14 de junho de 2023

Reunião ocorreu em Banten, na Indonésia, entre os dias 29 de maio e 2 de junho de 2023; Leia a declaração na íntegra

Articulação de Jovens da LVC

Nós, jovens delegados camponeses da Ásia, África, Américas e Caribe e Europa d’La Via Campesina, nos reunimos no Encontro Internacional da Articulação de Jovens em Banten, Indonésia, de 29 de maio a 2 de junho de 2023. Dezenas de nós deixaram nossas comunidades para fortalecer relações, preparar a VIII Conferência e a 5ª Assembleia Internacional da Juventude da Via Campesina, desenvolver um plano de ação estratégica coletiva e, finalmente, demonstrar nosso compromisso com nosso movimento camponês.

Unidos na diversidade, compartilhamos desafios comuns, desenvolvemos estratégias e  alternativas conjuntamente e nos comprometemos a implementar estas propostas coletivas em um espírito de solidariedade, internacionalismo e transformação sistêmica. Refletimos sobre nossos respectivos processos, inquietações e dinâmicas regionais no marco da luta comum pela soberania alimentar e da luta pelos direitos dos camponeses.

Reconhecemos a importância de nos conectarmos não apenas com nossas raízes culturais, mas também de aprender com e com antigos membros de nossas organizações e comunidades, a fim de trazer suas experiências e sabedoria para nossas lutas atuais. Entendemos a importância de caminhar de mãos dadas para ampliar nossas bases, alcançar aqueles que lutam contra o capitalismo, o imperialismo e a colonização em diferentes frentes e forjar alianças com outros movimentos de juventude. Juntos lutaremos por um mundo baseado na solidariedade, na dignidade humana e na justiça social, ampliando a nossa presença em todos os espaços onde lutamos.

Hoje, mais do que nunca, estamos convencidos de que a agroecologia camponesa, os direitos camponeses e o feminismo camponês e popular são caminhos essenciais para a soberania alimentar e a justiça climática.

É com força e paixão inabalável que definimos durante nossa estada em Banten, delineamos nossas linhas de ação para enfrentar os desafios de nosso tempo. Somos solidários com as lutas pela soberania alimentar e estamos comprometidos em promover nossas prioridades políticas para fortalecer nosso movimento. Além disso, nos comprometemos a intensificar nossa luta contra a crise climática e aprofundar as discussões sobre sistemas agrícolas e novas tecnologias, enfatizando a prioridade da agricultura para e pelos camponeses, incluindo a preservação da biodiversidade e a integração do conhecimento tecnológico indígena. É essencial que entendamos claramente que a crise de renovação geracional na agricultura tem alcance global. Nossas organizações e campanhas sofrem com a crescente falta de jovens camponeses. Grilagem de terras, acordos de livre comércio e falta de acesso a mercados e recursos financeiros, entre outros, foram identificados como as principais causas da fuga de jovens da agricultura.

Ao mesmo tempo, assistimos a um fenômeno de migração forçada de jovens, que deixam seus territórios, e muitas vezes, seus próprios países, para se tornar uma força de trabalho explorada pelo agronegócio. Expressamos nossa solidariedade com as lutas pelos direitos dos migrantes e nos comprometemos a ampliar a mobilização dos jovens camponeses em nossas comunidades, fazendo valer nossos direitos garantidos pela Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Camponeses e demais Trabalhadores Rurais (UNDROP). Acreditamos que os jovens camponeses e camponesas são o futuro da alimentação, mas precisamos de uma mudança sistêmica radical para garantir o acesso aos bens comuns para todos e o apoio adequado para garantir meios de subsistência dignos na agricultura para todos nós e para as gerações futuras.

Nós, jovens camponeses, estamos determinados a mudar o mundo. Somos agentes de um futuro vibrante, exercendo o poder coletivo para desmantelar os sistemas existentes e levar a sociedade adiante. Ousamos sonhar com a utopia, e realizar o que pode parecer impossível, alimentar aspirações revolucionárias por um mundo justo e equitativo. Cultivamos a esperança radical enquanto lutamos e emergimos como arautos do amanhã. Agora é a hora de trazer alegria e criatividade ao nosso movimento e compartilhar nossas visões e soluções com o maior número possível de pessoas. Temos potencial para ser o ponto de virada que moldará o futuro do mundo e da sociedade.

Unidos, nos posicionamos contra as forças convergentes dos sistemas alimentares hegemônicos: capitalismo patriarcal, governos autoritários e corporações multinacionais. Esses neocolonizadores e esses capitalistas, protegidos por sua riqueza contra as realidades do mundo, não nos ouvirão. Mas isso não deve nos desencorajar: temos que criar sistemas alternativos nos quais queremos viver. Para isso, devemos ser organizados, disciplinados e determinados a expandir nosso movimento e alcançar nossos objetivos coletivos. Que nossas vozes ressoem por todo o planeta, chegando a todos os cantos.

Para alcançar a soberania alimentar em todas as escalas, os jovens devem abraçar a dinâmica da agricultura e da organização política. Os direitos dos camponeses, a justiça climática, a agroecologia camponesa, a soberania das sementes e a renovação geracional na agricultura devem ser os pilares do nosso discurso. Para atingir objetivos políticos e sistêmicos, devemos ser organizados. Em nosso encontro, nos comprometemos com tarefas específicas relacionadas à comunicação de nossas lutas, desenvolvimento de estratégias de educação política e fortalecimento de nossas estruturas organizacionais. Nos próximos quatro anos, trabalharemos juntos e assumiremos a responsabilidade pela implementação do plano de ação que criamos coletivamente.