14 de março de 2024
Muriel Assunção, Brenda Spinosa, Cristina Flores e Camila Borges
MPA Brasil | Rio de Janeiro (RJ)
Ao longo de seus 28 anos de luta, o MPA construiu um projeto de desenvolvimento para o campo, o Plano Camponês. O Plano tem como fundamentos a afirmação do campesinato e dos povos originários como base para a produção de alimentos saudáveis, por meio da Agroecologia Camponesa.
Em 2015, se inicia a Cesta Camponesa nas cidades do Rio de Janeiro e em Niterói. A Cesta é uma experiência de comercialização de alimentos agroecológicos ou em transição. Produtos esses produzidos por famílias camponesas da Baixada Fluminense, região Serrana e de outros estados, para a classe trabalhadora fluminense.
Além de frutas, verduras e legumes comercializamos também alimentos minimamente processados (arroz, feijão e outros grãos) e processados (sucos, geleias e chocolates). Também se encontra outros itens produzidos por pequenos produtores urbanos, como roupas, cervejas e sabonetes.
Em maio de 2017, inauguramos o Raízes do Brasil, espaço localizado em Santa Teresa, região central do Rio de Janeiro. O Raízes funciona como um entreposto onde realizamos o armazenamento, a organização e a distribuição das cestas.
A Cesta Camponesa e o Raízes do Brasil são ferramentas de comercialização do Sistema de Abastecimento Alimentar Popular (SAAP), que é um dos eixos do Plano Camponês. O projeto foi desenvolvido por militantes do MPA oriundos do PRONERA (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária) junto ao Laboratório Questão Agrária em Debate (QADE), da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ESS/UFRJ). Além da Cesta e do Raízes, também criamos a Barraca Camponesa de Alimentos Saudáveis como instrumento de comercialização de alimentos agroecológicos nas feiras realizadas nos diversos campi da UFRJ e em outras instituições públicas.
Desde o começo, a Cesta funcionava como uma lista de pedidos. Por meio do site www.cestacamponesa.com.br e entregando mensalmente no Estácio, Tijuca, Lapa, Laranjeiras, Botafogo, Copacabana e, também, na Praça da Cantareira, em Niterói.
Em cada chamada disponibilizamos alimentos e produtos diversos, já que a oferta varia de acordo com a produção. No caso dos alimentos frescos e in natura, a variedade respeita a sazonalidade e os riscos de produção, tais como forte calor ou geadas, que podem interferir tanto no cultivo quanto na colheita. Para os alimentos minimamente processados e processados, trabalhamos com estoque para garantir a frequência, já que parte desses produtos vem do interior ou de outros estados como Rio Grande do Sul, Bahia e Sergipe.
Inicialmente mensais, as entregas eram realizadas em praças públicas de cada bairro. O grupo de consumidores, ou “cestantes”, aguardavam no ponto de entrega próximo às suas casas para receber seus pedidos. Cada grupo tinha um responsável por cadastrar novos cestantes no site, explicar o funcionamento, anunciar as chamadas e organizar as entregas. Para facilitar a realização dessas tarefas criamos grupos no aplicativo Whatsapp de cada um dos núcleos de entrega, além de um grupo com os coordenadores desses núcleos e dos militantes do MPA.
A partir de então, cada novo cestante cadastrado no site era adicionado ao respectivo grupo de seu núcleo. Isto gerou um canal de comunicação direta com uma parcela da classe trabalhadora urbana interessada em temas que envolvem os compromissos firmados pelo MPA, tais como Agroecologia Camponesa, alimentos saudáveis, campesinato, Soberania Alimentar, entre outros.
Nessa época, a comunicação estava centrada no Facebook, então a rede social com maior alcance no Brasil. Como estratégia para estabelecer contato com a classe trabalhadora urbana fluminense, escolhemos o nome “Barraca Camponesa de Alimentos Saudáveis”, que divulgava a Cesta Camponesa e o calendário das feiras.
Diante dos impactos causados pelo uso de agrotóxicos e da enorme oferta de alimentos ultraprocessados, vivemos uma epidemia de doenças causadas pela má alimentação como obesidade, diabetes, hipertensão e câncer, em adultos e crianças. Se esse cenário, por um lado, gera uma procura cada vez maior por alimentos saudáveis, por outro levou a indústria de alimentos a se apropriar desse debate, oferecendo alimentos ultraprocessados que levam no rótulo conceitos tais como: light, diet, vegano, plant based, vendidos como opções saudáveis aos alimentos ditos “tradicionais”.
O uso inapropriado desses conceitos acaba causando ainda mais confusão no debate sobre alimentação saudável, tirando a autonomia dos indivíduos na escolha do que comer. Com grandes somas destinadas à publicidade, essa indústria consegue dominar o debate. Assim se forma o cenário onde se dá nossa disputa: a relação extremamente desigual entre pequenos agricultores e as frações da burguesia que controlam o agronegócio e a produção e distribuição de alimentos.
Neste cenário desigual são forjadas as lutas das classes oprimidas. Ainda que não tenhamos as mesmas armas, temos a convicção de que lutamos pelo justo. Para nós, do MPA, a Agroecologia Camponesa vai além de um modelo produtivo que respeite e se integre ao meio ambiente: é um modo de ser, viver e produzir das comunidades do campo, baseada em relações sociais justas, com o objetivo de superar o capitalismo, o racismo e o patriarcado para construir uma nova sociedade.
A maioria dos cestantes pertence ao campo progressista, apesar de uma parcela que procura alimentos agroecológicos pela preocupação com a saúde mas não alcança o debate que envolve a produção de alimentos no país. Parte da nossa estratégia de comunicação envolve compartilhar reportagens da imprensa progressista sobre temas afins, como os jornais e sites dos seguintes veículos de imprensa: Brasil de Fato, De Olho Nos Ruralistas, O Joio e o Trigo, entre outros, além do próprio site do MPA.
Nos grupos de Whatsapp também enviamos pequenos textos com as informações sobre o funcionamento da Cesta Camponesa, que chamamos de “InfoCesta”. Esses informes foram padronizados ao longo dos anos para atender às dúvidas mais comuns, que são: abertura das chamadas para pedidos e data da entrega, formas de pagamento e o link para o site.
Seguindo as técnicas utilizadas nas mídias sociais, escolhemos os cards com fotos e pouco texto para chamar a atenção. Cada card acompanha um pequeno texto para leitura rápida. Eventualmente adicionamos um link para complementar a leitura e acrescentar outras informações. Com o crescente uso do Instagram, investimos no perfil do Raízes do Brasil e optamos por não criar um perfil da Barraca Camponesa nesta rede social.
As atividades do MPA no Rio de Janeiro passaram a ser veiculadas no perfil nacional como estratégia para concentrar seguidores e fortalecer as ações do movimento. Assim, a partir de 2019, nossa comercialização passa a ser denominada “Cesta Camponesa do Raízes do Brasil”.
Com a necessidade de isolamento social, as compras no formato online com entregas em domicílio cresceram de forma geral. Para nós, o fato de já trabalharmos com um site para pedidos foi fundamental para que a comercialização não só se mantivesse, mas expandisse. Passamos de uma entrega mensal média de 100 cestas, para cerca de 120 cestas a cada entrega, duas vezes na semana, totalizando 240 cestas semanalmente. Quase mil cestas mensais.
Com esse aumento, passamos de cerca de 5 grupos no Whatsapp, com aproximadamente 500 cestantes, para 9 grupos no Whatsapp e mais 5 grupos no Telegram, somando mais de 2 mil cestantes. Nesse período, muitos deles puderam contribuir de forma voluntária com as tarefas da comunicação da Cesta Camponesa. Assim, surgiu a Brigada de Comunicação, um grupo composto por jornalistas, fotógrafos, designers, nutricionistas e agrônomos ligados à agroecologia.
A contribuição desses profissionais foi fundamental para qualificar o debate e colocar em prática várias das estratégias que já havíamos pensado, mas não realizado por falta de recursos. Com o apoio da Brigada de Comunicação pudemos criar diferentes conteúdos para os grupos de Whatsapp e Telegram e, também, para as redes sociais.
Além das notícias e relatos das atividades do MPA, criamos séries temáticas para dialogar com o novo público formado. Nelas, respondemos dúvidas e apresentamos os conceitos que fundamentam a Agroecologia Camponesa e a Soberania Alimentar. São elas:
“Deu na roça, tem na Cesta”: apresenta um alimento, destacando sua origem e a produção. A partir dela também aproveitamos para apresentar as famílias camponesas e as cooperativas que produzem os alimentos ofertados.
“Comer é um ato político”: apresenta receitas que estimulem o consumo de alimentos agroecológicos, incluindo itens não comumente comercializados, como a rama da cenoura, as folhas da beterraba, as PANCs e, também, alimentos que não fazem parte da cultura local, como cuscuz de milho, pinhão, tucupi.
“O que é”: apresenta os conceitos que norteiam nosso debate, como Agroecologia Camponesa, sementes crioulas, Soberania alimentar, entre outros.
A pandemia da Covid-19, somada à crise socioeconômica resultante da política neoliberal implementada desde o golpe em 2016, levou milhões de brasileiros e brasileiras à situação de fome e de insegurança alimentar. O objetivo da campanha é arrecadar e distribuir alimentos às parcelas da classe trabalhadora urbana em vulnerabilidade.
O Mutirão Contra a Fome se baseia na solidariedade de classe: parcelas da classe trabalhadora urbana doam recursos que financiam a produção das unidades camponesas, fazendo com que alimentos agroecológicos cheguem às famílias em situação de insegurança alimentar nas periferias das nossas cidades. Por outro lado, garante o escoamento da produção, contribuindo para que as famílias camponesas possam permanecer no campo produzindo alimentos saudáveis.
Os grupos de cestantes foram determinantes para consolidar o Mutirão Contra a Fome como uma Campanha permanente de solidariedade. Seja por meio de suas entidades representativas, como sindicatos e partidos políticos, ou através de contribuições individuais, são esses recursos que sustentam doações regulares às famílias que compõem os Comitês Populares do Alimento (CPA). Existem CPAs organizados nas comunidades de Guararapes, Tavares Bastos, Mangueira e Morro dos Macacos, no Rio de Janeiro, e Vila Projetada em Niterói.
O MPA atua em boa parte do território nacional contra o avanço do agronegócio. Organizamos o campesinato na luta pela produção de alimentos saudáveis para alimentar o povo brasileiro. Nesse cenário, o MPA no Rio de Janeiro conseguiu expandir as vendas da Cesta e, também, ampliar sua base produtora.
Em abril de 2023, a Cesta deu um salto importante para suas relações e comercialização, e passou a atender não somente a capital e adjacências, mas todo o país. A proposta veio da necessidade de atender às diversas demandas de pedidos para outras regiões, possibilitando ainda mais a expansão da produção camponesa.
Essa nova opção de comercialização se limita, no entanto, às compras de alimentos não perecíveis, já que entregamos via Correios. Os pedidos devem ser feitos da mesma forma, basta fazer o cadastro no site, preenchendo com os dados e CEP para calcular o valor do frete. Então enviamos o pedido em até cinco dias úteis.
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