3 de fevereiro de 2021
Silvia Ribeiro
La Jornada | Cidade do México
Os Estados Unidos é o país que mais investiu fundos e recursos em pesquisa de armas biológicas, sempre sob o título de biodefesa. Inclui a manipulação genética – ou outros meios – de vírus e bactérias para torná-los mais infecciosos para os humanos, supostamente em busca de vacinas ou antídotos contra eles. O laboratório de Ralph Baric, um dos pesquisadores mais ativos nesta área, para o qual ele recebeu financiamento governamental durante duas décadas, é chamado por seus pares de “Selvagem do Oeste”. Vários de seus experimentos com vírus da gripe aviária e coronavírus da SARS foram para aumentar a infecciosidade em humanos através do trato respiratório. É uma das razões que motivou protestos de centenas de cientistas, o que em 2014 levou a uma suspensão do financiamento deste tipo de pesquisa (Ver artigo de N. Baker, janeiro de 2021).
O Baric então se concentrou em colaborar com o Dr. Shi Zhengli do Instituto Wuhan de Virologia, China, em projetos co-financiados pelos Institutos Nacionais de Saúde e pela Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), entre outros, para aumentar a infectividade dos vírus de morcegos nas vias respiratórias humanas. Incluindo um coronavírus (RaTG13 ou BTCoV-4991) que é considerado o ancestral geneticamente conhecido mais próximo da SARS-2 que causou a pandemia de Covid-19.
Os fundos foram canalizados para Wuhan através da ONG norte-americana EcoHealth Alliance (Aliança Eco-saúde), presidida por Peter Daszak, um zoólogo que transformou o que ele chama de “luta contra os vírus” em uma guerra quase religiosa. Como Baric, ele se juntou à colaboração de pesquisa do laboratório Wuhan para “otimizar” a infecciosidade do vírus SARS.
A Dra. Shi Zhengli é um especialista em vírus de morcegos reconhecido internacionalmente. Seu laboratório é o único na China com uma classificação de nível 4 de biossegurança, a mais alta. É por isso que experiências de alto risco são feitas ali. Tem essa classificação desde 2018, mas a coleta do vírus RaTG13, foi feita em 2012 e 2013, em uma mina na província de Yunnan e em um hospital onde mineiros afetados sofreram – e alguns morreram – de uma doença que poderia ser vista hoje como Covid-19.
Baker pergunta: como é provável que o início da pandemia tenha sido identificado na cidade que tem o único laboratório de biossegurança 4 na China, onde os EUA e a China estavam realizando experimentos com o vírus mais próximo conhecido da SARS-2, e que isso não esteja relacionado?
Quando vários cientistas começaram a fazer perguntas sobre esta possibilidade, eles foram recebidos com um muro de silêncio em várias camadas. Uma do governo chinês, que suspendeu e classificou qualquer pesquisa sobre o assunto. Outro de cerca de vinte cientistas que, já em fevereiro de 2020 e antes do início de qualquer pesquisa, publicaram uma declaração na revista The Lancet, afirmando que a origem do vírus era “natural” e que a possibilidade de manipulação laboratorial deveria ser descartada.
Mais tarde, a organização US Right To Know (Direito de saber, EUA) revelou (analisando e-mails obtidos através do acesso a informações públicas), que esta declaração foi escrita e orquestrada por Peter Daszak, um participante-chave no projeto de manipulação do SARS-2. Quando mais tarde, em 2020, o financiamento deste projeto em Wuhan foi brevemente suspenso, Daszak apresentou o fato à mídia como “um ataque à ciência”, o que era fácil de acreditar porque era a administração Trump. Daszak nunca deixou claro que centenas de cientistas sérios e responsáveis em seu país vinham pedindo muito antes disso, o fim deste tipo de pesquisa.
Depois de muitas perguntas não respondidas, no final de 2020, a OMS e a The Lancet, – separadamente – formaram comissões de inquérito sobre a origem do vírus, o que parece ser uma iniciativa sensata. Infelizmente, Peter Daszak conseguiu integrar as duas comissões, inclusive presidindo a da The Lancet, o que é uma loucura, já que Daszak é um dos principais atores que deveriam ser investigados.
Sendo ou não um vazamento no laboratório, é claro que os riscos deste tipo de pesquisa são inaceitáveis, injustificados em qualquer caso e devem ser proibidos em todo o mundo. Acidentes em laboratórios com altos padrões de biossegurança acontecem com muito mais frequência do que imaginamos. Desde uma mordida de um ratão até perfuração de agulha acidental ou o número de pesquisadores que têm acesso, sem treinamento suficiente, os riscos são múltiplos.
Outras hipóteses que apontam para a origem e propagação do SARS-2 – e outras doenças zoonóticas e pandêmicas, como a gripe aviária e suína – para as interações do sistema industrial alimentar e agropecuário, a destruição da biodiversidade, o aumento do transporte devido a acordos de livre comércio, sistemas de saúde deficientes e falta de acesso a água e alimentos saudáveis, não são descartadas. Elas são complementares e, de qualquer forma, amplificam os impactos. Apesar dos enormes investimentos públicos em empreendimentos corporativos de risco como vacinas geneticamente modificadas, as causas da pandemia seguem intactas, e as próximas estão se formando.
Tradução livre: Marciano Toledo
Edição: Mateus Quevedo
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