14 de fevereiro de 2020
As famílias camponesas do MPA-SE no Baixo São Francisco colheram 150 toneladas durante festa da “Colheita do Arroz”, evento celebrou a consolidação da transição do plantio do arroz convencional para o agroecológico.
Caio Barbosa
MPA Brasil | Brasília (DF)
A região sergipana do Baixo São Francisco é tradicionalmente uma área produtora de arroz nos moldes convencionais (com uso intensivo e descriminado dos agrotóxicos e fertilizantes químicos no plantio), essa região representa mais de 80% de toda a produção estadual. Entretanto, no meio do agronegócio da rizicultura, camponesas e camponeses do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA aceitaram o desafio de realizar neste local uma transição do cultivo do arroz convencional para o arroz agroecológico (que não utiliza agrotóxicos). Treze famílias dos municípios de Neópolis, Pacatuba, Própria e Ilha das Flores colheram nessa sexta-feira (14/02) 150 toneladas de arroz agroecológico do tipo agulhinha em 17 hectares de plantio, atingindo uma produtividade superior à média estadual.
O trabalho foi árduo, quatro anos de parceria entre camponesas e camponeses do MPA junto a Cáritas Diocesana de Propriá-SE que no último ano resultou no projeto “Dom Távora/Seagri/Fida”, fundamental para financiar parte do projeto de transição da produção convencional para a agroecológica. As famílias camponesas envolvidas no projeto comemoraram os resultados do plantio durante a festa da “Colheita do Arroz” que aconteceu na comunidade Betume em Ilha das Flores. A festa reuniu mais de 500 pessoas e contou com a presença de rizicultores, sindicatos, movimentos sociais da região, além de agentes públicos municipais e estaduais.
O grupo camponês do MPA semeou 17 hectares e colheu 150 toneladas, obtendo uma média de rendimento do arroz agroecológico de 8.6 t/ha. Eles conseguiram atingir um rendimento médio por área colhida superior à média estadual de colheita do arroz convencional. A média estadual da safra em janeiro de 2020 ficou em torno de 7.4 t/ha colhido de arroz convencional (com veneno) segundo dados nacionais do Sidra/IBGE.
Essa transição do plantio convencional para o agroecológico é uma ponta de esperança para os camponeses e para o meio ambiente nessa região do rio São Francisco. Para Mauro Cibulski, rizicultor e militante do MPA-SE, o projeto desenvolvido é de extrema importância para as famílias que sofrem com a exploração do agronegócio – os “atravessadores”. Ele comenta durante a entrevista que os empresários que financiam a rizicultura na região, usam o modelo tecnológico baseado no agronegócio e que isso gera uma dependência por parte do agricultor local “os empresários fazem o repasse de todo o insumo e agrotóxico que é necessário desde o plantio até a colheita. Com isso, o agricultor fica comprometido de entregar toda a produção para o empresário. Ou seja, quanto mais insumos usar mais o empresário vai lucrar” explica Mauro ao relatar a exploração que é feita aos camponeses.
O modelo de produção agroecológica desenvolvidas pelas 13 famílias camponesas além de ter uma produtividade maior que o convencional, reduziu o uso de agrotóxicos em mais de 90% na lavoura. José Raimundo um dos rizicultores do MPA que participou do projeto “Dom Távora” explicou “nessa produção do arroz agroecológico só foi usado defensivos orgânicos como o extrato da castanha com álcool, óleo de nim e a urina da vaca” ele comemora o controle de pragas feito durante o plantio que agride menos o meio ambiente [veja o depoimento de outros rizicultores do MPA-SE].
Agronegócio e o envenenamento do São Francisco
O Baixo São Francisco sempre foi um território que predominou a produção de arroz, antigamente a produção era realizada nas lagoas que se formavam do Rio São Francisco. Após a introdução do modelo praticado pelo agronegócio, o pacote tecnológico da famosa “Revolução Verde” inseriu na região um tipo de produção totalmente baseada no uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos. Com isso, nos últimos anos são utilizados inúmeros tipos de veneno no combate a praga e insetos que atacam a rizicultura. O resultado disso é o envenenamento de toda agricultura e do meio ambiente que margeia o rio São Francisco.
A intoxicação que chega as águas do rio, também atinge a população local. Segundo dados do Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos produzido pelo Ministério da Saúde mostram que a taxa de letalidade por intoxicação por agrotóxicos em Sergipe ficou em 18,52, a maior do país, em 2015. O relatório também mostra ainda que no período de 2007 a 2015, foram notificados no Brasil total de 84.206 casos de intoxicação por agrotóxicos – os agrotóxicos de uso agrícola representam uma média 36,5% do total.
Uma revolução agroecológica
“Hoje eu digo, não é experiência é uma realidade”, afirma com entusiasmo Mauro Cibulski ao falar do sucesso da produção do arroz agroecológico. Ele conta que no começo havia muita desconfiança na região e que até tinha quem torcia contra, mas a resposta chegou. A agroecologia além de ser benéfica ao meio ambiente e a população, também apresentou resultados importantes no quesito produtividade ao ser comparado com a produção convencional do agronegócio.
Porém, essa revolução agroecológica no Baixo São Francisco começou com um jovem militante do MPA. Em 2017 José Francisco dos Santos estava no 3º ano do curso técnico de Agropecuária da Escola Família Agrícola de Ladeirinhas (EFAL), localizada no município de Japoatã (SE) e desenvolveu um projeto de sistema agroecológico, como parte do seu trabalho de conclusão do curso.
O projeto foi desenvolvido com o apoio da sua família e o plantio agroecológico foi realizado em parceria com o MPA-SE. José e sua família plantaram 7 hectares em uma propriedade no município de Pacatuba, mais especificamente no Povoado Ponta de Areia. Já naquele período o plantio teve um excelente desempenho, quando comparado com o plantio convencional, algo confirmado novamente nesta produção e colheita realizado por intercâmbio do projeto “Dom Távora”.
Já foi comprovado algumas vezes pelos camponeses da região do Baixo São Francisco que é possível produzir arroz agroecológico e deixar de envenenar o meio ambiente e a população. O desafio agora é a comercialização e a continuação das ações com apoio do governo estadual. O camponês Mauro comenta que as 150 toneladas de arroz agroecológico colhido agora em fevereiro, será vendido em feiras, para movimentos parceiros e para órgãos públicos, como escolas e hospitais. Ele também explica que já existe o interesse de novos rizicultores em fazer a transição do plantio convencional para o agroecológico, porém para isso, é necessária uma política de estado que ofereça mais crédito, incentivos fiscais e um programa de comercialização do arroz sem veneno em nível estadual.
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