29 de abril de 2021

A greve do leite no estado de Rondônia acontece a mais de 40 dias, o preço sugerido pelo governo não paga os custos de produção e pequenos produtores têm prejuízos

Jeiéli Laís e Kevin Tomé
La Via Campesina | Porto Velho (RO)

A greve do leite no estado de Rondônia teve duração de mais de 40 dias. Desencadeada inicialmente em alguns municípios como Machadinho do Oeste e União Bandeirantes, distrito de Porto Velho, por conta dos baixíssimos preços pagos no litro do leite pelos grandes laticínios aos produtores.

Em nota, a Via Campesina em Rondônia apresenta que o “desfecho proposto pela ALE-RO e governo do estado em exigir somente que o laticínio coloque no rodapé da nota o preço mínimo a ser praticado no próximo mês não resolve a questão”. Para a organização “é preciso garantir a compra institucional dos alimentos produzidos pela agricultura camponesa familiar, incluindo o leite e seus derivados, inclusive priorizando as pequenas agroindústrias”. A organização cita como exemplo os pontos do Projeto de Lei 823/21 em tramitação no congresso que garante o direcionamento do PAA e o PNAE para compra da produção camponesa e ainda a criação de linhas de crédito rural no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), além de instituir o Programa de Atendimento Emergencial a Agricultura Familiar (PAE-AF). O PL 829/21 é uma nova versão do PL 735/2020 que continha praticamente os mesmos pontos e que foi aprovada pelo Congresso mas, teve vetos do presidente Jair Bolsonaro. A Via Campesina defende que o PL 823/21 poderia  “amparar as famílias camponesas e mitigar os impactos socioeconômicos advindos da crise”.

A paralisação ganhou força por todo o estado nos últimos 10 dias, mas o preço justo pelo leite e pela produção é uma luta antiga dos camponeses e camponesas. Trabalhadoras e trabalhadores do campo e da cidade aderiram e manifestaram apoio à greve, motivados pela crise atual que se aprofunda, pela má gestão do governo federal com a pandemia da COVID-19, pelo desemprego crescente, a desvalorização do salário mínimo, o corte no auxílio emergencial para menos da metade do valor inicial, a inflação no preço dos alimentos nos mercados que tem levado cada dia mais famílias trabalhadoras no campo e na cidade ao total desamparo, a situação de insegurança alimentar, além da fome aguda e à morte.

Somando-se a isso, o aumento da conta de energia, da gasolina, do gás, de insumos veterinários e agrícolas, ao mesmo tempo que ocorre total desvalorização do preço da produção e a falta de abandono à agricultura camponesa familiar pelos governos federal e do estado de Rondônia. O pequeno e médio trabalhador rural estão de fora das políticas públicas , encarecendo a produção e a vida das famílias no campo e trazendo prejuízos, enquanto a fome no país avança a cada dia. 

Em razão de todo o exposto, os movimentos sociais do campo e entidades que compõem a Via Campesina em Rondônia manifestam apoio à greve do leite em nota publicada no último dia 22/04, e com a adesão de camponeses e camponesas de sua base em todo o estado. Em vários municípios, as manifestações organizadas pelos movimentos (MPA, MST e MAB) aconteceram através da doação da produção de leite, que não foi entregue às grandes empresas, e sim às famílias urbanas. As doações ocorreram nos municípios de Nova União, Ouro Preto do Oeste, Ji-Paraná, além de Machadinho do Oeste, Teixeirópolis, Alta Floresta, Mirante da Serra, Alto Paraíso, Tarilândia, Vale do Anari, Ariquemes, Cabixi, Colorado, Alto Alegre dos Parecis.

A pequena produtora Leila Denise, que é dirigente da Via Campesina em RO, comenta que “sem o fim do monopólio das grandes empresas e sem políticas públicas de incentivo a produção de alimentos e que melhorem a distribuição de renda a população (auxilio emergencial, emprego) a crise do preço dos alimentos e especialmente do leite seguirá a mercê do mercado, e a cada greve fecharam mais pequenas unidades, assim concentrando a produção na mão de grandes empresas, deixando as pequenas indústrias sem opção de concorrência e paga só o preço que quiserem.”