27 de agosto de 2018
Creio no direito à solidariedade e no dever de ser solidário. Creio que não há nenhuma incompatibilidade entre a firmeza dos valores próprios e o respeito pelos valores alheios. Somos todos feitos da mesma carne sofrente. Mas também creio que ainda nos falta muito para chegarmos a ser verdadeiramente humanos. – José Saramago
Companheiros e companheiras
Estamos terminando uma greve de fome de 26 dias, saciados pelo legado de luta e resistência do nosso povo. Nestes dias nos colocamos em combate numa ação dura, mas com muita convicção da importância de enfrentar o golpe em curso e as graves consequências da profunda crise existente na sociedade brasileira que atinge principalmente a vida e a casa dos mais pobres. E neste contexto, compreendemos que a luta pela liberdade de Lula representa a luta pela liberdade do próprio povo e por justiça no judiciário, especialmente no STF.
Fizemos a greve como uma tarefa militante, a partir da definição política de nossos movimentos e organizações, inspirados no exemplo revolucionário de resistência ativa, pacífica e nem um pouco passiva. Mas no decorrer do processo, para além da tarefa militante, fomos compreendendo de diversas formas o sentido da solidariedade comprometida que nos irmana nesta grande luta. Vocês não imaginam o que foi experimentar e conviver nesses dias todos, com tantas manifestações solidárias de um profundo humanismo.
Nos acompanharam quatro médicos fantásticos e uma cuidadosa equipe de saúde, que soube ouvir atentamente os nossos corações e os dilemas de nossas mentes. Tivemos o acompanhamento permanente de diversos dirigentes de nossos movimentos, que nos deram literalmente o braço e o ombro amigo.
Recebemos cartas e mensagens de diversas cidades do Brasil e do mundo, com manifestações de apoio por parte de organizações políticas, mas também de muitas pessoas que individualmente se solidarizavam com a causa e o gesto da greve de fome. Dentre as cartas, recebemos uma mensagem nominal, expressando orgulho e admiração, escrita com o próprio punho do presidente Lula, em solidariedade à nossa ação política.
Durante todos os dias recebemos visitas, que nos demonstravam de forma companheira que ninguém ali estava só. Foram horas e horas de diálogo sobre a realidade brasileira e as potencialidades da construção de um país soberano e popular. Aprendemos muito com esse “entra e sai” de gente convicta e persistente, que nas batalhas cotidianas mostram o quanto estamos do lado certo da história, provando que é possível derrotar o poder da força bruta, de bota, de toga ou do que for. Gente como como a Caravana do Povo do Semiárido, que saiu de Caetés, foi até Curitiba e depois passou por aqui, para nos abraçar.
Recebemos a visita de pastores e líderes de todas as religiões e crenças de nosso povo. Participamos das vigílias e atos inter-religiosos em frente aos tribunais e casas de ministros do STF. Estes atos nos enchiam de energia, para seguir a luta.
Fomos acolhidos com carinho e coragem pelos irmãos jesuítas no CCB (Centro Cultural de Brasília). A vocês todo nosso carinho e gratidão.
Também recebemos a honrosa visita do Prêmio Nobel da Paz, conquistado por uma vida inteira de luta pelos direitos humanos, que veio da Argentina para nos visitar, nosso querido Adolfo Perez Esquivel.
E como não citar Leonardo Boff, e sua voz reflexiva e sábia, que nos deu muita esperança de que o Brasil tem jeito e que um dia o povo assumirá o poder.
Recebemos ainda a visita dos candidatos Fernando Haddad e Manuela D’ávila, além de diversos parlamentares que fizeram questão de nos ouvir e se solidarizar.
Fundamental destacar também nosso reconhecimento à solidariedade recebida por parte da comunidade artística, seja pelo envio de vídeos que circularam nos nossos meios de comunicação popular e também pela calorosa visita de Osmar Prado, Chico César, Tuca, Luís Fernando Lobo, Zé Mulato e Cassiano, entre outros.
Vibramos com entusiasmo ao ver as mobilizações de solidariedade à greve de fome se multiplicarem nos estados, nas capitais e em várias cidades do interior, nos atos inter-religiosos e vigílias em frente aos tribunais deste país. A cada nova mobilização, víamos a importância de manter uma chama de resistência sempre acesa, para incendiar o desejo das transformações sociais que tanto necessitamos.
Nunca devemos desanimar. Quem trabalha na organização do povo, não tem o direito de ser pessimista.
Da nossa parte, podem contar sempre conosco, em todas as trincheiras, e se preciso for, saibam todos e todas que ainda podemos voltar a fazer greve de fome, e agora com mais experiência, certamente ficaremos ainda mais dias.
Um forte e fraterno abraço a cada militante e lutador, lutadora de nosso povo brasileiro, que atuam nos mais diferentes espaços sociais, das igrejas, escolas, moradias, fábricas, campo, nas praças e nas ruas.
Brasília, 25 de agosto de 2018.
Jaime Amorim, Zonália Santos, Rafaela Alves, Frei Sergio Görgen, Luiz Gonzaga Silva – Gegê, Vilmar Pacífico e Leonardo Nunes Soares.
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