1 de fevereiro de 2022
Nara Kikuchi
MPA Brasil | Rio de Janeiro (RJ)
No primeiro mês de 2022 o Movimento dos Pequenos Agricultores doou cerca de 1.860 kg de alimentos. Foram 206 cestas que saíram da roça de famílias camponesas direito para famílias organizadas nos Comitês Populares do Alimento. Com a campanha do Mutirão Contra a Fome, o MPA propôs a criação de Comitês Populares do Alimento, para ajudar na logística de distribuição e para ser um espaço de organização nos territórios pelo tema da alimentação.
“Nós já tínhamos o contato em algumas comunidades antes da pandemia, como associação de moradores, ou por algum contato que alguém tinha de alguém do movimento e criou esses grupos”, explica Beto.
No Rio de Janeiro, o MPA atende 172 famílias todos os meses, desde março de 2020, na Rocinha, Guararapes, Tavares Bastos, Morro dos Prazeres, Mangueira e Morro dos Macacos, além da Vila Projetada, em Niterói. O Morro da Formiga recebeu as cestas por um período e eventualmente o movimento consegue incorporar mais famílias, à medida que mais contribuições aparecem. Segundo o coordenador, as articulações já existiam antes da pandemia.
Até o momento, já foram distribuídas quase 300 toneladas de alimentos na cidade, para quase 19 mil famílias em situação de vulnerabilidade social e alimentar, com mais de 25,5 mil cestas básicas entregues durante a pandemia.
“Nós já vínhamos, em alguns momentos, fazendo doações para movimentos urbanos. Eu destaco a relação com o MTST, que a gente está construindo a nível nacional, e aqui no Rio também, a partir das cozinhas solidárias que eles estão construindo”.
Entre os parceiros fixos ou eventuais do Mutirão estão a Fiocruz, Sindicato dos Petroleiros RJ, a Federação Única dos Petroleiros, e o Sindicato dos trabalhadores do Colégio Pedro II, além dos recursos mobilizados a partir da Cesta Camponesa, que é o sistema de comercialização de produtos das famílias camponesas na cidade.
No Morro dos Macacos, em Vila Isabel, zona norte da cidade, o comitê parceiro é o Vila Isabel Vestibulares (Vive), um pré-vestibular comunitário. Uma das coordenadoras do Vive, a professora de história Taisa Falcão, explica que a distribuição de cestas básicas começou após as aulas serem suspensas por causa da pandemia e estudantes os procurarem relatando dificuldades.
“Primeiro a gente começou para dentro do próprio pré-vestibular. A partir dessas pessoas, a gente começou a formar uma lista. A princípio sempre com doações de recursos de amigos e a gente começou a entregar todo domingo 35 cestas, desde o dia 16 de abril de 2020. No mês seguinte a gente começou a se articular junto com o MPA e, além das cestas, a gente passou a receber também as doações da feira de orgânicos”, lembra a professora.
De acordo com Taisa, o comitê chegou a ter 800 famílias cadastradas para receber as doações, feitas todos os domingos para um público variável. Porém, com a diminuição das doações no fim do ano e o encarecimento dos itens, o grupo foi obrigado a reduzir a ajuda a 25 famílias fixas por mês.
“Quando chegou no final do ano, a gente decidiu tentar se concentrar num grupo específico e fomos tentando filtrar aquelas pessoas que a gente identificava que tinham uma vulnerabilidade alimentar ou então econômica maior. Por isso que esse grupo tem muitas mulheres, muitas idosas, mães solteiras, desempregadas”.
Em 2020, o Mutirão Contra a Fome entregou mais de 15 toneladas de alimentos no Morro dos Macacos. Taisa destaca que a ajuda parece nunca ser o suficiente, com muitas pessoas aguardando a entrega para tentar conseguir uma cesta também. Situação que deve perdurar mesmo que a pandemia de covid-19 acabe.
“Uma coisa é a pandemia acabar, outra é a situação de vulnerabilidade das pessoas. Especialmente no contexto que a gente vive, a gente tá num contexto de um governo que tem atacado diretamente a capacidade que a população tem de ser organizar, em termos econômicos, e além disso a gente tem o acréscimo de uma crise que já vem se prolongando não é de hoje. Então as pessoas que vivem aqui sofrem diretamente esse impacto”.
Com a entrega dos alimentos, a professora explica que o grupo aproveita para discutir política alimentar.
“A gente pretende aumentar a campanha para que a gente consiga, via pequenos agricultores, comprar feijão, arroz. Porque também é um debate interessante, para além dos alimentos que a gente consegue trazer com a cesta, fazer o debate sobre uma alimentação saudável, sobre o papel que o pequeno agricultor tem na entrega de comida na mesa do trabalhador. Então a gente pretende continuar”.
Entre as pessoas que recebem ajuda, o sentimento é de alívio e gratidão. Desempregada, Taísa da Silva de Vasconcelos, vendia tortas e salgados por encomenda, renda que sumiu com a pandemia.
“Ajuda bastante, eu pego todo mês. Até que dura bastante, porque às vezes a gente consegue outros lugares também, uma ajuda ou outra. Na minha casa somos seis pessoas, meu marido está desempregado também e temos quatro filhos”.
Depois de 4 anos desempregada, Adriana da Silva conseguiu emprego de serviços gerais em 2019. Mas veio a pandemia e ela foi mandada embora. Adriana conheceu o MPA por meio da distribuição das cestas e destaca que o complemento da agricultura familiar ajuda muito.
“As cestas costumam vir só com o básico mesmo, então uma verdura, um ovo, essas coisas ajudam bastante. As coisas estão bem caras, agradeço muito, primeiramente a Deus, em segundo a eles, porque se não fosse eles, no período da pandemia, nem sei como eu ia ficar. Eles estão fazendo de tudo pela gente, ajudando de todas as formas, conseguindo aqui, ali”.
Balconista de farmácia, Michele de Araújo, está há dois anos sem conseguir emprego e faz bolo em casa para vender. O marido é motorista e também não consegue trabalho fixo há três anos. Com a pandemia e os quatro filhos ficando dentro de casa, os gastos da família subiram muito e é graças ao Mutirão Contra a Fome que tem conseguido se manter.
“Eu faço parte do Vive, do pré-vestibular, então estou recebendo as cestas desde o comecinho da pandemia. Já tem um tempo que o MPA está vindo também, eles estão complementando a nossa sexta básica, é muito importante porque nunca sobra pra comprar legumes, verduras, e eles estão complementando pra uma alimentação um pouco mais saudável”.
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