27 de março de 2021
Thais de Jesus
MPA Brasil | Viçosa (MG)
A VI Escola Camponesa da Memória teve início no último domingo (21) e contou com a participação da juventude organizada do MPA de quase todo o Brasil. O evento aconteceu via plataforma Zoom e foi transmitido pelas redes sociais do MPA. A responsabilidade de mediação foi cumprida pelos companheiros Daniel de Rondônia e Núbia Rocha de Roraima.
Construiu-se um diálogo a partir do tema DITADURA MILITAR E OS POVOS DA AMAZÔNIA. Com as contribuições das companheiras: Leonilde Sérvolo de Medeiros, coordenadora do Núcleo de Pesquisa, Documentação e Referência sobre Movimentos Sociais e Política Públicas no Campo, do CPDA/UFRRJ e membro do Observatório de Políticas Públicas para a Agricultura (Oppa) da mesma instituição; Angélica Mendes, bióloga, doutora em Ecologia, ativista socioambiental e voluntária no comitê Chico Mendes e Dorismeire Almeida de Vasconcelos, leiga consagrada da Ordem Franciscana Secular, graduada em Letras e Especialista em Linguagem e Ensino pela Universidade Federal do Pará, ativista socioambiental atuando junto a vários movimentos sócio ambientais do Xingu, na Articulação do Comitê REPAM Xingu, referência do Eixo Direitos Humanos e Incidência Internacional REPAM Brasil no Xingu, Animadora Laudato Si, auditora do Sínodo Especial dos Bispos para Amazônia (2019).
Em 1950 os grandes proprietários de terra já dispunham de organizações empresariais bem estruturadas e articuladas. Alinhados as demandas da modernização agrícola, combatiam sem trégua a luta por reforma agrária, com o apoio do Estado.
“O Estado argumentava que precisava dar segurança ao campo primeiro para depois fazer reforma”, disse Leonilde. E assim, favorecia estrategicamente a formação da elite empresarial rural brasileira, que ao mesmo tempo se articulava na política.
A política do governo militar para a questão fundiária era de executar a demanda dos setores empresariais. A dimensão da reforma agrária foi sendo posta de lado com o passar do tempo. Houve um aprofundamento com o governo Médici. Período de criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater), peças chaves para implementação da revolução verde no país.
Médici trazia a bandeira: Terras sem homens para homens sem terra. Passando a imagem de uma Amazônia sem habitantes. Para que assim pudesse ceder tais terras aos colonos do sul do Brasil. Porque colonos do sul? Para imposição de uma cultura considerada aceitável e como estratégia de execução de um projeto de desenvolvimento a partir da industrialização, que assim como na Amazônia aconteceu também no Cerrado com a expansão da soja e em outros biomas.
Muitas comunidades indígenas morreram por contato com brancos, por doenças ou por serem simplesmente massacrados. “A repressão no campo se fez fundamentalmente pelo privado. Ganhavam terras na Amazônia e contratavam jagunços pra fazer a limpeza da terra”, afirmou Leonilde. Segundo ela, esse tipo de repressão tem um aceno hoje para crescer muito, devido a imagem do Bolsonaro que dá o aval legal para a população se armar.
Angélica, neta de Chico Mendes, seringueiro desde os 8 anos de idade, grande mártir da história do povo brasileiro, pontuou sobre a importância da educação emancipatória na construção de sujeitos participativos. Relatou sobre o impacto do encontro entre Chico Mendes e Euclides Távola, jornalista refugiado na Amazônia perseguido por fazer parte da Coluna Prestes. Euclides proporcionou a Chico a possibilidade de se alfabetizar de forma crítica e emancipatória. O que lhe muniu com todas as armas que precisava para lutar em defesa não só da Amazônia, mas do planeta Terra. Sofreu ameaças de morte, mas decidiu que não pararia de lutar.
A extração ilegal de recursos naturais da Amazônia e de outros biomas do país, a mineração, as hidrelétricas, os homicídios das lideranças são banalizados, vistos como se fossem normais.
É preciso colocar a Amazônia e o meio ambiente como pautas primárias. Temos pouco tempo para parar esse processo de destruição da Amazônia. O caminho não está no desenvolvimento industrial. Não acreditamos no desenvolvimento, mas no envolvimento como disse Dorismeire. É necessário considerar a sabedoria ancestral e popular e priorizar uma relação harmoniosa com a terra. Não existe desenvolvimento econômico se os povos não são consultados. Nada vindo de cima pra baixo possibilita transformação. O povo deve participar da construção e só o povo amazônico pode dizer o que é viável para a Amazônia.
A Amazônia tem povos, tem línguas, tem costumes. É preciso entender o que é a Amazônia e a sua importância para a humanidade. A resistência só acontece através da educação e da organização em cada base. Nós brasileiros só vamos existir se nos reconstruirmo-nos da nossa história.
E é nesse sentido que a juventude do MPA reafirma a importância de reconstruirmos a memória da Amazônia e do nosso país para entendimento e construção das formas e estratégias de luta. É nossa tarefa resistir e seguir lutando para construção de uma sociedade com justiça social e climática.
Acompanhe a VI Escola Camponesa da Memória pelas redes sociais. Os próximos encontros acontecerão nos dias 28 e 31 de março e 1° de abril de 2021.
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