8 de fevereiro de 2024
Muriel Assumpção
MPA Brasil | Rio das Ostras (RJ)
A Cesta Camponesa Serramar foi uma iniciativa para a comercialização dos alimentos e produtos agroecológicos provenientes da agricultura familiar camponesa da região Serramar, dos municípios de Silva Jardim, Casimiro de Abreu, Rio das Ostras e Macaé, interior do estado do Rio de Janeiro. Surgiu nos primeiros meses da pandemia de COVID-19, em março de 2020, como resposta à proibição da realização das feiras da agricultura familiar, espaços onde os agricultores escoavam sua produção. Neste ano, foram organizadas a venda desses produtos em domicílio, apenas em Silva Jardim, e posteriormente no Rio de Janeiro e em Niterói, visando aumentar o número de cestas comercializadas.
Durante todo o ano de 2021 foram feitas entregas quinzenais na região central, sul e parte da zona norte do Rio e em praticamente toda Niterói. Em 2022, quando as restrições impostas pela pandemia afrouxaram, as atividades na região metropolitana foram encerradas e o foco voltou para a região Serramar, decisão movida pela dificuldade em alcançar o número mínimo de cestas para viabilizar a logística, que se acentuava a cada edição da cesta, já que já era possível frequentar mercados e feiras.
Outro aspecto decisivo foi o entendimento de que a região metropolitana conta com mais iniciativas de comercialização de alimentos orgânicos e agroecológicos do que o interior. Com isso, as entregas passaram a ser feitas apenas na região Serramar, visando fortalecer a disseminação da agroecologia e dessa forma de comercialização no território. Durante esse ano, foram realizadas entregas mensais em Silva Jardim, Casimiro de Abreu, Rio das Ostras e Macaé e desde 2023, as atividades estão suspensas.
Ao longo desses quase três anos, a experiência contou com a participação direta de 20 famílias camponesas, residentes nas cidades de Silva Jardim (distritos de Bananeiras, Cambucaes e Aldeia Velha), Casimiro de Abreu, Araruama (distrito de São Vicente), Rio Bonito, Macaé (distrito do Sana) e Rio das Ostras, e com a participação indireta de muitas outras famílias, produtoras de alguns itens vindos de fora do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo arroz e flocão de milho. A maioria das agricultoras faz parte da Articulação de Agroecologia Serramar e já praticava agricultura de base agroecológica. Outras produziam de maneira convencional e por meio do contato com a cesta entraram em processo de transição agroecológica.
Durante todo o período, foram comercializados uma variedade de alimentos e produtos agroecológicos: frutas (in natura e congeladas), legumes, verduras, grãos, beneficiados (farinha, polpas, sucos, cervejas, bolos, pães, congelados, antepastos), temperos, produtos de higiene pessoal, de limpeza, mudas e livros.
É importante ressaltar o protagonismo feminino em todos os estágios de produção e comercialização da cesta. As mulheres foram responsáveis pelo cultivo, colheita, beneficiamento, montagem, entrega, comunicação e finanças. A isso se soma o trabalho reprodutivo pelo qual são também responsáveis.
Desde o início das atividades, a logística do transporte e a falta de um entreposto adequado se apresentaram como os maiores desafios. Durante todo o ano de 2020 e parte de 2021 as cestas eram montadas nas residências, com insumos próprios para manter os produtos em condições de entrega (refrigeração e armazenamento). Apenas a partir de outubro de 2021 houve uma infraestrutura que supria as necessidades da montagem das cestas. Ainda assim, a logística implicava em um deslocamento de cerca de 100 quilômetros para fazer a coleta de parte dos produtos, que não eram entregues no entreposto.
Durante todo o período, todo o deslocamento, tanto para coleta dos produtos junto às agricultoras quanto para a entrega das cestas, foi realizado com carros pessoais, o que impunha ainda outros desafios, dos quais o principal era o espaço, já que eram carros de passeio. Cada edição da cesta era limitada a cerca de 25 cestas, sob risco de não caberem nos veículos. Por conta dessa limitação, se operava constantemente dentro do intervalo entre o número mínimo de pedidos para viabilizar toda a logística e o limite máximo suportado pelo carro disponível na vez.
Outro desafio, ainda que não o maior, foi encontrar uma plataforma e um programa para receber e processar os pedidos. Durante todo o período de funcionamento da cesta, foi utilizada a plataforma do Google Forms para receber os pedidos e o Google Sheets (ou Workspace) para processá-los, o que demandava muitas horas de trabalho com essas planilhas.
Em 2020 e 2021, mais de 500 cestas foram comercializadas e mais de 10.000 km rodados para entregá-las. Já em 2022, nas oito edições da cesta realizadas na região Serramar, 114 cestas foram comercializadas e 2.350 km rodados para levá-las até os consumidores. No total, nos quase três anos de experiência, mais de 615 cestas e rodamos mais de 13.000 km para realizar as entregas. Se considerado todo o período de atividade, a iniciativa movimentou cerca de R$100.000,00 e contribuiu diretamente para o sustento de 20 famílias de agricultoras camponesas de base agroecológica da região.
Além disso, a possibilidade de comercializar seus produtos na cesta foi estímulo para que alguns dos agricultores que produziam de maneira convencional deixassem essa forma de produção. Principalmente durante o período mais crítico da pandemia, esse trabalho contribuiu para a alimentação e fortalecimento de dezenas de famílias de consumidores da cidade que puderam receber em casa alimentos saudáveis e advindos de territórios livres.
Por meio do trabalho da Cesta foram estabelecidas relações que perduraram. Ainda compartilham oportunidades de venda, dividem transporte de mercadorias, participam de feiras e cursos, fortalecendo a rede de agroecologia local. Foi, portanto, possível criar uma comunidade de consumidores e de agricultores, promovendo uma verdadeira aliança entre campo e cidade.
Ainda que de forma menos intensa, a partir da iniciativa desta e de outras cestas operando na região, se formou um grupo de consumidores que continua ativo na busca por alimentos agroecológicos e formas de fortalecer seu escoamento na cidade. São consumidores que também atuam em outras frentes de fortalecimento da agroecologia e de pautas progressistas.
Apesar de terem atingido seu auge durante a pandemia, essas iniciativas seguem sendo uma importante via de escoamento dos produtos da agricultura camponesa agroecológica da região, comercializados em circuitos curtos. Para maiores informações, siga @cestacamponesa.serramar.
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