2 de março de 2020
Os comapnheiros e companheiras do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) no estado de Sergipe compartilham com toda a militância a carta enviada por Carla Guedes e Igor Alves, que encontram-se na Venezuela, cumprindo tarefa de formação, estudando no curso de Medicina.
Venezuela, 31 de Janeiro de 2020.
Estimados companheiros e companheiras do MPA Sergipe – Brasil,
Esperamos que esta carta lhes encontre firmes na luta pelo nosso Brasil. Mais um vez escrevemos-lhes aqui do Curso de Medicina na Venezuela, pois gostaríamos de contar-lhes sobre nossos últimos meses de estudo, mas também queremos compartilhar sobre os desafios que se apresentam pela conjuntura Venezuelana.
Encerramos o pré-médico em Dezembro de 2019 (essa etapa funcionou como um curso introdutório de medicina), e já sabemos que a partir dessa introdução, daqui pra frente teremos que nos esforçar ainda mais em relação aos estudos, a disciplina, a força de vontade. Nos comprometemos em fazer todo esforço possível para seguir fazendo a tarefa que a nós foi confiada pelo movimento, com muito amor e dedicação.
Como informamos na carta anterior, a Venezuela passa por um bloqueio econômico imposto pelo capital estadunidense, que busca se consolidar como a força suprema capaz de controlar os povos em todos os cantos do mundo. Esse fato exige cada dia mais resistência do povo Venezuelano, que ama e defende com garra o seu pais. É bonito de se ver no cotidiano a ousadia de homens, mulheres e jovens que não correm da batalha.
O bloqueio afeta diretamente as questões da sobrevivência humana, como aumento dos preços, tanto de alimentos quanto de remédios que tem no país, assim como a falta de alguns medicamentos, pois há uma grande dificuldade em relação à entrada de medicamentos que são essências para Venezuela. Aqui as pessoas não produzem como produzimos no Brasil. A descoberta do Petróleo, quando ocorreu, levou a produção de alimentos a ser deixada em segundo plano, e hoje essa situação deixa a realidade ainda mais complexa.
Quando Hugo Chávez assumiu o comando do país, em 1998, começou a pensar em como retomar a produção de alimento na Venezuela, e a partir de discursões e analises criou politicas de incentivo à produção de alimentos, buscando assim construir a soberania alimentar. Hoje é nesse contexto que os movimentos campesinos se incluem com seu trabalho e experiências na produção de alimentos. Buscam ajudar no despertar das consciências para que os campesinos cumpram bem com seu papel na luta.
Nossa turma de medicina é formada por cinco delegações onde se incluem Zâmbia, Gana, Haiti, Palestina e Brasil. O intercambio de cultura é diário, constante e muito satisfatório. Escolhemos como nome para nossa turma de Medicina Integral Comunitária, homenagear o companheiro do MST chamado Egídio Bruneto – por toda sua história e papel que cumpriu na Via Campesina. Egídio, morava em Santa Catarina, tombou em um trágico acidente de carro quando levava sementes crioulas para a região sul do Brasil. Seu pensamento e valores internacionalistas contribuiram de forma bastante intensa na construção internacional da Via Campesina.
Entendemos que os jovens militantes devem cultivar valores da luta internacionalista e se dispor a essa construção. Assim estamos em constante processo de aprendizado, tanto no âmbito acadêmico quanto no campo político e ideológico.
Nesse momento estamos cursando o primeiro ano da carreira de medicina, para nós vem sendo mais difícil que o normal, pois nossa educação acadêmica no Brasil não foi suficiente para as exigências que esse curso requer. Não culpamos os professores ou as escolas por onde passamos no nosso sertão sergipano, mas sim o sistema educativo brasileiro que está distante de oferecer a classe trabalhadora tudo aquilo que de fato ela necessita, inclusive a formação politica para que cada vez mais consiga ler o mundo e se colocar no seu processo de transformação.
Estamos felizes por estar aqui, por essa tarefa, pois sabemos que somos privilegiados por essa oportunidade que nos possibilita entre tantas coisas, compartilhar da solidariedade revolucionaria do povo venezuelano.
Dia 27 de janeiro fizemos quatro meses de estadia aqui na Venezuela, a saudade de casa, da família, da militância, das comunidades, da arte, do nosso povo é crescente. Mas trouxemos na bagagem os aprendizados vividos no MPA Sergipe a partir da Brigada Raízes Nordestinas, isso nos dá animo, motivação, esperanças. Sentimos saudade do cuscuz também, a comida é parecida com a nossa, mas nos falta o cuscuz e o calor do nosso semiárido nordestino.
Esperamos que estejam todos bem e firmes na luta pela conquista dos nossos direitos, pela soberania do nosso pais, pelo respeito ao campesinato e toda classe trabalhadora. Estamos bem, as dificuldades são constantes, mas resistiremos, sabemos que a luta é necessária ao povo da Venezuela, do Brasil e de todos os cantos do mundo, até que sejamos verdadeiramente livres.
Em relação a questões financeiras estamos nos ajeitando aqui, mas pedimos a vocês que continuem nos ajudando, que toquem nossa campanha de arrecadação, e pedimos que nos mandem suas energias positivas e forças para que possamos seguir firmes nessa caminhada.
No mais, esperamos informações sobre a conjuntura do nosso Brasil, do nosso pequeno Poço Redondo – tão cheio de arte, cultura e resistência, do nosso sertão nordestino e do nosso estado pequeno gigante. Gratos por tudo, lembramos a poeta que diz: “é preciso caminhar com firmeza e esperança, com o sonho de mudança nos movendo a cada passo, o horizonte dá espaço, há resistência, há rebeldia!”.
Grande abraço.
Carla Guedes e Igor Alves.
Militantes do MPA
Estudantes do Curso de Medicina na Venezuela
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