23 de junho de 2023
Comunicação
MPA Brasil
Entre os dias 5 a 9 de junho, semana em que comemoramos o Dia do Meio Ambiente, diversos camponeses, camponesas, técnicos agrícolas, estudantes e servidores da Emater e da Embrapa de Alagoas, se reuniram na sede da Associação de Agricultores Alternativos, a AGRAA, em Igaci, próximo a Palmeira dos Índios, em Alagoas.
O objetivo do encontro era de participar da oficina ‘Biopoder camponês – bombeiros agroecológicos para soberania alimentar e reversão das mudanças climáticas’ ministrada pelo professor e agroecólogo Sebastião Pinheiro. A oficina faz parte da Ação Coletiva pela Agroecologia e o Clima, protagonizado pelo Movimento dos Pequenos Agricultores e que pretende levar oficinas de transição agroecológica para os diversos territórios onde o MPA está.
“A oficina tem como premissa, como o Tião apresenta, de treinar os camponeses, produzir e compartilhar conhecimentos, práxis de como se faz agroecologia na prática e não só no debate teórico, na ideia de produzir alimentos saudáveis em escala a partir de uma outra matriz tecnológica” apresenta Gerson A. B. Borges, coordenador da iniciativa.
Gerson lembra que o próprio MPA tem como um dos objetivos centrais a estruturação do Plano Camponês, “tem como eixo central a produção de alimentos saudáveis e a ação que está sendo desenvolvida a partir das oficinas, tem um papel de motor para emular as iniciativas que o Movimento já vem desenvolvendo na produção e transição agroecológica”. Igaci recebeu a primeira de 11 oficinas que devem acontecer em territórios camponeses até novembro deste ano.
Na primeira parte do curso houve um debate sobre uma série de problemas sociais e climáticos que estamos vivendo em torno do sistema alimentar. O debate transcorreu sobre o sistema alimentar sob o comando do sistema financeiro que caracterizado como agronegócio dita uma produção cada vez mais de commodities em consequência do aumento de pessoas famélicas no mundo, o surgimento de novas e mais agressivas doenças e a poluição causada pelo extensivo uso de agrotóxicos e fertilizante de origem petroquímica.
“Debatemos também a questão da alimentação, da saúde tanto da dimensão humana quanto da natureza e como a forma hegemônica de produção capitalista afeta tudo isso, e como é necessário seguir outro caminho, pensando a relação homem natureza a partir da agroecologia, são as práticas agroecologias que tem um potencial de produzir alimentos saudáveis, erradicar a fome e reverter as mudanças climáticas”, resume Barbosa.
Das práticas socializadas por Sebastião Pinheiro estão a análise cromatográfica do solo, uma outra forma de você abordar a saúde do solo e que empoderar os camponeses em seu território. Foram produzidas farinhas de rocha, que ajudam na remineralizarão dos solos, produção de biofertilizantes com utilização de esterco animal, soro de leite e abóbora e produção de fosfito com utilização de cinzas de ossos animais e de palha de arroz. Também foram produzidas água de vidro e caldas minerais, a exemplo calda bordalesa e calda sulfocálcica.
A programação também contou com uma visita à Universidade Estadual de Alagoas, onde Sebastião, Gerson e as lideranças camponesas da região conversaram com alunos de 9 cursos. A conversa contou com participação de cerce de 200 pessoas e abordou os debates em torno do Plano Camponês, das mudanças climáticas e o que os camponeses estão propondo para reverter as mudanças climáticas. Gerson apresenta que em todos os encontros futuros, em uma ou mais noites a ideia é que as universidades e os institutos federais mais próximos sejam visitados “para apontar a importância da aliança operaria e camponesa, o plano camponês e o que nós estamos fazendo, contribuindo para a reversão das mudanças climáticas”.
Quem recebeu Sebastião em sua casa foi a família de seu Raimundo e dona Dorinha, em um dos cafés da manhã, Gerson perguntou – “a partir do enunciado de que vivemos em uma sociedade capitalista em que se busca o lucro cotidianamente, de forma que tratam a terra como algo sem vida, o que é a terra”?
Na sequência de lindas respostas do casal de camponeses, Magda (filha do casal) e Tânia (liderança camponesa), Sebastião responde à pergunta de forma sábia, rememorando a capacidade do campesinato de produzir vida, cuidar da terra, de si mesmo e de todos ao seu redor. Segue:
“É muito bom escutar e estar com uma família camponesa, não é fácil hoje encontrar um camponês vivendo com dignidade, construindo e aplicando sabedoria, e quando você encontra a sabedoria do pensamento camponês você tem uma esperança.
Lá fora não há isso, cada vez fica mais difícil você encontrar isso, você não encontra mais na televisão, não encontra no jornal, sequer encontra na boca de muitos políticos.
Construir essa dignidade, construir um país somente se pode fazer com amor a terra, ao solo, eu posso e sei trabalhar todas as equações da matéria orgânica, todas reações dos seres vivos, mas o fundamental é poder sentar em uma mesa, conversar, trocar ideias, e construir isso.
Um camponês precisa da terra como território, precisa da terra como escola, precisa da terra como um centro de orientação, desde a domesticação da primeira semente até hoje a única pessoa que consegue transforma o sol em alimento, alimento diversificado, é o camponês, não é o banco, não é o empresário, não são as autoridades. Então nós temos que inverter numa lógica, inverter essa lógica é fazer com que as pessoas, respeitem este sacrifício. Nenhum camponês produz para alguém, ele produz para todos, com uma ética, sem saber, quem vai consumir aquilo.
Lá fora o que acontece? Lá fora se você usar veneno não há problema, se você deixar de usar o veneno e quiser produzir o alimento com maior dignidade, maior saúde, maior qualidade, você tem tantas travas, tantos empecilhos, tantas dificuldades, tem que gastar tanto dinheiro e nós não damos conta disso. Nós aceitamos essa imposição e é uma imposição de pirataria, e aí esses alimentos ficam mais acessíveis para quem tem mais e menos acessível para aquele que tem menos, por isso temos que corrigir isso, e isso só pode sair da mão do agricultor, da família agricultora, da organização de agricultores.
Quando nos trabalhamos e damos cursos, nós normalmente somos muito duros, vocês viram isso… vocês podem perceber lá nos procuramos respeitar ao máximo o camponês pra que ele tenha o máximo de rendimento, aprendizado, intercambio e ele possa se fortalecer nos cursos para dizer nós podemos mudar tudo isso. E podemos mudar tudo isso é fundamental, eu quero felicitar o senhor a senhora, essa família e agradecer”.
Sebastião. Diálogos com o campesinato. Entrevistador. Gerson Antonio Barbosa Borges. Alagoas, 2023.
Raimundo. Diálogos com o campesinato. Entrevistador. Gerson Antonio Barbosa Borges. Alagoas, 2023.
Dorinha. Diálogos com o campesinato. Entrevistador. Gerson Antonio Barbosa Borges. Alagoas, 2023.
Magda. Diálogos com o campesinato. Entrevistador. Gerson Antonio Barbosa Borges. Alagoas, 2023.
Tânia. Diálogos com o campesinato. Entrevistador. Gerson Antonio Barbosa Borges. Alagoas, 2023.
Gerson. Oficina ‘Biopoder camponês – bombeiros agroecológicos para soberania alimentar e reversão das mudanças climáticas’. Entrevistador. Mateus Quevedo, Brasília, 2023.
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