26 de abril de 2017
Foi num espaço à beira das praias de Porto Seguro – onde, exatos 517 anos atrás, aportaram na Bahia os invasores portugueses –, que nós, ativistas das Teias dos Povos, realizamos nossa V Jornada de Agroecologia, com o intuito de, em primeiro lugar, denunciar que essa chegada dos europeus, foi, acima de tudo, o início oficial da ocupação de nosso território pela colonização europeia e a hegemonia do Capital, a qual persiste até os dias atuais.
Somos mulheres e homens, crianças e anciões de inúmeros movimentos sociais e povos em luta: assentadas e assentados, acampadas e acampados, quilombolas, indígenas, ribeirinhos, extrativistas, pescadoras e pescadores, quebradeiras de coco, povos de terreiro, povos de fundo e fecho de pasto, educadores, estudantes, pesquisadores, trabalhadoras e trabalhadores do campo e da cidade. Na Teia dos Povos, construímos uma aliança em busca do Bem Viver e da defesa dos territórios.
Aqui viemos para afirmar em alto e bom som: esta não é a Costa do Descobrimento, é a Costa da Invasão! Estas terras tinham e têm dono. Este foi o mote de nosso encontro este ano: Terra e Território – Natureza, Educação e Bem Viver. Ele nos lembra que precisamos construir um mundo em que a luta dos povos pulse nos caminhos da ancestralidade.
Nossa alegria pela reunião se redobra com a presença de uma comitiva da Teia dos Povos do Maranhão, vinda do outro extremo do Nordeste, das fronteiras da Amazônia. Recebemos com alegria esses irmãos e irmãs que lutam pelos mesmos ideais e preparamo-nos para também visitá-los em retribuição, consolidando a aliança dos povos, tal como havíamos anunciado como nosso compromisso primordial.
Com esse ato de ocupar as praias de Porto Seguro, entre os dias 19 e 23/4/17, queremos lembrar ainda, que, hoje, vivemos tempos sombrios, em que nosso país e toda a América Latina voltam a correr grave perigo diante da nova investida imperial estadunidense e de outros representantes da linha de frente dos interesses do Capital.
Neste momento temeroso em que o Brasil tem sua Constituição rasgada por esse mau governo que ataca os direitos historicamente conquistados pelas lutas da classe trabalhadora, recebemos tristes notícias que sinalizam o avanço do império do autoritarismo e do racismo: primeiro, a chacina que vitimou esta semana ao menos dez camponeses na gleba Taquariçu do Norte, em Colniza (MT); depois, a condenação pela Justiça do jovem negro Rafael Braga, preso durante as manifestações de junho de 2013 por portar uma garrafa de pinho sol.
A investida do capital, vale lembrar ainda, não se dá somente por meio do poderio militar, mas também a partir da impressionante capacidade dos grandes conglomerados empresariais internacionais, em particular aqueles ligados à comunicação digital, de manter uma grande parte da população em estado de alienação, completamente absorvida por uma pauta diária que a imobiliza, desmobiliza e fragmenta.
Diante desse quadro, convocamos a todas as pessoas dispostas a não ceder a esse entorpecimento e comprometidas com a luta pela autonomia das comunidades e a dignidade humana a retomar a luta contra o Capital e o Império. Desde o Sul da Bahia conclamamos os povos a se juntarem à bandeira da agroecologia e, por meio dela, construir alternativas locais à monocultura que o capital nos impõe. O mundo capitalista é uma fazenda cercada!
A Teia representa a esperança de unidade dos povos, em sua diversidade e pluralidade. Não haverá democracia real no Brasil sem a justiça na distribuição de terras e na demarcação dos territórios, sem o respeito à autonomia das comunidades e sem a construção de uma nova matriz econômica, alicerçada na soberania alimentar e na agroecologia. Se a colonização se consolida em nossas cabeças, a descolonização real começa pelos pés, pisando nos territórios, demarcando-os com nossos passos e cultivando-os com a prática de nosso bem viver.
Revigorados e animados pelo encontro e a partilha, deixamos as praias da Costa da Invasão novamente rumo a nossos territórios reafirmando o compromisso com os desafios que a Teia se coloca para 2017: consolidar e robustecer a aliança dos povos; conquistar e garantir nossos territórios; recuperar os biomas devastados pelo latifúndio agroexportador; produzir autonomia e soberania alimentar; construir uma economia para além do capital; descolonizar definitivamente o ensino em nossas comunidades, fortalecendo as Quatro Grandes Escolas que neles estão sendo cultivadas – A Escola das Águas e dos Mares, a Escola dos Quilombolas, Tambores e Terreiros, a Escola do Arco e da Flecha e a Escola da Floresta, do Cacau e do Chocolate.
Muitas pisadas na direção do cumprimento desses compromissos já foram dadas este ano. Um exemplo são as diversas visitas solidárias entre as comunidades participantes da Teia, como a agora realizada por uma delegação da Jornada ao território Cahy-Pequi/Comexatibá, do Povo Pataxó, chamado pelos invasores de Parque do Descobrimento. Os mutirões se multiplicam. A rede de troca de sementes crioulas prospera. A juventude se fortalece. As mulheres avançam na tecitura de sua rede. Nossas iniciativas de comunicação se ampliam em vários fronts – a exemplo do acordo que assinamos com a TV Educativa da Bahia durante a V Jornada.
Ao som dos maracás, tambores, atabaques, cantando e bailando com nossas Guerreiras e Guerreiros, Caboclas e Caboclos, Mikisi, Orixás, Seres de Luzes e Encantados, convocamos mulheres, homens, jovens, crianças, anciões – toda a humanidade em luta pela construção do bem viver – a juntar-se a nossa caminhada. A história pertence à mulher e ao homem que não têm medo de lutar.
É preciso resistir para existir. Compreendemos que nossa Mãe Terra não nos pertence, nós é que pertencemos à Terra. E por isso é preciso dizer ao povo que avance para a tarefa da descolonização. Convocamos a todos a se juntar nesse grande mutirão, na construção permanente do Bem Viver.
Aquilo que nos une é maior do que o que nos separa.
Dizendo ao Povo que avance. Avançaremos!!!!
Pátria livre!
Porto Seguro, Terra dos Pataxó, 23 de abril de 2017.
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