3 de junho de 2024
Érica Oliveira
La Via Campesina
Visando fortalecer a agricultura camponesa e promover práticas sustentáveis, Sebastião Pinheiro, em parceria com o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), está conduzindo assessoria de cursos sobre agroecologia em várias regiões do Brasil. A formação tem como objetivo capacitar camponeses, estudantes das Escolas Família Agrícolas (EFA) e membros de outras organizações ligadas a Via Campesina e aos camponeses brasileiros.
Esse curso com o tema “Biopoder Camponês” busca elevar a autoestima dos camponeses e restaurar o conhecimento ancestral que há muito tem sustentado a agricultura camponesa. Pinheiro destaca a importância desse conhecimento como um patrimônio que deve ser reativado para enfrentar os desafios impostos pelo agronegócio, como a degradação do solo e da natureza.
Ele ressalta que os produtos camponeses são superiores em qualidade, quantidade e naturalidade. De acordo com Pinheiro, existe uma grande propaganda mercantil que promove a ideia de que o agronegócio é responsável por alimentar a população brasileira, o que ele considera um mito. “Quem realmente alimenta o Brasil é o camponês, com suas práticas sustentáveis e produtos de alta qualidade,” afirma.
O curso de biopoder camponês foi desenvolvido para capacitar os agricultores a utilizarem seus conhecimentos tradicionais e restaurarem práticas ancestrais. A proposta é permitir que os camponeses mantenham a produção de alimentos de alta qualidade sem depender de insumos externos caros e muitas vezes prejudiciais ao meio ambiente. “Nosso objetivo é que o camponês recupere sua autoestima e reconheça o valor de seu próprio conhecimento,” explica Pinheiro.
Este curso se posiciona claramente em antagonismo ao agronegócio, que é frequentemente associado à monocultura, ao uso intensivo de fertilizantes químicos e à degradação ambiental. “Enquanto o agronegócio promove a devastação do solo e da natureza, os camponeses preservam o meio ambiente e produzem alimentos saudáveis,” afirma Pinheiro. Ele argumenta que o agronegócio, com suas campanhas de propaganda, busca desinformar a população e criar um cenário de conflito, enquanto o verdadeiro alimento que chega às mesas dos brasileiros vem dos pequenos agricultores.
Nos últimos 60 dias, Pinheiro e o MPA têm realizado cursos e caravanas em várias regiões: 8 cursos na Bahia, 1 curso em Brasília, 1 caravana e 2 cursos planejados em Goiás e na assessoria de 2 cursos em andamento em Rondônia. Esses cursos são projetados para serem práticos e acessíveis, permitindo a participação de todos, inclusive das pessoas mais humildes. Pinheiro enfatiza a importância de não criar uma elite de conhecimento, mas sim de capacitar todos para perceberem sua importância na sociedade. Os cursos intensivos, que duram de 4 a 5 dias, ensinam cerca de 20 práticas. Há também um nível avançado que abrange até 42 práticas.
Desenvolvida ao longo de 40 anos, essa iniciativa tem mostrado resultados significativos. A participação dos camponeses tem aumentado, não só no Brasil, mas em toda a América Latina. Pinheiro acredita que a agricultura camponesa é crucial para combater a crise climática, promovendo práticas que protejam o solo e a paisagem.
A degradação ambiental no Rio Grande do Sul é um exemplo dos desafios que os cursos de agroecologia procuram mitigar. Pinheiro alerta que o estado tem perdido a capacidade de armazenar carbono no solo, substituindo a matéria orgânica por fertilizantes químicos concentrados. Esse processo tem levado a uma grande degradação do solo, resultando em desastres climáticos cada vez mais frequentes e intensos.
No ano passado, o estado enfrentou seis enchentes, culminando recentemente em um evento que, segundo Pinheiro, “valeu por seis”. Ele adverte que, se essa tendência continuar, desastres naturais como furacões e vendavais serão cada vez mais comuns, destacando a necessidade urgente de práticas agroecológicas para corrigir essa situação.
No dia 31 de maio, Pinheiro ministrou uma aula na Universidade Federal de Rondônia (UNIR) para povos originários brasileiros em Ji-Paraná. Ele destaca a importância de levar os valores culturais originários para as crianças, para que cresçam com autoestima elevada, mantendo suas tradições culturais.
Pinheiro enfatiza que o Brasil possui uma rica história de mais de 40 mil anos, que deve ser reconhecida e valorizada. Ele cita a domesticação de plantas como guaraná, mandioca, abacaxi e amendoim como parte de um legado que precisa ser preservado. “Com esse tesouro cultural, podemos construir uma sociedade mais rica, saudável e culturalmente profunda,” conclui.
Para Pinheiro, a valorização da agricultura camponesa não é uma confrontação, mas uma constatação da realidade. Ele destaca o conceito de biopoder camponês, que representa o poder de produzir de forma superior, com qualidade, em pequenas propriedades, preservando o clima. Através da formação política e técnica, Sebastião Pinheiro e o MPA estão promovendo e valorizando a herança cultural dos camponeses brasileiros.
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