7 de fevereiro de 2022
Mateus Quevedo
MPA Brasil | Salvador (BA)
Não é mistério que a política agrícola adotada pelos últimos governos tem sido de privilegiar a produção de commodities, como soja, milho e carne, em detrimento dos principais alimentos que estão presentes na alimentação das famílias brasileiras.
O feijão, por exemplo, este ano deverá ter a menor área cultivada desde 1976, quando a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) iniciou o levantamento. Segundo a Companhia devem ser plantados somente 890 mil hectares. O arroz e a mandioca também estão com as menores áreas de plantio registradas e isto afeta diretamente os preços, aumentando a inflação.
Preocupados com isto procuramos o professor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, Sílvio Porto, que foi já foi diretor da Conab, para entender melhor como isto pode aumentar a carestia desses alimentos e o aumento da fome no país.
“O governo zerou os estoques reguladores, não há estoques de arroz e não existe por parte do governo federal nenhuma intenção de retomar a política para formação de estoques públicos. Além disso, não há uma política de fomento à produção de alimentos básicos, a exemplo do arroz, feijão e mandioca”, revela Porto.
Ainda sobre o arroz, Sílvio diz que, segundo dados da Conab, o Brasil perdeu na última década mais de 1.100 mil hectares da área plantada. Hoje, o Brasil tem 1.665,7 mil hectares, essa redução da área plantada de arroz de 2011 para cá é equivalente a 60% da área plantada de arroz na última safra.
“Nós temos redução de área, estagnação na produção, aumento das exportações e não há estoques reguladores. Isso, em boa medida, essa explica o problema que o país vem enfrentando, em relação a alta dos preços e a inflação dos alimentos”, acrescenta. Segundo o IBGE, no ano passado a inflação da mandioca foi de 48.1%, a segunda maior taxa entre os alimentos, perdendo apenas para o café moído.
Segundo Sílvio, as áreas reduzidas das culturas de arroz, feijão e mandioca demonstram que a agricultura familiar camponesa tem perdido espaço para o agronegócio. O grande problema está “exatamente em função dos preços, primeiro da soja, agora também do milho, tendem a ocupar substituir as áreas antes destinadas ao plantio de alimentos básicos, prioritariamente destinados a abastecer o mercado nacional”, demonstra.
Porto, também chama a atenção para a questão climática: “Nós temos o problema de quebra de safra, primeiro devido à redução de área (provocado sobretudo pelo crescimento da área de soja), agora, em função dos problemas climáticos, quebra de safra por causa da estiagem no Sul e possíveis quebras de safra ou perda de qualidade do feijão que será colhida em Minas Gerais, em função do excesso de chuvas”.
Um projeto de lei (PL 19/2022), que apresenta algumas medidas emergenciais para mitigar os impactos da estiagem e das enchentes para a agricultura familiar camponesa foi protocolada quarta-feira passada, 2 de fevereiro, na Câmara dos Deputados em Brasília. Há também a Lei Assis Carvalho II que prevê socorro aos agricultores familiares, mas que ainda não foi cumprida pelo governo federal. Ambas podem ajudar na oferta de alimentos.
Segundo Sílvio Porto, “estamos diante de problemas estruturais, somados a inação do governo, por um lado, e a adoção de políticas equivocadas de outros, como as políticas agrícolas e econômicas, somados aos impactos da pandemia, conduziram o país ao aumento diante da fome, da miséria, do desemprego e o aumento do custo de vida. Diante desse quadro dramático que o país está passando, é fundamental a ação do Estado brasileiro, não há como reverter essa situação pela via do mercado”, conclui.
Vale lembrar que “O MPA alertou que a irresponsabilidade de Bolsonaro e Guedes iria aumentar a fome, a inflação dos alimentos, plantaram ventos e o povo vai colher tempestades” acrescenta Frei Sergio Gorgen sobre a explosão da carestia e o aumento da fome que se avizinha.
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