimos anos em nível nacional para o fomento de processos agroecológicos e que a construção do IV ENA deve ser de reafirmação das bandeiras de luta do movimento agroecológico e de denúncia do golpe que o país vivencia. “Como foi importante para nós o debate da Política de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) e dos Programas de Aquisição de Alimentos (PAA) e de Alimentação Escolar (PNAE), porque pautaram a importância de processos de assessoria baseados na construção do conhecimento. Isso só foi possível por conta de um Estado democrático de direito. É necessário fortalecer o momento de enfrentamentos e de resistência que estamos vivendo”, afirmou.
“Estamos vivendo um golpe e esse golpe tem se intensificado. Mas é importante a gente se animar e se alimentar a partir das nossas experiências concretas. Esses são ganhos que não vão tirar da gente. E é isso que nos alimenta para continuar nessa luta”, destacou Verônica Santana, do MMTR-NE.
Ela reforçou ainda a necessidade de se intensificarem as lutas a partir de agendas concretas para o fortalecimento da unidade. “Temos uma agenda concreta de resistência para construirmos, que é o 8 de março (Dia Internacional da Mulher). Entendendo que a luta e o projeto político das mulheres é para toda a sociedade. Também temos a Frente Brasil Popular convocando a construção do Congresso do Povo, e construir a unidade a partir das diversas bandeiras. O desafio é como trazemos isso para uma construção maior. E a largada para a Marcha das Margaridas, em 2019. Não sabemos como será o governo, mas sabemos que precisamos ir as ruas independente do momento político”, reforçou.
A democracia como prática e resultado da luta dos povos foi marcada por Lourdinha Silva, AQCC, ela destacou a vitória da população quilombola e de outros povos tradicionais com o reconhecimento da constitucionalidade do Decreto nº 4887/2003, no início deste mês no Supremo Tribunal Federal (STF), como resultado de muita luta desses povos. “A gente queria terra para plantar e viver por isso lutávamos para que o decreto não caísse, e estamos mostrando hoje para que viemos, porque estávamos na luta esse tempo todo”, afirmou.
O Decreto 4.887/2003 regulamenta o procedimento de identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação de quilombos.
Luciano Marçal, AS-PTA, provocou a plenária a fazer uma outra reflexão questionando em que medida a abertura democrática favoreceu a construção da agroecologia no Brasil, nos últimos anos? “São 30 anos de organização da sociedade de afirmação das diferentes identidades dos povos quilombolas, indígenas, produto de um processo de afirmação dos diferentes sujeitos que estavam no passado invisíveis. Vejo que democracia e agroecologia são temas que conversam e se alimentam profundamente”, disse.
A diminuição dos direitos dos trabalhadores/as foi uma das práticas e discursos mais reforçados pelo atual governo nos últimos meses, alertou Rud Rafael, MTST-PE, no entanto, o mercado sai ileso sem perdas, afirma. “Não investimos na narrativa de discussão do anti-mercado, em nenhum momento se questionou na crise a taxa de lucro das grandes empresas, mas sim de diminuir o direito dos trabalhadores”. Para ele, a agroecologia é um caminho importante de diálogo com as cidades, e é necessário denunciar o agronegócio. “A agroecologia, quem pode se colocar contra ela se não é o agronegócio? Ela tem uma perspectiva agregadora, que pode chegar no entendimento das pessoas a partir da necessidade de uma alimentação”, explicou.
O Encontro Regional de Agroecologia do Nordeste (ERÊ NE) segue até esta quarta-feira (28/02). No segundo dia de encontro acontecerão debates sobre diversos temas como políticas públicas para a agroecologia, juventudes, agriculturas urbanas, mulheres, feminismo, comunicação, entre outros.
Por Catarina de Angola – integrante do Terral Coletivo de Comunicação Popular
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